As 50 Melhores Músicas de 2018
Que ano maravilhoso para a música.
Vimos uma dupla de artistas reencontrarem seus melhores dias, uma diva lançar o trabalho de sua carreira, uma outra diva conquistar esse apelido, uma futura rainha do rap surgir, a melhor boyband desde One Direction finalmente atingir o sucesso que buscavam, um rapper já bastante conhecido ampliar seu reinado e uma quantidade absurda de excelentes lançamentos que não deixaram o ano ficar parado em momento algum.
Sem mais delongas, estas são as 50 melhores músicas de 2018.
50
Frank Ocean
“Moonriver”
É praticamente impossível nomear um cover como um dos destaques do ano, mas uma releitura como essa vale a menção. “Moonriver” teve diversas releituras e covers ao longo de quase 60 anos desde o lançamento de “Bonequinha de Luxo”, filme no qual a canção foi eternizada por Audrey Hepburn. Contudo, pela força melódica da canção, poucas dessas tentativas preocuparam-se com sua energia e atmosfera como Frank Ocean. Sua releitura de “Moonriver” é atmosférica, contemporânea e emotiva. Sublime, discreta e tocante. Soa como o que Hepburn gostaria de cantar se tivesse nascido na geração Y, e apenas o fato de o cantor estar levando uma nova geração a este clássico, já merece reconhecimento.
49
Lana Del Rey
“Venice Bitch”
É impressionante a liberdade que Lana Del Rey parece ter em relação a sua música. Talvez tenham sido as boas vendas no início da carreira, ou a conquista de uma legião fiel de fãs, mas o fato é que ela parece navegar na direção que deseja, e tem mostrado amadurecimento em suas empreitadas. O último exemplo disso é “Venice Bitch”. A faixa é, seguramente, sua primeira faixa de rock progressivo, e o faz muito bem. São 9 minutos que passam rápido, numa mistura de guitarras, sintetizadores e vocal. Uma música para se andar de carro sem pensar em nada.
48
Bradley Cooper & Lady Gaga
“Shallow”
Talvez a grande favorita a ganhar o Oscar de Melhor Canção Original, “Shallow” não é uma novidade para quem acompanhou todas as muitas fases de Lady Gaga, mas esse não é o caso de boa parte do público que assistiu à “Nasce Uma Estrela”. “Quem diria que ela cantava tão bem”, basta a ir em qualquer sessão do filme e você vai ouvir essa frase. Mas, particularmente, o mais impressionante da canção são os excelentes vocais de Cooper que se completam aos dela com toda a química que os fizeram o casal mais amado de 2018.
47
Drake
“Nice for What”
Em sua totalidade um dos muitos hits que Drake emplacou em 2018 não inova conceitualmente no que ele vem feito ultimamente. Porém, um sample de Ms Lauryn Hill que é completamente hipnotizante é o fundo perfeito para o rapper desfilar suas habilidades tão universalmente apelativas na era em que vivemos. Pode ser que não tenham letras e um flow marcante ou qualquer coisa, mas o conjunto da obra é simplesmente irresistível.
46
Mac Miller
“Self Care”
“Swimming” foi com certeza o ápice da evolução musical de Mac Miller, e também o ápice de sua infelizmente curta carreira. Mais investido em suas emoções, Mac conseguiu transmitir uma vulnerabilidade até então não vista em suas músicas. “Self Care” tem como foco o auto descobrimento. Sua batida carrega junto à voz de Miller um certo desespero que seduz, até sua transição trazer um pouco de paz com a produção levemente psicodélica. Ironicamente, ao encontrar paz, Mac canta ‘’I got all the time in the world / So for now I'm just chillin’’. É poético, o que deixa tudo ainda mais triste.
45
Shawn Mendes
“Lost In Japan”
Shawn Mendes definitivamente saiu de sua zona de conforto ‘’baladas para adolescentes’’ em seu novo álbum auto-intitulado. Trazendo mais gêneros e os misturando, a prova clara dessa evolução de Mendes como artista vem com “Lost in Japan”. Misturando um pouco de Funk e R&B ao Pop, a track é extremamente atmosférica e contagiante, contando com uma ótima linha de baixo e ótimos vocais de Shawn, brindados por um belo vídeo inspirado em “Encontros e Desencontros (Lost In Translation)”.
