Crítica | Não Se Aceitam Devoluções

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Filmes de pais solteiros são queridinhos do público, não há como negar.

Talvez justamente pelo consenso estabelecido de que mães servem para criar filhos e pais não precisam ter qualquer responsabilidade por eles, é divertido quando vemos isso sendo quebrado. Mas o tom cômico que esses filmes geralmente possuem não ajudam a desafiar esta triste realidade (só no Brasil, 5,5 milhões de crianças não tem o nome do pai na certidão de nascimento). Esses filmes fazem soar estranha, engraçada e excessivamente corajosa a ideia de um pai ter com uma criança uma relação de responsabilidade e cuidado. Algo que deveria ser comum.

Juca Valente, um mulherengo carioca (sim, agora Leandro Hassum também é galã) recebe em sua casa um bebê das mãos de uma antiga peguete sua. A mulher pede dinheiro para o táxi e vai embora, deixando para trás uma criança e um molde pronto para uma comédia pastelão. Após pedir ajuda para um casal de amigos seus (dois clichês que você encontraria facilmente se pesquisasse o termo ‘brasileiros’ num site de banco de imagens), o nosso protagonista vai atrás da mulher misteriosa. Ele deu a sorte de parar numa versão dos Estados Unidos onde 80% da população fala português e outras 19% falam espanhol. Mas já por essa parte do filme você desiste de querer procurar sentido e se contenta em aproveitar os momentos que funcionam: as poucas surpresas cômicas (inexistentes para quem já viu o original).

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Como você deve ter imaginado, Juca não leva jeito com crianças. Mas entre polvilhar sua cara com talco de bebê e se jogar de um prédio para impedir um afogamento, ele vai aprendendo a amar (principalmente) e cuidar (mais ou menos) de sua nova filha.

Tudo acontece muito rápido. Ao mesmo tempo que isso é positivo, pois o filme não se alonga em uma cena só, também é negativo, porque ele vira uma saraivada de momentos fofinhos de pai e filha intercalados por reveses que podem separar os dois em um ritmo repetitivo: uma cena explica a anterior e prepara a outra e assim por diante, sem uma amarração mais abrangente do longa. Tem uma sequência que vai e volta em determinado momento em um tribunal que quase te faz ficar tonto. Vejo uma vantagem sintomática no fato de essa trama clichê ser apresentada de forma tão acelerada e sintética: quer dizer que o público está cansando mais fácil.

Tanto Hassum quanto Manuela Kfouri, a filha Emma, estão bem, mas são subaproveitados. Os outros atores pendem ou para o melodramático ou para uma comédia fraca. As ‘palhaçadas’ de Juca são boas, as cenas dramáticas também, mas o filme não escolhe nenhuma das duas e não as balanceia. Não arrisca naquilo que poderiam ser suas qualidades e pontos de distinção entre as comédias brasileiras. O pastelão não é pastelão o suficiente. O dramalhão poderia ser melhor cultivado. E o que eu digo deste, também vale para o original mexicano. Claro. São as mesmas piadas, os mesmos personagens, os mesmos enquadramentos. As tentativas de adaptar a trama ao Brasil não são muitas e nem poderiam ser, visto que a maior parte do filme se passa nos States.

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Como o filme inteiro é um xerox do original, o final também não poderia ser diferente. Diversos plot-twists melodramáticos, engatilhados um atrás do outro, no maior climão de novela mexicana. Tenho certeza que um grande público, principalmente famílias com um tempo livre no shopping, vão rir e se emocionar com as sequências de montagem embaladas com músicas comoventes (é, talvez você chore na cena do carrossel), mas outra boa parte vai olhar para a telona enquanto pensa no que vai por na lista para o supermercado quando sair do cinema.

2,5

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