Crítica | Top Gun: Maverick

“Top Gun: Maverick” é um filme de antigamente.

Em meio ao cinismo, a falta de risco e a computação gráfica que tomaram Hollywood, o filme que Joseph Kosinski e Tom Cruise apresentam é uma lembrança do tipo de filme que se fazia antigamente em Hollywood.

Trazendo com naturalidade Maverick de volta para um último trabalho em que ele precisa ensinar os melhores jovens formados pelo TOPGUN a realizar uma missão impossível. Nessa turma está “Rooster” Bradhsaw, filho do parceiro de Maverick no primeiro filme e ressentido com o protagonista. “Maverick” é um filme com muitas coisas para dizer, sobre o personagem de Cruise ser a última pessoa rebelde que desafia ordens num momento em que isso não é mais aceito e sobre as nossas escolhas e as consequências delas ao longo tempo. Além disso, “Top Gun 2” é um dos grandes filmes de ação feitos recentemente, com imensas cenas utilizando aviões F-18 reais e sequências bem coreografadas que incluem o espectador na ação.

Muitos anos depois dos eventos do primeiro filme, Maverick é um piloto de teste, ainda na patente de capitão ele desrespeita ordens de um oficial (Ed Harris) que o manda de volta para TOPGUN como instrutor. Lá ele encontra os almirantes “Cyclone” Simpson (Jon Hamm) e “Warlock” Bates (Charles Parnell) que dizem que o aceitaram como um favor para seu velho amigo “Iceman”, mas que essa seria sua última missão na marinha. A missão é ensinar uma turma de 12 dos melhores jovens formados na escola como realizar uma operação aparentemente impossível em três semanas. De volta em San Diego, Maverick encontra personagens do seu passado, o novo interesse amoroso Penny (Jennifer Connelly) e “Rooster” (Miles Teller), quem o protagonista tinha como um afilhado até que retirou a inscrição dele para a academia, o que os fez entrar em conflito. A maior parte do filme acontece no treinamento para essa missão, que escancara os problemas entre os dois e cria fissuras entre Maverick e Cyclone.

Como instrutor o protagonista é o mesmo desafiador, arrogante e criativo que é como piloto, escolhendo jatos F-18 para realizar a operação, ele precisa mostrar para os jovens como fazer milagres. O mid point da trama é um reencontro entre Maverick e Iceman (Val Kilmer, que felizmente foi incluído no projeto mesmo com os problemas de saúde que está enfrentando) em que o velho amigo, numa das cenas mais emocionantes do filme, ajuda nosso protagonista a lidar com suas antigas escolhas e encarar os problemas com “Rooster”. O conflito central da trama coloca o sempre confiante e auto centrado piloto em atrito consigo mesmo, porque “Top Gun 2” não é um filme de guerra sobre combater inimigos, eles sequer são nomeados ou tem fala, ele é sobre as disputas pessoais e subjetivas, como muitas produções deveriam ser, mas poucas são, a ação macro e a missão militar são apenas justificativa para a história real acontecer.

Assim como Maverick é um tipo de piloto que não se faz mais, arrojado, muito seguro de si, que não tem medo de quebrar a norma se achar que está fazendo a melhor escolha “Top Gun: Maverick” é um filme que se coloca assim frente à Hollywood atual, uma rara produção de franquia, que triunfa na nostalgia e que não tem medo de ter personalidade. Cruise e Teller são fundamentais para isso, os dois atores criam momentos marcantes desde a primeira interação entre eles em que Maverick vê o jovem tocando piano dentro de um bar e se lembra de “Goose”. As disputas emocionais entre os dois se desenrolam naturalmente na trama durante o treinamento e a própria operação e na verdade carregam todas outras coisas em direção ao final.

O fato de ter uma história de verdade (por incrível que pareça) permite “Top Gun 2” a passar mais tempo no centro de treinamento dos pilotos que no campo de batalha e isso traz um benefício imenso, no terceiro ato quando eles realizam a operação, todos movimentos que eles precisam fazer estão nítidos na cabeça do público e, apesar de parecer um filme bastante otimista, sempre parece haver risco de algum acidente acontecer e algum dos personagens não sobreviver, algo cada vez mais difícil em Hollywood. A edição é orgânica, permitindo sempre a localização espacial do espectador frente às sequências e os complexos movimentos e manobras realizadas pelos aviões, nunca deixamos de saber onde um avião está em relação ao outro. Os personagens novos são bons, especialmente os jovens pilotos, em pouco mais de um ato estamos totalmente convencidos a torcer por eles.

Tom Cruise é mais do que um ator na indústria de hoje, ele é um astro do cinema, como os de antigamente, ele, apesar da baixa estatura, gosta de fazer grandes filmes, em grande escala, com grandes cenas de ação e muita tensão, não há muitos como ele, a sensação que tenho é que essas produções acabaram de vez mais ou menos ali quando os filmes de herói entraram na moda e muito mais difícil tem sido conseguir boas películas de ação, como essa. Apesar de eu ter me concentrado muito mais nos sentimentos, “Top Gun: Maverick” é, além de tudo, divertido e uma boa experiência para quem busca qualquer tipo de experiência no cinema. 

10

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