Festival de Cinema de Gramado 2020 | Dia 6
O Outra Hora está cobrindo o 48º Festival de Cinema de Gramado que ocorre entre os dias 18 e 26 de Setembro de 2020. Com um texto por dia expressando nossas principais opiniões sobre os filmes da noite anterior. O Festival é exibido todos dias às 20 horas no Canal Brasil, enquanto a Mostra Gaúcha ocorre no Globosat Play. Entrevistas e análises vão ser parte da nossa cobertura, acompanhe nossas redes para saber mais.
quase deu. mas a sexta noite veio para provar que nem tudo são glórias, com certeza, a pior do festival
Claro que tivemos filmes bons e não tão bons todos os dias e coisas que apontavam problemas curatoriais e o que tivemos hoje foi a mistura do que teve de menos legal durante essa semana acontecendo, filmes monótonos e pouco impactantes. O cinema e essa edição do Festival de Cinema de Gramado às vezes conseguem nos colocar óculos que distorcem um pouco a realidade, quero dizer, óbvio que o racismo é um tema de primeira importância na discussão política brasileira, mas ele foi debatido de tantas maneiras incríveis durante o festival que “Você tem Olhos Tristes” perde a potência (que tem), isso vale também para os reflexivos “Remoinho” e “Los Fuertes” que perdem suas qualidades na comparação com o que vimos nos últimos dias. Por fim, uma cine-biografia de documentário sobre um ícone da música brasileira é, na minha opinião, suficiente para uma mostra de sete filmes, inclusive porque tanto “Me Chama que Eu Vou”, sobre Sidney Magal e “O Samba é Primo do Jazz” sobre Alcione foram produzidos e serão distribuídos pelas mesmas empresas, acho que nesse ponto a escolha dos filmes foi redundante para participarem da competição pelo Kikito.
Destaque da noite:
Além da monotonia, o tom da noite, vou destacar o bom humor de Sidney Magal como o mais próximo da redenção que tivemos.
Os Filmes:
Curta-Metragem Brasileiro: “Remoinho” (2020), de Tiago A. Neves (PB).
Sinopse: Após um longo período de afastamento, Maria retorna à casa de sua mãe. Ela está decidida sair do remoinho que a fez voltar.
Crítica: O trabalho sensível de edição e uma ótima decupagem que privilegia as duas atuações não é suficiente para me fazer relacionar em algum nível com “Remoinho”. Tem algo sobre o envelhecimento e sobre o movimento cíclico da personagem que enfrenta questionamentos (novamente, tenho certeza) da mãe, mas para mim o filme não consegue criar um bom arco e por isso acaba alienando o público da sua narrativa.
Curta-Metragem Brasileiro: “Você tem Olhos Tristes” (2020), de Diogo Leite (SP)
Sinopse: Luan trabalha como bikeboy de aplicativo e enfrenta dilemas e preconceitos na sua jornada diária de entregas em uma cidade grande. Sem hesitar, sonha com um futuro melhor.
Crítica: Como disse, esse filme tem potencial, mas ele se dilui nos intensos debates que seus concorrentes da mostra de curtas nacionais estão apresentando. A história, em uma descrição grosseira minha, se divide em duas partes: na primeira, o dia-a-dia de Luan que tem sua bicicleta roubada e depois um cliente o ameaça com uma faca, na cena que mais me deixou com uma pulga atrás da orelha. Apesar de ter quase 20 minutos, parece que “Você tem Olhos Tristes” não encaixa no tempo de tela, dá a sensação de uma corrida para marcar checkpoints sobre assuntos para debater em tela sem tomar seu tempo nas situações, tristes e revoltantes apresentadas.
Longa-Metragem Brasileiro: “Me Chama que Eu Vou” (2020), de Joana Mariani (SP)
Sinopse: O documentário conta a trajetória dos 50 anos de carreira de Sidney Magal. Os momentos mais significativos da vida do cantor, dançarino, ator e dublador que se tornou um ícone da música popular brasileira. O homem por trás do ídolo, sob o ponto de vista dos próprios participantes da história.
Crítica: Quem nunca dançou Sidney Magal? O cantor popular é uma marca incrível de música e mídia. E o filme faz um bom apanhado da sua carreira de estrela através de diversas entrevistas, recortes de jornais, matérias de revistas, a própria cobertura da imprensa, da vida do intérprete sob os holofotes. Em contraste, a diretora aproxima bastante a câmera de Sidney de Magalhães, marido, pai e filho, distinção repetida por ele diversos momentos de “Me Chama que Eu Vou” e essa separação da vida pública com a vida privada feita pelo protagonista é o centro da narrativa (seria uma tese) do filme. Mas para por aí, se meu colega aqui no site comentou sobre “O Samba É o Primo do Jazz” a falta de objetivo do documentário, eu até discordei dele naquela ocasião, mas nesse aqui cabe ainda mais essa pergunta: e aí? Sidney Magal é um galã, importante, um personagem forte com um bom humor e uma inteligência impressionante, não consegui achar isso a justificativa boa o suficiente para o que fica em tela.
Longa-Metragem Estrangeiro: “Los Fuertes” (2019), de Omar Zuniga (Chile)
Sinopse: Lucas viaja para visitar sua irmã em uma cidade remota no sul do Chile. Em frente ao mar e à névoa, ele se apaixona por Antonio, um contramestre de um barco de pesca local.
Crítica: Já em uma pesquisa rápida descobri estar um pouco sozinho na opinião sobre “Los Fuertes”, é da vida, não é mesmo? E isso pode acontecer só pelo nível altíssimo mostra estrangeira desse ano, mas esse filme não me pegou nenhum pouco. É uma história de romance homossexual, como disse, as lentes mágicas do cinema já me fazem tratar com certa normalidade esse tipo argumento, mesmo que reconheça os méritos de querer contar essa história. Fora isso, não me conectei de verdade com nenhum dos dois personagens, achei algumas cenas sem propósito e outras corridas de mais, não compreendi de verdade a ideia da reencenação da Guera de Independência como elemento narrativo.