Crítica | Radiohead, A Moon Shaped Pool

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Radiohead são um dos poucos artistas de quem sempre esperamos mais. A banda que conquistou pela complexidade e sim, estranheza está de volta com um dos álbuns mais complicados e completos do ano. 

Assim como tudo que a banda já lançou, o valor individual e de entretenimento de cada faixa deve ser colocado quase que em segundo plano. O que importa é o valor final, é quase como que se cada álbum fosse uma grande música com várias vertentes, um organismo vivo que precisa de todas as suas peças para funcionar. O começo novamente é irretocável e provavelmente o melhor do ano. É criado uma tristeza, horas desesperada, horas desesperançosa se cria nas curtas letras, enquanto o som passa uma vibração diferente, que por vezes é caótica e quase para cima, dando inclusive ideias de uma possível alegria. 'Burn The Witch', é o melhor exemplo sonoro para explicar isso, a percussão é forte e marcante, acompanha Yorke cantando de forma agoniada, mas controlada enquanto ele canta letras fortes, e grita para queimarem as bruxas. 'DayDreaming' é uma música ambiente, apoiada no piano e que começa de forma quase feliz engana e com traços de esperança, apenas para as letras levarem a música para um arrependimento sem saídas. Em 'Decks Dark' há um senso de incapacidade pelas letras claustrofóbicas, enquanto a sonoridade para dentro cria um Flow lento, mas que te faz processar muita coisa.

Confesso que não sou fã de quando eles deixam a estranheza de lado, e 'Desert Island Risk' é o mais próximo disso, quando eles aderem a acordes de violão para comandar a canção que parece a única a destoar aqui. 

Após o começo mais intrínseco, o meio é mais seco, e 'Ful Stop' e 'Glass Eyes' quase se interligam, formando uma história de aceitação sobre erros cometidos, enquanto a calmaria sonora te ajuda a entrar naquele cenário. O álbum então começa a sair do limbo emocional e começa a questionar ao mesmo tempo que parece se aceitar, quando quer ignorar as atitudes dos "belos rostos, que não tem nada sobrando dentro de si" na quase agitada e carregada por um Jam de guitarra, 'Identikit' que antecede muito bem a reivindicadora e novamente complexa 'The Numbers', que conta com um excelente baixo junto à sua estrutura sintética. A forma da banda de flutuar sonoramente é a grande vitória do álbum, hora a musicalidade afina e fica simples, hora eles decidem misturar uma quantidade de sons extremamente complicada que se associada as letras tornam cada canção um quebra cabeça. 

Se algo segura 'A Moon Shaped Pool' de ser um dos melhores trabalhos do grupo é o final. A latina 'Present Tense' apareceu pela primeira vez em 2009 em um festival, e por conta de pedidos dos fãs ganhou uma versão de estúdio, e junta a 'Tinker Tailor Soldier Sailor Rich Man Poor Man Beggar Man Thief' completam a transição lírica de depressão para uma quase felicidade metafórica, mas ambas tem um tratamento abaixo do resto do álbum e poderiam ter sido repensadas, não tiram sua atenção, mas não favorecem o registro. Uma querida dos fãs, a também já existente 'True Love Waits' é a faixa final e retoma o Flow adquirido antes, sendo um dos poucos momentos onde se é possível distinguir refrão de versos. 

Musicalmente, nenhum dos grandes álbuns deste ano parece tão maduro e eficiente quanto Radiohead e sua eterna estranheza. A tentativa da banda de dar uma chegada mais palpável e fácil de se relacionar quase funcionou, mas a principal virtude aqui ainda é sua habilidade de criar composições complexas. Não é um de seus melhores trabalhos e não tem nem de perto a mesma capacidade de chocar ou a mesma grandeza, mas 'A Moon Shaped Pool' ainda é um grande álbum e uma grande reflexão sobre os sentimentos humanos que merece e deveria ser ouvidos por quase todos. 

8.8

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