44
Young Fathers
“In My View”
Na música mais memorável de “Cocoa Sugar”, até o que parece errado, está certo. A mixagem estranha, o fim brusco. O Young Fathers chegou no topo de sua mistura de estilos, texturas e ritmos no último disco, e “In My View” é o melhor exemplo disso. Com riffs vocais densos e um tom baixo, é uma canção que consegue executar de forma coesa uma ideia ousada.
43
Nicolas Jaar
“This Old House I Have”
Nicolas Jaar trabalha em cima da bizarrice sob o codinome de Agaist All Logic, essa faixa de entrada é sem dúvidas uma das faixas mais bizarras do disco, o ínicio é completamente distorcido, e as vozes - também distorcidas - e tiros de canhão dão contraste ao instrumental funk que dão seguimento a música.
42
Jon Hopkins
“Emerald Rush”
Um arpejo despretensioso e um piano pianissimo, ah, quase ninguém brinca de Brian Eno como Jon Hopkins, a faixa é encantadora do início ao fim com o andamento lento do início sendo sutilmente substituído por um uma batida de techno, quebrando totalmente a ideia que o ouvinte tem ao início. Dificilmente boa música eletrônica chega ao mainstream, “Emerald Rush” é apenas mais um exemplo.
41
Let’s Eat Grandma
“Ava”
Uma jóia despercebida do excelente álbum “I’m All Ears”, “Ava” conta uma triste e esquisita história sobre um amor que nunca aconteceu, que, como muitos outros, parece ter escapado por uma simples atitude não tomada. É uma música ao mesmo tempo arrependida e conformada, como que no ponto mais crítico entre ambos os sentimentos e agraciada com toda a estranheza musical do grupo com o nome mais eclético do cenário atual.
40
Saba
“Prom/King”
O ótimo álbum de Saba, “CARE FOR ME”, o colocou no panteão dos grandes artistas novos de Chicago, que atualmente desbanca Atlanta, Nova York e a Califórnia inteira como capital do hip-hop. Apesar de seu single com o também nativo Chance The Rapper, “LOGOUT”, ser ótimo e não ter hitado por qualquer motivo, é no pré fechamento que ele demonstra todas suas habilidades.
Em “PROM” ele conta uma longa e detalhada descrição da noite da festa, onde se aproximou de seu primo Walt e quase foi morto e em “KING”, ele detalha o dia em que seu primo fora assassinado. São sete minutos de pura rima e um peso crescente, é possível sentir a dor em sua voz e as histórias são tão bem contadas que você é quase transportado para dentro delas.
39
Earl Sweatshirt
“The Mint”
O segundo single lançado de “Some Rap Songs” é um dos poucos momentos do álbum onde um raio de luz entra no mundo de escuridão que cerca Earl Sweatshirt. Suas rimas são concisas, a produção traz memórias, mas tudo o de mais impressionante está no que ele esconde por trás das palavras.
Talvez Earl nunca venha a sair de seu mundo e adentrar ao nosso, mas faixas como essa nos trazem ao menos um pouco de esperança.
38
Jid feat. J. Cole
“Workin Out”
A produção de J Cole aqui é simplesmente divina, a beat floresce num mellow jazz que completa a voz de J.I.D como quase nenhuma faixa fez antes disso.
Assim como todas as outras beats desse disco, são graves e com poucos elementos, mas alguns nuances aqui como o baixo mais trabalhado e a intro mais ritmada dão o destaque.
37
Jpeg Mafia
“Baby I’m Bleeding”
JPEGMAFIA é ácido sempre que toca em um microfone. Inicialmente intitulada “Black Kanye West”, um dos singles de seu excelente álbum, “Veteran”, ele coloca toda sua raiva sobre uma produção caótica, insana, que mistura um sample barulhento com sons robóticos e serve como o espaço perfeito para suas letras.
