Crítica | Paraíso Perdido
COM UM ELENCO ESTELAR E UMA PROPOSTA COM POTENCIAL, ESSA É A PROVA DE QUE ALGUMAS PRODUÇÕES DO CINEMA NACIONAL AINDA SE PERDEM EM RELAÇÕES NOVELEIRAS, JÁ SUCATEADAS ATÉ MESMO NA TV BRASILEIRA.
Em sua quarta produção longa-metragem, Monique Gardenberg (O Paí, Ó) escreve e dirige o filme “Paraíso Perdido” (2018) com trama focada na transformista Imã (Jaloo), constantemente ameaçada por ataques homofóbicos na rua na qual trabalha com apresentações noturnas, agora protegida pelo recém-contratado policial Odair (Lee Taylor). Imã vive em transtornos por querer viver sua sexualidade, como homem gay, mesmo no espaço inseguro que vive e receios de sua família próxima, como o avô José (Erasmo Carlos).
O elenco com nomes fortes da TV e do cinema brasileiro, tais quais Humberto Carrão, Malu Galli, Marjorie Estiano e grandes artistas da música, como Erasmo Carlos e Seu Jorge, encontra-se em relações complicadas com a casa noturna “Paraíso Perdido”, assassinatos e vínculos familiares. A produção se apresenta em contáveis locais de gravação, com uma lenta narrativa da trama que não se relaciona com estes espaços físicos e um severo foco na trilha sonora.
São muitos os erros de Paraíso Perdido, mesmo que a grande maioria deles fiquem focados entre o roteiro e a edição. A história evidencia as relações novelescas entre os personagens com irresponsáveis descobertas de verdades sobre a família protagonista. A trama anda em seus três atos com um texto visivelmente imaturo, pouco fluído e que não se decide se é mais importante se desenvolver nas falas ou nas várias apresentações musicais que acontecem e cortam o enredo, não decidindo se quer se encaixar no gênero de música ou não. São poucos os diálogos que se tornam críveis e engajam quem assiste para que haja algum interesse e mistério real interligados com o restante do filme.
A pós-produção do filme falha, principalmente, em sua edição com cortes imprecisos, cenas que são incapazes de total entendimento do que está acontecendo, por tirar demais de um material que certamente estava gravado. Além disso, são encontradas sonoplastias inferiores às de qualquer desenho animado que possa ser imaginado. São escolhas que constroem uma atmosfera pouco verossímil e que destroem a seriedade que o filme tenta trazer com assuntos sérios. É difícil terminar de ver a obra e ser sensibilizado, por exemplo, com as agressões contra Imã, que são tão pouco examinadas ao ponto de não se entender se é realmente algo que faz sentido no contexto apresentado.
Para além disso, a escolha de colocar a personagem surda, Nádia, interpretada pela espetacular Malu Galli, tem um claro intuito de comoção que a fotografia não sabe usar, colocando ângulos cartunescos e diálogos com linguagem de sinais que pouco agregam na construção e, insistentemente, em ser o ponto alto da finalização da produção. E mesmo com uma trilha sonora que agrada, quiçá a única parte do filme feita com cuidado e muito respeito às músicas originais, não é possível se prender a um longa que pode ser substituído por um trabalho de clipes musicais mais assertivos ou um álbum divulgado e lançado em plataformas de streaming.