Crítica | As Virgens Suicidas

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O Cinema de Sofia Coppola é de sutilezas.

Em seus melhores momentos, a diretora cria personagens tão ideais para as ideias que discute que é como se tornassem parte do imaginário relacionado às sensações que provocam. Em seus piores, seus filmes surgem quase vazios de tão passageiros.

Sua estreia como diretora, As Virgens Suicidas já mostra esses traços de autoria: sem jamais subir o tom, o longa é mais um passeio por memórias e sensações passadas do que pela interessante premissa do livro de mesmo nome de Jeffrey Eugenides. Coppola está menos interessada no que, quem, quando ou como, e mais em como essas perguntas sem respostas moldam a visão dos meninos que recontam os acontecimentos envolvendo a família Lisbon. Aplicando no visual do filme o mesmo encantamento que elas despertam nesses meninos - e mesmo se tratando de meninas menor de idade - há uma sensualidade em como a câmera passeia por elas, se interessando particularmente por Kirsten Dunst que desde pequena já mostrava o talento que tem. Entre olhares e sorrisos, é ela que impede o filme de ser um pré-Yorgos Lanthimos, o experimento pelo experimento, a estranheza pela estranheza.

Ainda assim, tenho de fazer algo que me dá desgosto, que é concordar com o autor do livro de que a ideia geral do filme acaba ficando pela metade graças à essa materialização das meninas. De acordo com Eugenides, seria interessante ter atrizes diferentes as interpretando em cada nova cena, justamente para mostrar como são mais um ideal do que seres humanos de verdade. Embora a encenação de Coppola consiga sugerir o efeito que delas emana - e aqui desde a fotografia com luzes refletidas que removem imperfeições, à alteração das matizes pendendo para o rosa -, é justamente o componente humano que entra em conflito com essa atmosfera etérea.

O gosto é amargo porque vimos um crime acontecendo, mas não deveria ao invés disso ser agridoce e talvez até apaixonado por vermos as lembranças de meninos que enxergavam tudo de fora? É como se Coppola fizesse um filme e, no meio dele, decidisse fazer outro. Como se por boa parte fossem os pequenos sinais de tragédia anunciada que supostamente nos devessem sentir, mas logo é o choque em si que se torna a força aparente. É um contraste que não deixa de ser marcante, mas que gera sentimentos conflitantes quanto ao que parece que o filme quer que sintamos.

De qualquer modo, “As Virgens Suicidas” é algo que você tende a não esquecer porque ele remete diretamente à autora que o fez. Uma idiossincrasia sensual justamente por ser distante e desdenhosa, um filme prazeroso em ser dúbio e enigmático, mas auto-consciente da superficialidade que inevitavelmente o atinge. O agora é trivial e intenso, mas passageiro, o que fica é o que sentimos.

Enfim, Sofia Coppola.

7.7

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