É difícil acreditar que um som tão desafiador venha a fazer sucesso um dia e por mais que JPEG fale que é a nova Beyoncé, pouco depois ele próprio assume que nunca vai ficar loiro como Kanye, ou seja, talvez nem ele próprio saiba se quer esse sucesso ou não. Sua faixa, no entanto, é algo deliciosamente difícil de digerir.
36
Kacey Musgraves
“High Horse”
Fugindo um pouco do Country propriamente dito e da imagem de cantora e compositora com seu violão, Kacey Musgraves demonstra uma pluralidade de qualidades.
Tanto sua voz, que dá conta de uma faixa pop inesperada dentro de um álbum predominado por um Country arrastado, quanto em questões de performance como um todo, com ela dominando a batida mais acelerada e criando expectativas altas para seu futuro.
35
Rae Sremmurd
“Powerglide”
Dois anos após o sucesso estrondoso que foi “Black Beatles”, o duo de Atlanta pode ainda não ser um nome certo no cenário do rap, mas eles já provaram que realmente sabem fazer um hit. “Powerglide” não revigora em quase nada a fórmula que eles usam desde “Black Beatles”, mas é praticamente irresistível.
A produção bombástica, preparada para as festas, versos energéticos de Juicy J e Slim Jxmmi e a voz mais do que contagiante de Swae Lee, que emprestou seus vocais para praticamente todos os álbuns de rap em 2018. É simplesmente impossível não ser levado junto quanto esse single toca.
34
Nicki Minaj
“Barbie Dreams”
Utilizando uma batida clássica de Notorius B.I.G., onde ele falava em como gostaria de ficar com as várias cantoras de R&B da época, Nicki inverte o jogo e "ataca" seus contemporâneos de uma maneira que eles nunca poderiam responder.
É um show de habilidade e de inteligência da rapper, que encaixa todas as suas rimas com um flow ácido, que preenche perfeitamente o tempo da batida. É uma das disses mais divertidas de todos os tempos e um dos melhores singles da carreira de Minaj.
33
Noname
“Prayer Song”
Noname, conforme “Room 25” vai se apresentando a nós, se coloca no nível mais alto do cenário do rap atual.
A facilidade com que ela disfarça verdades extremamente diversificadas e polêmicas relevantes atrás de sua voz aconchegante é surreal e em “Prayer Song”, ela acha o balanço perfeito de suas habilidades inovadoras. Ela relaciona sexo com política, acha espaço para infiltrar ideias sobre religião, e no refrão apenas pede para que sua mãe não se esqueça dela.
Talvez seja a forma como ela demonstra toda sua emoção sem precisar se exaltar ou forçar qualquer mudança em sua voz que seja tão hipnótico, talvez seja seu controle sobre a batida recheada de jazz ou talvez ela só seja transcendentalmente talentosa mesmo.
32
Anderson Paak
“Bubblin”
Apesar de não ter entrado em “Oxnard” e de o mesmo ter diversas faixas com tudo que Anderson Paak oferece de melhor, seu primeiro single do ano talvez seja sua maior conquista.
Ele sai um tanto de sua zona de conforto, parecendo estar, em uma das poucas vezes da carreira, com uma energia mais agitada, sem aquele semblante de alegria e proveito que toma conta do seu trabalho.
31
Tyler, the Creator feat. Rocky
“Potato Salad”
Que figura é Tyler, the Creator. Em uma de suas muitas faixas isoladas que lançou durante o ano, ele dança e se diverte com A$AP Rocky e Jaden Smith, em Paris.
“Potato Salad” é alegremente contagiante. Quase uma conversa despretensiosa entre Tyler e Rocky em cima de uma antiga batida de Kanye (“Knock Knock - Monica”), ambos os rappers falam sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Assim, com seus flows rápidos, em frente a torre Eiffel sem nenhum motivo aparente “Potato Salad” é um dos singles mais divertidos do ano.
Talvez passe despercebido em meio a faixa, mas seu principal momento é quando ele relembra o hit de Kanye West e Jay-Z, afirmando que, mais uma vez, os negros estão em Paris.
