Crítica | Brooklyn

Um romance de época, Brooklyn conta a história de Ellis Lacey (Saoirse Ronan), uma adolescente irlandesa que vai tentar a vida na américa graças a ajuda da família. Lá ela conhece Antony Fiorello (Emory Cohen) e os dois se relacionam, mas logo ela se vê entre a escolha de voltar à seu país natal ou ficar junto de seu novo marido.

 Saoirse Ronan está incrivelmente comprometida. Fazendo uma daquelas performances “me-indiquem-ao-Oscar” a atriz chora, sorri, sofre, é engraçada, séria, dominante e submissa, tudo sem nunca fugir ao seu papel. Seria possível dizer que ela carrega o filme, não fosse pela direção fiel de John Crowley que fez o suficiente para que a história um tanto repetitiva de Nick Hornby não ficasse açucarada demais.

 Baseado nos anos 50 o filme é bonito, mas foca em transformações mais subjetivas à época, tendo mais pessoas dos anos 50 do que propriamente cenários, e se utilizando de aspectos da rotina da época para situar a história. Raramente vemos algum plano aberto, e o local que dá nome ao filme tem pouca ou nenhuma importância narrativa, Ellis poderia ter viajado para qualquer outra cidade que os resultados seriam parecidos. Em uma das poucas vezes que vemos uma paisagem, a bela imagem de Nova York fora bem trabalhada, mas pareceu definitivamente obrigatória para situar os personagens e não combinou com o jogo de câmeras do longa, que mais parece seguir os passos de Ellis do que mostrar o que ocorre ao seu redor. Cada cena é grande o suficiente para caber as pessoas que estão conversando, mostrando apenas de onde vem e nunca mostrando para onde vão, uma sacada inteligente do diretor.

 Emory Cohen está bem como o italiano Anthony Fiorello, par de Ellis, mas o roteiro o limitou há diálogos unicamente amorosos, e embora possamos ver o personagem se desenvolver, nunca ele toma as rédeas ou tira a atenção de Saoirse. Fato que na verdade ocorre com todos os personagens, cada um é apenas uma ferramenta para a construção da pessoa de Ellis, e poucos se sobressaem mais do que isso. Nenhum ator está fora de forma, mas alguns como sua chefe, o padre que a ajudou e sua irmã estão caricaturados demais. A falta de profundidade nos demais personagens raramente se mostra como um verdadeiro problema, mas por vezes vemos diálogos que não condizem com a personalidade até então imposta por cada um, e que aparecem no lugar e hora errados, inclusive a personalidade de Ellis é revirada diversas vezes durante o filme. Exemplo quando Ellis faz uma brincadeira (clichê, genérica, etc…) de ciúmes com Tony, nem um pouco parecida com o caráter sério e quase intelectual da relação entre os dois. Outro dos problemas do roteiro é a mensagem jogada na cara do espectador ao final do filme, que poderia ter sido entregada de forma bem mais convincente.

 Sem um grande conflito até próximo do fim, onde temos uma vilã por pouco menos de cinco minutos, Brooklyn é quase um retrato de uma fase da vida de uma adolescente imigrante, e utiliza aspectos da história dela em lapsos para desenvolver um romance tratado de forma convincente por seus atores, mas que nunca chega a ser envolvente demais. Prova disso é que quase torcemos para que Jim Farrell, interpretado por Domnhall Gleeson, tenha um final feliz. Apesar de o roteiro de Hornby estar bem montado, um pouco mais de intensidade não faria mal algum. O filme não impacta, choca, e quase falha em emocionar, mas é agradável enquanto existe.

 ‘Brooklyn’ é um romance de época com adornos filosóficos e uma mensagem clara sobre o verdadeiro lar. O filme funciona o tempo todo graças a Saoirse e um ótimo, apesar de subutilizado, elenco de apoio. A direção é firme e fiel quase todo o tempo, e tanto ela como o roteiro contribuíram para que Saoirse Ronan seja uma das favoritas ao Oscar de Melhor Atriz. Um filme que deve agradar aos fãs de romance mais dedicados, mas que pode afugentar alguns espectadores menos pacientes por conta de sua falta de premissa, e por seu título poder dizer mais do que é mostrado. Um filme bonito e um tanto inteligente, merece ser visto, mas dificilmente revisto.

8.4

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