Crítica | Vince Staples - Prima Donna

Poucas vezes um artista consegue lançar trabalhos tão pequenos e ainda assim sustentar um nível tão alto de qualidade. Vince Staples, 23, ainda não explodiu para o Mainstream, mas esse curto EP de sete faixas é um dos trabalhos mais ricos de 2016, e certamente um dos mais profundos.

Aqui ele continua a cruzada de 'Summertime 06', seu primeiro álbum de estúdio que fez com que todos os críticos concordassem. Sua principal força então era sua habilidade de contar histórias, falar sobre sua infância em Park Ramona, com ousadia e um forte senso de realidade, sempre consciente do perigo a sua volta. Aqui ele melhora tudo isso. Seu jogo de palavras é mais afiado, seu Flow mais controlado e as metáforas e imagens figurativas fazem de sua música algo muito complexo. 

Musicalmente ele está faminto por novos espaços. Ele não produz (ainda), mas sua música está em busca de um som além do que ele já definiu como seu. As batidas infecciosas de Rap agora são acompanhadas por baixos e guitarras, criando um fundo de Rock recorrente, ou por toques Eletrônicos, que abrem o álbum sob a produção de James Blake. Ele está bem servido de produtores. No I.D., mentor de ninguém menos que Kanye West está em 'Pimp Hand' criando algo que poderia servir o Sr. Yeezy muito bem. A batida tem um tom militar, um Rap Urbano que tem Vince falando exatamente em como o futuro está nas mãos dos jovens. 

Os relatos aqui são carregados não apenas com base em suas histórias, mas também emocionalmente. Vince está mais perto de um topo ainda mais alto. Ele está bem consciente de sua condição como um artista negro, que também está confuso com a fama que isso traz, enquanto confronta seu passado como um jovem negro em uma sociedade tão problemática. Ele caminha em linhas tênues, constantemente discutindo sobre problemas que ele e seus iguais podem sofrer, enquanto é dúbio sobre isso quando constata o sucesso já atingido. 

Em 'Smile' ele fala sobre a fama, a vergonha de deixar sua vida para trás e o medo do agora, que estranhamente parece tão sólido. O incrível refrão é reforçado por linhas como "minha cor não é a de um homem de negócios" e termina de forma quase desesperadora com Vince falando em desistir de tudo. Na faixa título sons de praia aumentam o grau de contemplatividade da pergunta, que questiona se toda a fama, o dinheiro e os pequenos "eus" são reais. Suas letras balançam muito bem entre o real e o figurativo, e a música termina com um discurso carregado sobre o sucesso que parece tão bom, mas ainda sim tão duro.

"How you doing everybody hope you had a nice day, sometimes I feel all alone, sometimes I can't get away, I feel my life is in danger every night when I lay, so could you do me a favor, smile for me?"

Tem momentos onde ele é mais direto. 'Loco' tem uma excelente contribuição de Kilo Kish em seu refrão falado, e tem Vince listando diversos ações relacionadas à inspiradores loucos, como pintar o Van Gogh e acordar de um sonho Kurt Cobain, em uma música frenética sobre abraçar a loucura. Na maravilhosa linha "I'm in the black Benz speeding with my black skin gleaming" ele resume muito de todo o bragging que ainda é uma das se não a principal fonte do Hip-Hop, algo que ele prova que também sabe fazer e muito bem na ótima 'Big Time' que fecha o álbum de forma excepcional. Blake está de volta ao álbum com uma produção constante, que quase não difere versos e refrões, com tantas camadas que a voz de Staples anda em paralelo a elas. 

'War Ready' tem provavelmente as melhores letras do álbum, onde ele está preparado para guerra, falando sobre o duro passado dos afro-descendentes em uma linha tênue entre céu e inferno. Como ele cria tantas camadas conceituais em uma música tão curta e unilateral é algo incrível, um talento reservado para poucos nomes. Ele ainda é jovem, mas o talento bruto é algo que está começando a tomar forma, e talvez estejamos realmente presenciando algo grande em construção.

'Prima Dona' é um EP curto de 20 minutos, mas o valor de replay dele é tanto que pode levar mais de 20 dias para que se absorva tudo. Vince se estabelece, junto com YG, como um dos dois Rappers que podem trazer o gênero das ruas de volta à relevância, e talvez lutar pela coroa que agora Kendrick segura tão confortavelmente. Ele ainda é bastante jovem, e como pintura parece algo importante para ele, sua carreira ainda está no estágio do desenho. Talvez em pouco tempo possamos ver alguns trabalhos que mereçam não apenas ser expostos, mas estudados e contemplados como verdadeiras obras de arte. 

8

Anterior
Anterior

Crítica | Radiohead, A Moon Shaped Pool

Próximo
Próximo

Crítica | Dia de Treinamento