30
MGMT
“When You Die”
A psicodelia dos meninos do MGMT deu uma aliviada desde 2010, e desde então o mais perto que chegaram das faixas altamente abstratas do segundo álbum “Congratulations” se encontram em Little Dark Age. “When You Die” é um exemplo perfeito de como o duo nova iorquino nasceu definitivamente na década errada.
29
Low
“Dancing and Blood”
O novo álbum do Low é muito mais um exercício de exploração musical e sonora do que um disco para se ouvir casualmente. É uma viagem, e a faixa cuja turbulência é mais forte é “Dancing and Blood”. Arrojada, pujante e tensa, gera um desconforto e o remedia com precisos alívios melódicos. Uma das canções mais maduras da banda e que mostra seu potencial em alto nível de execução.
28
Ariana Grande
“get well soon”
Que ano complicado teve Ariana Grande. Musicalmente, o melhor, pessoalmente, o mais conturbado. Emplacou seu maior hit e lançou um excelente álbum, mas terminou seu noivado e viu seu amigo e ex-namorado Mac Miller partir.
A cereja desse bolo mínimo e corajoso que se chama “Sweetener” é a última faixa: “get well soon”. Tem a melhor mensagem, a produção está mais cuidadosa e uma entrega muito satisfatória de Ariana, surgindo de um piano ritmado e uma cama de snaps, apenas, e vai crescendo linda e gradualmente. O refrão vem tarde, mas vem com força e é a passagem mais bonita do álbum inteiro, é quase como se todos os nuances se juntassem em um refrão de 30 segundos.
27
Vince Staples
“Feels Like Summer”
Vince ainda não lançou o single que vai fazer com que ele exploda nas paradas, ou um que seja tão carismático e magnético como a personalidade que ele traz, mas ainda, assim, é um dos melhores rappers em atividade.
Sua habilidade em contextualizar as histórias de sua vida são mais uma vez ressaltadas na abertura e destaque de “FM!”. Sua voz é carregada, a batida é praiana, o contraste é fenomenal. Ele e seus amigos, afinal, só querem festejar até que o sol, ou as armas, apareçam
26
Rosalía
“Malamente”
Em um mundo onde a música latina apenas cresce, Rosalía tenta fazer seu nome sem se vender a tendências que já se alastraram por todo o mainstream.
Rosalía tem uma habilidade pouco comum no mundo da música. Ela consegue inserir no R&B norte-americano tradicional diversos elementos da música espanhola em um crossover que apresenta toda sua potência vocal e mostra que ela tem força para fazer sucesso fora de seu país natal.
A profundidade de seu trabalho talvez seja demais para o público geral, o que é uma pena.
25
Denzel Curry
“ta1300”
Denzel Curry lançou um dos melhores projetos de rap do ano e finalmente está recebendo algum reconhecimento. Ainda não é um hit ou algo que vá fazê-lo ser um headliner no Coachella, mas claramente mostra um avanço artístico e comercial em seu trabalho.
A faixa título e de abertura de seu novo projeto conta uma das histórias mais sinistras já contadas em uma música de rap, tocando em diversos tabus sociais pouco comuns. Mais estranho ainda é o groove leve da faixa, que deve pegar os ouvintes mais despretensiosos de surpresa quando Denzel contar, de forma enigmática, fatos obscuros sobre sua vida.
24
Kali Uchis
“After The Storm”
Fazer um álbum bom não é algo fácil, agora fazer um álbum bom que ainda consegue gerar hits é uma tarefa hercúlea nos dias de hoje. “Isolation”, tem uma mão cheia deles, mesmo que não tenham sido, bem hits.
“After The Storm”, com Tyler e Bootsy Collins é o melhor single saído do projeto e o fato de não ter estourado nas paradas é uma pena.
23
Emicida
“Pantera Negra”
Para muitos o melhor rapper brasileiro, Emicida fez algo que nenhum outro pode dizer que fez: rimou melhor que Kendrick Lamar em um tema que o próprio escolheu rimar.
“Pantera Negra”, o filme, foi um sucesso absoluto mundo a fora, sua trilha sonora está indicada para o Grammy de Álbum do Ano e talvez atinja o Oscar, mas a melhor música referenciando o herói este ano é facilmente a auto-intitulada de Emicida.
