Crítica | O Lagosta

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Sabe aqueles filmes que você só encontra em listas dos mais estranhos de todos os tempos? The Lobster foi feito para carimbar seu local em cada uma delas, pois apenas sua premissa já é o suficiente para te deixar praticamente perturbado. A experiência completa então...

Colin Farrell interpreta David, um homem que descobre que sua mulher o deixou por outro homem, e então é levado para um hotel onde solteiros tem de encontrar alguém com características parecidas com a sua em 45 dias, se não são transformados em um animal.  

O grego Yorgos Lanthimos escreve e dirige aqui, e seu controle sobre sua estranha criação é assustador. É uma direção precisa, que movimenta pouco a câmera e quando o faz é de forma linear, o que deixa o filme praticamente parado, auxiliando no tom arrastado. A cinematografia é amarga, cinzenta, junto à trilha sonora baseada principalmente em música clássica e à interpretações sem qualquer traço de emoção, dão ao filme a estranheza de uma experiência quase vazia. 

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O roteiro é o ponto principal. A cada momento parece que a história fica mais complexa e esquisita, sempre com um tom satírico, quase de deboche sobre diversos aspectos da nossa sociedade. A forma como tratamos não só o amor, mas nossa socialização, é uma forte crítica à superficialidade de coisas que não costumamos questionar. Os diálogos são bem orquestrados, e a forma como cada ator se ausenta completamente do mundo real é algo quase admirável. 

Farrell faz um dos melhores trabalhos de sua carreira, mais do que todos os outros ele consegue suprimir suas emoções por completo, me questiono se não merecia uma indicação a Oscar de Melhor Ator. Rachel Weisz passa bem seu amor por Farrell de uma forma quase escondida, mas destoa do tom geral do filme. John C. Reilly e Ben Whishaw estão excelentes e sua cena de luta é uma das coisas mais estranhas em todo o filme, curiosamente cômica. Ariane Labed está excepcional como a empregada, quase como se acredita-se em todas as tarefas estranhas que tem que realizar, até descobrirmos suas verdadeiras intenções. Léa Seydoux talvez esteja séria em excesso, mas contrasta bem com a leveza irônica de Olivia Colman. 

O filme acaba perdendo peso quando sai do hotel. As sequências na floresta são tão nonsense, mas muito menos interessantes. Não é difícil se pegar pensando o motivo de estar assistindo àquilo, mas as coisas melhoram nos momentos finais, para então fecharem com um dos finais mais "bonitos" e inteligentes do ano. 

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'The Lobster' é um filme interessante pela estranheza, além da dedicação de todo o seu elenco, que fora alguns pontos é espetacular. Ainda assim, o único motivo de você assistir a tudo é querer uma explicação para o que quer que esteja sendo contado. Não temos essa explicação, mas esse é o objetivo. Independente de seus valores, e eles estão aqui, é um filme que acredita em seu objetivo e não larga dele em momento algum, mas não é algo que deva ser aconselhado. Caso seus pensamentos estejam esquisitos algum dia, talvez seja uma boa pedida. 

8

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