Crítica | Corpo Fechado
"Corpo Fechado" é um filme sombrio e subversivo sobre o significado de super heroísmo, talvez tão único e explorador como nenhum filme do gênero jamais se atreveu a ser.
M. Night Shyamalan é um dos diretores mais curiosos do século 21. De obras como "O Sexto Sentido" e "Sinais", à bombas como "O Dia em que a Terra Parou", "Depois da Terra" e "A Terrível Adaptação de Avatar". É inevitável dizer que ele é bastante eclético; suspenses, fantasias, aventuras, ficções científicas e, em "Corpo Fechado", super-heróis.
Mas que tipo de super herói?
Aqui, Bruce Willis é David Dunn, o único sobrevivente de um acidente de trem que, após se encontrar com o excêntrico Elijah Price, começa a questionar se não possui poderes super-humanos.
O grande trunfo de Shyamalan em "Corpo Fechado" foi justamente não fazer dele um filme de super herói pela maior parte de sua duração. O ritmo é lento, o diretor abusa de muitos planos longos e de uma coloração fria que realça os elementos dramáticos que movem o roteiro. À parte da descoberta de super poderes e da verdadeira história de Dunn, vemos o personagem em uma crise existencial, passando por um momento delicado em seu casamento, o que adiciona camadas e profundidade à sua procura por respostas. O uso de ângulos pelo diretor, a edição, a paciente trilha sonora, tudo contribui para dar um tom quase pesaroso ao filme, que se apoia na curiosidade e nas performances de seu elenco para elevar o nível de toda a experiência.
Este é um dos trabalhos mais minuciosos de Shyamalan. Tudo, desde o roteiro até cada decisão da direção funcionam organicamente junto com a história.
Bruce Willis talvez esteja em um de seus melhores papéis e momentos da carreira. É visível sua decepção com relação às escolhas que teve na vida e suas interações com seu filho e esposa, interpretados por Spencer Treat Clark e Robin Wright respectivamente, são essenciais para a construção de seu personagem. Talvez na melhor cena do longa, a tensão provocada pela situação do casamento e à possível descoberta de Dunn culminam em um momento enervante, maravilhosamente encenado pelo trio de atores.
Samuel L. Jackson, no entanto, traz as principais reflexões. Ele representa o lado contrário ao super-herói; um homem que possui uma doença degenerativa que afeta seus ossos, e o afetou desde a infância, quando as cruéis crianças o chamavam de Mr. Glass (Sr. Vidro). Seu papel aqui funciona tanto como o de esclarecedor quanto o de vilão e quando ele finamente entende seu propósito, "Corpo Fechado" termina. Sem efeitos estrondosos, sem atos grandiosos, com apenas duas descobertas que resumem o filme de forma maravilhosa e trazem os super-heróis para tão próximo da realidade que podemos até mesmo nos perguntar se eles não existem.