Crítica | Chilombo - Jhené Aiko
O núcleo musical do Outra Hora estava questionando esses dias sobre a possibilidade de não haver mais nada que se possa usufruir de um álbum cujo genêro predominante seja o R&B.
E artistas apaixonados, como mostra a história recente - The Big Day de Chance the Rapper é um exemplo claro - não fazem bons álbuns, mas isso é papo pra outra hora.
Não é atoa que talvez o maior rosto do gênero, The Weeknd, migrou para um Synthpop oitentista no início desse ano, em After Hours, após My Dear Melancholy claramente ser seu álbum menos inspirado. Independente da atmosfera transcendente e meditativa que a produção consistente de Chilombo cria, quando imersos e prontos pra nos entregarmos a experiência, nada dentro desse ambiente nos convence a ficar. É como viajar pra algum local que só tenha um ponto turístico e as ruas fossem todas iguais, perpetuando, consequentemente, ao decorrer de seus extensos 63:26 minutos, tédio.
Nesse sentido, o sentimento de decepção em relação ao álbum cresce gradativamente, pois nota-se o quão importante foi para a artista dar vida ao projeto, conforme reflexões sobre decepções amorosas ganham relevância para sua maturação como pessoa. “Lotus (Intro)”, onde sua voz, acompanhada apenas por um piano, sopra com delicadeza a auto introdução espiritual e cultural de quem é Chilombo (ela mesma, pois seu nome de fato é Aiko Efuru Chilombo): “There was a woman born from a Lotus, Her heart was golden, deep as the ocean.”
Não vou mentir: Minha expectativa após as duas primeiras se elevou, tanto pela entrega performática de Jhené, extremamente sincera e vulnerável, quanto pela delicadeza dos instrumentos. Tudo indicava que a odisseia purgatória de uma pessoa que foi quebrada por um relacionamento e hoje vê isso como uma experiência que a fortaleceu iria se concretizar, até tudo virar desabafo de bar (“None Of Your Concern” é amostra perfeita de como uma pessoa depois de 2 cervejas fala de seu/sua ex). Por vezes engajante, majoritariamente repetitivo. A letra é fraca, o verso de Big Sean é completamente sem vida e o beat, sem as performances, poderiam tranquilamente ser jogados numa playlist de LoFi pra estudos. Infelizmente isso se reprisa constantemente durante todo LP, o que é típico do subgênero que é o Quiet Storm. Uma perspectiva já desgastada de um gênero que vem tentando se renovar a qualquer custo (pegue Chloe x Halle como exemplo).
Aliás, assim como a parte de Big Sean, uma parcela considerável das Features, em um álbum que tem muitas, não funcionam. Não sei dizer se foram mal planejadas, como HER em “Bullshit”, que está completamente fora de zona de conforto e sem energia enquanto rima e definitivamente não é sua culpa, ou apenas os convidados estão desinteressados no projeto como é o caso do Nas em “10k Hours” e John Legend em “Lightning & Thunder”, se bem que é uma blasfêmia falar que Legend faz alguma coisa desinteressado.
Em contraponto, os pontos altos do álbum são incríveis (o que ainda é insuficiente pra forrar o fato de termos que dedicar mais de 1 hora pra ouvir Chilombo). “Pussy Fairy” é magnética e intensa de maneira surreal do início ao fim. O reverb na introdução da faixa cria uma atmosfera entorpecida e instantaneamente perpetua uma tensão sexual que é liberada durante seus versos e fica conosco através se sua melodia absolutamente viciante. Já “One Way St” é um caso engraçado, pois, apesar de ser uma ótima faixa, contando com uma energia não vista no álbum até então e com um interlúdio paralisante com, o que me parece, uma guitarra tão distorcida que parece uma pessoa agonizando, Ab-Soul é o absoluto dono dela e Jhené a convidada.
Enfim, Eu poderia falar que, assim como o título da décima segunda música aqui, o álbum “Nasceu Cansado”, mas isso seria um pouco desrespeitoso demais com o esforço claro que a artista deposita em seu projeto e com a excelente e coesa produção.