Crítica | Se A Rua Beale Falasse
A vida é bela e brutal.
Adaptação do homônimo livro de James Baldwin. Em Nova Iorque, anos 70. Tish (Teyonah Parris) e Fonny (Stephan James) são melhores amigos desde a infância. Se apaixonam, e preparam para construir uma vida juntos. Seus planos não tomam o rumo esperado. Fonny é falsamente acusado por assédio sexual, e incidentemente preso. Longe de seu amado; Tish descobre estar grávida. Sem o apoio da sogra e suas cunhadas, porém com total de sua família e sogro. Ela desbrava o mundo.
Tish (Teyonah Parris) narra os fatos. Episódios de racismo, brutalidade policial e entre outros. A maneira que a história é contada, mostra a admiração e respeito dela por Fonny. Trazendo feminilidade, ingenuidade e um olhar materno sobre o meio. Esse fatídico evento altera sua percepção sobre o mundo. Agora, ela o vê como realmente é. Inclusive é perceptível a alteração no timbre da sua voz ao longo do filme. Teyonah Parris é uma flor em cena, pouco a pouco desabrocha.
Fonny (Stephan James) e Tish raramente discordam, apesar disso são muito diferentes. Por mais ingênua que ela seja, ele é um artista. Romantiza tudo ao seu redor, idealiza um futuro para os dois. Construiu uma barreira entre eles e a realidade, que os fez abstrair da veracidade desta. Ao longo da trama, vemos como Fonny têm os sentimentos à flor da pele, muito parecido com seu pai. Esse comportamento o envolveu na pior situação de sua vida. Stephan James como Fonny traz joie de vivre, é ambicioso. Existem poucos como ele, que vê a vida como um show e o mundo seu palco. É angustiante ver seu espírito sendo quebrado pelo sistema.
A indicada ao Óscar; Regina King interpreta a mãe de Tish; Sharon Rivers. Como a maioria dos personagens desta desoladora e melancólica trama, assistimos progressivamente o desgaste que a injustiça traz para a vida dos envolvidos. Especialmente para Sharon que faz tudo ao seu alcance para auxiliar a filha e o cunhado.
O diretor Barry Jenkins (“Moonlight”) possui a graciosa habilidade de captar a vulnerabilidade dos personagens, e garante que os espectadores também se sintam assim. Em “Se a Rua Beale Falasse” não é diferente, o filme traz um tom poético e uma atmosfera cinematográfica plástica, se assemelhando com uma peça de teatro. O roteiro é um quebra cabeça, o olhar do espectador é conduzido sutilmente para arbitrariedade do meio. Essa é uma das assinaturas de Jenkins, seus filmes abordam tópicos pesados. Causando introspecção e questionamentos, e no caso de “Se a Rua Beale Falasse” um sentimento devastador.
A parte técnica do filme é gentilmente orquestrada, construindo uma sintonia de; música, fotografia e montagem.A montagem inclui imagens de arquivo da época, ilustrando o racismo no seu ápice. Abalando o espectador. A melancólica música envolve os momentos de glória do casal, e os de ruína. A fotografia tem similaridade com “Moonlight”, fabricando uma atmosfera com cunho onírico.