Com um show de referências, uma produção engrandecedora e evocativa e um refrão estrondoso, a faixa é facilmente uma das melhores demonstrações de habilidades no rap em 2018.
22
Courtney Barnett
“Need a Little Time”
Essa é provavelmente a gravação mais pop da carreira de Barnett.
Contudo, sua personalidade e seu estilo fazem com que uma sonoridade mais acessível feita pela australiana, ainda assim, soe crua e rebelde. “Need a Little Time” é um throwback a algumas das melhores faixas do pop rock dos anos 90. Lembra Pixies, Alanis Morissette e The Cranberries numa tacada só, e é o tipo de música que você vai demorar bastante pra enjoar.
Courtney pode não fazer sucesso nas paradas gerais, mas dentro de sua área é provavelmente a maior hitmaker em atividade.
21
Snail Mail
“Pristine”
Uma das maneiras mais assertivas para se indicar a música de Snail Mail é perguntar à pessoa: você gostou do filme Lady Bird?
Em “Pristine”, a artista traz consigo a influência do indie rock do início dos anos 2000, mas mantém a energia que parece ter se perdido no gênero. Os vocais de Lindsay são afiados e enérgicos, e a instrumentação que a acompanha levam a música a seu potencial máximo.
20
Baco Exu do Blues
“Kanye West da Bahia”
Baco Exu do Blues deu vida a um dos maiores álbuns no nosso país em 2018. Bluesman é o reflexo de um Brasil racista em forma de poesia, Jazz, Samba, Blues, Hip Hop, e Kanye West da Bahia pode se entender como um tributo, uma analogia e uma metáfora ao mesmo tempo. Baco, acompanhado de uma intrumentalização infestada de sax, que acompanham a fúria e grandeza de sua letra se proclama o negro mais odiado que você vai ver (claramente fazendo uma analogia entre ele e Yeezy) e diz: ‘’agora eu te entendo Kanye, Ser preto não é só ter pele, Coisa que joalheiro entende’’. Baco não se censura por algo mais comercial, e isso fica claro na maravilha que é ‘’Kanye West da Bahia’’
19
Jean Grae e Quelle Chris
“My Contribution to This Scam”
Na verdade essa faixa é tão visceral que é complicado de explicar. Além de ser um ataque ironizando absolutamente o mundo inteiro, a produção da um passo para trás, sendo o mais minimalista possível para destacar ainda mais a versatilidade de Jean Grae e Quelle Chris que rimam de forma atônita, quase inconsciente, e extremamente hipnotizadora.
18
Mormor
“Heaven’s Only Wishful”
Há algo na água do Canadá nessa década.
Mormor pode muito bem ser o próximo nome do país a dar sua cara para o R&B, mesmo não tendo lançado nenhum grande projeto ainda. Sua melhor faixa, até então, é essa maravilha, onde ele desfila seus talentos vocais sobre a incansável batida.
Ao final, sua voz é distorcida de forma quase agoniante enquanto ele repete três frases que funcionam independente da ordem que você as ouve. É quase mágico.
17
Mitski
“Two Slow Dancers”
O encerramento de “Be the Cowboy” poderia ter sido um hino pop, um hit pronto. Mitski optou por guardar a mais longa faixa de um disco cheio de músicas curtas, para o final. “Two Slow Dancers” é um dos cortes mais intimistas da carreira da cantora. Uma faixa minimalista, voz e sintetizadores. A influência dos anos 80, de artistas como Kate Bush e New Order, é notória, assim como a de artistas mais recentes como Florence Welch. Em seu último disco, Mitski prova que sabe fazer, e bem, quase tudo. Inclusive, entregar seu coração e sua alma com sua voz.
16
Pusha T
“The Games We Play”
Pusha T faz questão de ressaltar o quão hood ele foi durante toda a sua vida, e faz isso melhor que praticamente todos os rappers da história.
