Crítica | Duna: Parte 2

Deserto de ideias do Villeneuve

Novo blockbuster cai em armadilhas do gênero e peca pela falta de diversão.

Na metade de “Duna: Parte 2” Timothee Chalamet aprende a montar um verme gigante como se fosse um cavalo, essa cena é marcante por dois motivos, é a mais importante na história de Duna e é o primeiro momento no longa de Villeneuve com algum senso de aventura e diversão. O deserto de Arrakis ganha forma no espírito de Villeneuve, 160 minutos sem ideias, sem emoção, sem uma imagem ou corte que apresentem alguma inspiração, só com uma estrutura burocrática que vai do diálogo vazio sobre religião a cenas de ação descompassadas. Menos de 1 ano depois da suposta morte dos filmes de herói, Villeneuve traz o gênero de volta na sua velha e batida forma.

O que chama atenção na apresentação do filme é a falta de cuidado. As imagens no deserto com filtros escuros para baratear os custos de efeitos especiais, como na melhor parte da história quando os protagonistas conduzem uma série de ataques guerrilheiros ou a maneira como os cortes rápidos e fora de ritmo entram no caminho do épico de guerra, muito visível na batalha final. Confesso que Chalamet é um desafeto meu, mas a sua interpretação do édipo lutando contra a própria profecia é risível e incapaz de causar qualquer comoção, a cara de bom moço do ator se empodera dos dilemas do personagem e dependemos de Jessica Chastain, Zendaya e Javier Bardem para termos a dimensão do que está em jogo para ele.

Do ponto de vista intelectual também é incompreensível o que ocorre em “Duna 2”. Não é novidade ver Villeneuve incorporando discussões filosóficas de maneira pouco sutil, mas colocar dois grupos de pessoas frente a frente verbalizando suas opiniões distintas para explicar o conflito é passar um pouco da conta da redundância. Além disso a discussão é tão superficial, sem possibilidade alguma de pontos de vista distintos ou interessantes que desde o primeiro até o último minuto não há movimento ideológico na história. O papel de Paul na história termina como começa, nem por um segundo está em jogo o que pode acontecer, nunca temos a mínima impressão que se trata de uma discussão de fato, são apenas palavras na areia que não têm resultado nenhum no filme, na história, nos personagens e são apagadas quando alguma coisa precisa acontecer.

Há pouco de bom para destacar: Dave Bautista, Florence Pugh, a primeira parte do filme é melhor que as outras duas porque deixa o tempo passar e aproveita a química entre os protagonistas, o único relacionamento que funciona na trama. Se vai ter mais um, dois ou 30 filmes semelhantes não importa, Villeneuve revitalizou o cinema de franquia mal dirigido, fez algo que nem “Barbie” nem “Oppenheimer” tinham conseguido: resgatar o engajamento por um episódio de uma série e construir um trem de hype para mais uma dezena de semelhantes embarcarem. É mais uma vitória do não-cinema, de um diretor que não olha o que está filmando, que não sabe justificar um corte no seu filme e que convenceu Hollywood que é um autor merecedor de cheques em branco.

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