Crítica | It - Capítulo 2

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UMA SEQUÊNCIA FRACA, SEM GRAÇA E QUE NÃO CONSEGUE REFLETIR O PESO DA OBRA DE STEPHEN KING.

“It: A Coisa” foi uma grata surpresa aos fãs de Stephen King e do gênero de terror, nos entregando uma das raras adaptações fiéis e bem feitas do conteúdo original do prolífero autor. O primeiro capítulo é também um filme de terror que sabe se utilizar da construção de seus personagens e de seus cenários pra emocionar e aterrorizar, mas “It: Capítulo Dois” é uma sequência longa e mal construída, que quase nos faz desejar que a adaptação tivesse se concluído na primeira parte.

O filme começa em uma cena que é curiosamente estrelada pelo jovem diretor canadense Xavier Dolan, onde somos introduzidos a um casal gay que é brutalmente atacado por um trio de valentões da cidade e, após um deles ser jogado em um rio para morrer, o palhaço Pennywise, entre seus característicos balões vermelhos, aparece para ‘terminar o serviço’. Após esse incidente, somos apresentados a versão mais velha de Mike Hanlon, interpretado por Isaiah Mustafa, o único membro do Clube dos Perdedores a ter permanecido em Derry. Trabalhando na biblioteca municipal, Mike passou os últimos anos estudando a entidade maligna que assombrou o grupo quando crianças e percebe que, após 27 anos, a Coisa está de volta a Derry e é o momento de contatar os outros e lembrá-los do juramento de sangue que eles haviam feito quando crianças.

Antes de mais nada, fica o reconhecimento para um dos acertos do filme: a produção de elenco. Todos os atores são semelhantes às suas contrapartes infantis, alguns, como os atores Jay Ryan e James Ransone, que dão vida a Ben Hanscom e Eddie Kaspbrak, são incrivelmente parecidos, o que realmente ajuda a nos imergir na história. Das maiores estrelas escaladas, talvez James McAvoy seja o menos semelhante, mas consegue passar credibilidade interpretando Bill Denbrough, já Jessica Chastain e Bill Hader, ambos estão bem nos papéis de Beverly Marsh e Richie Tozer. Andy Bean completa o elenco adulto do Clube dos Perdedores, interpretando a versão mais velha de Stan Uris.

Stephen King, o criador do universo rico e da obra colossal que serve de base para o longa, é um dos escritores mais prolíferos da literatura mundial, com mais de 50 romances e outras centenas de contos publicados, é figura conhecida no cenário mundial, elogiado tanto em seus livros de terror, como em suas ficções e aventuras distópicas. Uma das razões para tanto é que King sabe trabalhar como ninguém  o desenvolvimento de personagens, e o ritmo de seus livros, que por meio de sua escrita coloquial se transformam em obras de fácil e divertida leitura, desde seus pequenos contos até seus maiores romances, como é o caso de “It”.

“It: Capítulo Dois”, infelizmente não se acerta como King e ao longo de sequências caóticas e fatiadas na montagem, com um excesso de cortes e mudanças de câmera na tentativa de dar um momento de tela a todos os atores acaba deixando o longa com um ritmo bastante destoante ao da primeira parte. O roteiro também falha na tentativa de equilibrar o lado divertido e dramático dos personagens com a atmosfera de tensão que eles se encontram, mas o que nos é entregue são piadas forçadas e frequentemente ofensivas, flashbacks que apenas repetem o que vimos na primeira parte e um exagerado número de jumpscares e artifícios há muito desgastados pelo gênero de terror.

O segundo filme é uma obra de 169 minutos, que somados aos 135 minutos do primeiro capítulo se combinam em uma obra de mais de 5 horas, fazendo jus as cerca de 1100 páginas da obra de Stephen King, entretanto, o livro constrói sua narrativa intercalando os eventos do passado e do presente, fazendo com que ao mesmo tempo em que somos introduzidos ao universo mostrado em “It: A Coisa” vamos sendo apresentados aos eventos mostrados em “It: Capítulo Dois”, de modo que o clímax de ambos os filmes, na versão literária, ocorrem quase que simultaneamente.

Com a escolha de dividir os eventos do livro em dois filmes, um em cada época da vida dos membros do Clube dos Perdedores, a parte dois constantemente parece uma repetição eterna de tudo que vimos no primeiro longa, mas sem o clima aventureiro da primeira parte, com efeitos especiais explodindo na tela através das diversas (e aqui são MUITAS) facetas que a Coisa assume, recheado de jumpscares muito previsíveis e de poucos elementos novos na história, as 2 horas e 49 minutos se tornam extremamente cansativas de se assistir.

Uma das críticas recorrentes às obras de Stephen King é que apesar das boas histórias, o final delas tende a ser insatisfatório e em “It: Capítulo Dois” temos até um breve cameo do escritor, onde ele contracena com James McAvoy interpretando um vendedor de uma loja de antiguidades onde a antiga bicicleta de Bill está na vitrine. Na curta cena, o personagem de King reconhece Bill Denbrough e nega um autógrafo oferecido por ele por considerar que o final de seus livros não eram dignos de reconhecimento.

“It: Capítulo Dois”, infelizmente segue o padrão atribuído a King nas críticas e em sua conclusão, que consegue ser apressada, faz todo o possível para nos entregar um final insatisfatório, onde os personagens percebem que para derrotar a entidade maligna eles devem torná-la pequena, e diferente da primeira parte onde o poder da amizade faz com que as crianças superem seus medos e tornem-se equiparáveis a força da Coisa, aqui os adultos num momento que causa certa vergonha alheia praticam bullying para demonstrarem sua força perante a forma real da entidade, uma mensagem nada positiva ao público atingido pelo filme.

Numa conclusão mais longa do que o necessário, com um humor enfadonho, uma direção confusa e que não consegue manter a atmosfera do primeiro filme, com uma trilha sonora que por vezes destoa e com um roteiro consideravelmente mais esburacado que o de “It: A Coisa”, apesar de entregar alguns bons efeitos especiais (no mar de efeitos a que somos expostos, era o mínimo esperado), performances sólidas de seus atores e um Pennywise tão bom quanto o da primeira parte, novamente interpretado magistralmente por Bill Skarsgård, ao final do filme somos deixados com a sensação de que tudo deveria ter acabado após os créditos da primeira parte subirem.

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