“The Games We Play”, uma das muitas excelentes faixas de seu novo álbum, “Daytona”, traz uma excepcional e retrô produção de Kanye West, que oferece o espaço perfeito para os versos sempre concisos e ácidos de Pusha, falando sobre o que ele sabe falar de melhor. São os jogos que ele está acostumado a jogar, afinal.
O contraste entre a produção e a energia que ele entrega é excelente, com ele mal se importando se vai encaixar na batida ou não. É uma desunião que funciona não sei bem explicar como.
15
Janelle Monáe
“Screwed”
É impressionante que “Screwed” não tenha sido lançada como single de “Dirty Computer”, ao menos, não até agora. A faixa possui um dos melhores grooves do álbum, uma letra que tem muita força, sem deixar de ser boa de cantar junto e no geral, todos os elementos para ser hit.
Essa é uma das faixas mais vivas e alegres do álbum mais pra cima da carreira de Monáe. Desde o riff de guitarra ao excelente verso de rap no final, em um ótimo álbum, esse é um dos melhores momentos.
14
Blood Orange
“Holy Will”
Blood Orange é um dos artistas mais talentosos sem o devido reconhecimento por aí, construindo em toda sua carreira um corpo de trabalho recheado e consistente.
O ruído branco, é grande parte e também instrumento de Negro Swan, inclusive abre a faixa aqui em destaque, depois do clímax construído pelo white noise. É tudo muito claro e nítido, a guitarra clean e os vocais em falsete de Ian Isiah dão a faixa um clima quase religioso.
Talvez ele nunca atinja o sucesso que merece, talvez seja melhor assim.
13
BROCKHAMPTON
“Honey”
Brockhampton voltou em 2018 com a mesma cautela de sempre, fazer algo tão desafiador e chocante que não poderia passar despercebido.
Com produções mais bem pensadas e mais maximalistas, “Honey” é um bom exemplo de como as vezes; mais é mais. O baixo monotonal acompanha o ritmo dançante irresistível; o verso de Dom McLennon é talvez o ponto mais alto do álbum, que já emenda com o sample de “Dance For You” de ninguém menos que Beyoncé.
Como em suas melhores músicas até agora, é um tour de force, irresistível e cheia de cores.
12
Serpentwithfeet
“bless ur heart”
Anos atrás, Frank Ocean, de seu próprio jeito, influenciou uma geração de compositores a deixarem as meias palavras de lado e despedaçarem seus sentimentos no papel. Serpentwithfeet, dono do melhor e pior nome artístico do mundo, é claramente dessa geração.
Ele só quer encontrar um parceiro perfeito, com quem possa falar sobre o amante perfeito que tanto lhe ensinou, mas que não está mais com ele. Ao final, você descobre que ele estava falando de outro homem, mas isso não soa mais como um plot twist do que um maior entendimento de uma das letras mais bonitas da década.
11
Travis Scott
“Sicko Mode”
Defina banger.
“Sicko Mode” é uma bomba de energia, criatividade, auto estima e bons versos. A terceira colaboração de Travis Scott e Drake não tenta ser profunda, complexa ou exploradora, apenas tenta ser o que é, um hit estrondoso.
A produção absurdamente agressiva e psicodélica alterna entre 2 segmentos no instrumental, performados por Drake e Travis respectivamente. O casamento perfeito desses dois segmentos fazem dessa música essa fórmula perfeita de energia e intensidade.
10
KIDS SEE GHOSTS
“Reborn”
“Kids See Ghosts” é o álbum mais surpreendente do ano. Um retorno a forma para Kid Cudi e uma aventura inusitada até mesmo para Kanye West e é surreal que funcione tão bem.
Ambos estão no topo do seu jogo aqui. Seja pelos vocais de um ou pelos versos de outro, “Reborn” é um pedido de desculpas, uma afirmação e um conselho a quem quer que escute. O fato da música ser um grande loop não a torna repetitiva, com o refrão de Cudi ganhando mais força a cada vez que recomeça.
Acompanhada de uma produção repleta de camadas e que entende bem o tempo dos vocais, é uma das faixas mais reconfortantes da carreira de ambos artistas.
9
Robyn
“Missing U”
Oito anos depois de convidar a todos nós para dançarmos sozinhos, juntos, “Robyn” decidiu que era hora de remendar os estragos.
O primeiro single de “Honey” serve como uma continuação espiritual e lógica para seu hino de 2010. Ela continua pegando muito da música disco e dos anos 80, alternando sintetizadores minimalistas e grandiosos em volta de uma batida que por boa parte do tempo passa imperceptível. Mais uma vez, é uma produção emotiva, sensual, mas quase robótica, com sua voz oferecendo a parte humana que a canção precisava para funcionar.
Também como uma carta para seus fãs, que esperaram tanto, “Missing U” é uma bela e maravilhosamente produzida dedicatória.
7
Noname
“Self”
Mais que uma música, Self é uma afirmação de diversas coisas. Uma delas é a confirmação de Noname como um dos maiores nomes do Rap hoje. Ela não precisa esbravejar letras, ou que a produção seja algo tão excepcional que se sobreponha ao seu flow extraordinário. A voz dela é aconchegante, faz bem ao ouvido, e acompanhando isso está suas letras extremamente poéticas carregadas com verdades contemporâneas.
Como ela mesmo cita, sabendo que está fora da cena mainstream musical (ainda) ‘’Maybe this the album you listen to in your car when you driving home late at night Really questioning every god, religion, Kanye, bitches’’ ela rima da forma mais natural possível, e arranca um sorriso ao perguntar a quem escuta ‘’Y'all really thought a bitch couldn't rap huh?’’.
6
The 1975
“Love If We Made It”
Abram alas para uma das melhores músicas de 2018: “Love It If We Made It” é um retrato da pós-modernidade em tempos em que a democracia pede socorro. A canção é rápida, agressiva em sua proposta, os vocais de Matt nunca soaram tão cruas na discografia quanto aqui, o verso é construído em cima desse ritmo marcial e um arpegio digital hipnotizador que nos acompanha por quase toda a música. No refrão, a música toma um rumo mais rítmico, mas ainda assim, não matando a tensão que vem construindo desde a introdução. Na ponte, o instrumental para, e o piano marcial conta uma espécie de contagem regressiva enquanto Matt cita diversas disfunções do pós modernismo.
5
A$AP Rocky
“Purity”
Sejamos francos, “Purity” atua numa área onde a maioria das canções nessa lista não atuam, o andamento não é ortodoxo, os cortes são crus e vocais são interrompidos e acrescentados sem aviso prévio a todo momento; é uma produção no mínimo estranha.
Mas justamente nessa esquisitice é onde habita a originalidade e raridade da música. O flow é imprevisível, o violão e a guitarra entupida de efeitos casam de tal maneira com o vocal que ao mesmo tempo que é hipnotizante, também é quase impossível de entendê-la na primeira audição, Rocky canta apenas no minuto final de música, e é talvez a melhor entrega de Rocky em seu álbum.
A propósito, quem canta a música é nada mais nada menos que Frank Ocean.
4
Ariana Grande
“thank u, next”
Há alguns anos atrás Ariana Grande estrelava, ao lado de Janete McCurdy, “Sam e Cat”, um spinoff não muito bem sucedido com as coadjuvantes de dois shows da Nickelodeon. Hoje, Ariana Grande tem a música número um no mundo e não deixou apenas suas companheiras de emissora para trás, mas praticamente todas as suas contemporâneas.
Talvez seja exagero da parte de muitos, afinal, é apenas um hit pop, produzido como tal, com não mais que três ou quatro acordes e elementos comuns no pop e R&B, porém, o single é definitivamente algo a mais. Deixando de lado a excelente composição da canção, que troca as palavras de seu pré-refrão três vezes sem perder o impacto, e o fato de ele e o próprio refrão terem virado expressões utilizadas no mundo todo graças a canção, é importante ressaltar o estado que Ariana se encontra. Ela, agora, pela primeira vez na carreira, atingiu a liberdade das grandes artistas e “Thank U, Next” é sua redenção.
Ela pode continuar trocando de namorados, mas o público não vai falar próxima a Ariana por um bom tempo.
3
Kanye West
“Ghost Town”
Kanye faz um throwback a seus tempos de produção ao modo antigo, em uma produção que flerta com o R&B dos anos 60, Kanye faz de tudo pra fazer uma música de aura leve e alegre nos primeiros versos e refrões, que são lindamente executados por Cudi. Party Next Door também ajuda Kanye cantando em cima do sample na introdução e no riff de guitarras com distorção que caracterizam o refrão.
A linha de baixo, no refrão que antecede a ponte cantada por 070 Shake é simplesmente linda e inesperada; assim como a própria ponte, que dá entrada ao segundo segmento da música de forma ágil, toda aquela aura positiva e upbeat que Ye trabalhou para construir é ofuscada por um sentimento de ambiguidade. And nothing hurts anymore, i feel kinda free.
2
Childish Gambino
“This Is America”
Tudo bem, o hype de “This Is America” se deu, principalmente, por conta de seu vídeo, talvez o melhor do ano. A figura onipotente na cultura popular, presente nos mais populares filmes, mais irreverentes séries e com um dos hits mais inusitados (“Redbone”) dos últimos anos, Childish Gambino, sendo o realizador da obra, é mais um motivo para que seu impacto fosse alastrado do jeito que foi.
Mas isso não deve, de maneira alguma, tirar o mérito musical de “This Is America”. Quase como a linha tênue entre as vantagens e desvantagens de ser negro nos Estados Unidos, a produção traz um coro energético e alegre que cessa toda vez que o nome da canção é professado seguido de um tiro, algo que pode e foi interpretado por muitos como a turbulência que toma conta do país após cada tiroteio envolvendo negros. Então, as batidas trap, mixadas de forma tribal, como para referenciar suas raízes africanas e centradas em volta de um baixo sinistro, transformam a faixa em um protesto perigoso e irreverente.
Liricamente, Gambino faz muito com pouco. Enquanto parece que ele apenas fala gírias e expressões, se examinadas é fácil perceber a dualidade da vida artística negra e como ela se relaciona diretamente com o estereótipo afro-descendente desde o início dos tempos. “Me veja dançar” ele diz, “Pegue seu dinheiro, homem negro”, o coro responde.
1
Janelle Monáe
“Make Me Feel”
Há quase 30 anos, Prince embalou o início dos anos 90 com um dos seus hits mais emblemáticos, “Kiss”. Um sintetizador irresistível e vocais poderosos, sensualidade e ritmo.
Há quase 10 anos, Janelle Monáe lançou seu single mais icônico até então, “Tightrope”. Uma das basslines mais poderosas dos anos 2010, voz irretocável e uma fórmula para manter qualquer um dançando.
A perda de Prince foi sentida pela música e por todos a sua volta, especialmente pela pouca idade que o artista ainda tinha. Porém, arrisco dizer que o trabalho que ele deixou nos consola um pouco pela falta que ele fará. “Make Me Feel” é o maior e mais impactante single de Monáe desde “Primetime” e é a canção mais importante de seu último álbum junto à “Americans”.
A faixa tem uma linha de baixo que pula pro topo das melhoras da carreira de Monáe e tem o senso de libertação sexual, amorosa e de tudo que se pode querer que se equipara ao de “Kiss”. Apesar de haver influência, não soa nem por um instante como cópia, nem do hit de Prince ou de outros hits da cantora. Por sinal, há rumores de que o próprio Prince tenha tocado os sintetizadores da música.
Por anos Janelle Monáe usou de uma personagem em seus álbuns, super embasados em uma narrativa futurista. Em seu último disco, ela assumiu o protagonismo, assumiu sua pansexualidade, decidiu tomar posicionamentos políticos de maneira mais explícita do que nunca. Por tudo isso, “Make Me Feel” é a música do ano. É uma faixa cuidadosamente produzida por dois mestres da música contemporânea, é uma música bem composta e bem executada, é a canção que marca uma significativa virada de página na carreira de uma das maiores artistas de nossa geração e, além de tudo isso, nos dá a luz de que o legado de Prince e sua influência estão vivos não apenas em nossas memórias, mas na alma criativa da música atual.