Crítica | O Primeiro Homem
O viés quase sensacionalista que Hollywood assume vez que outra para narrar importantes momentos da sua história não é novidade. Quando o filme em questão trata de um dos maiores passos da humanidade, a história do primeiro homem a pisar na lua, o engenheiro e astronauta Neil Amstrong, era esperado o narcisismo americano.
Damien Chazelle nos leva para o lado oposto. Não se valoriza os fins da história mas sim os meios que nos levam até ela. O primeiro homem não é um filme sobre o fato em si mas sim sobre aqueles que a alcançaram.
Aliás, todos elogios do mundo ao diretor. Conhecido por ‘‘Whiplash’’ e ‘‘La La Land’’, duas grandiosidades, Chazelle aqui claramente saiu da sua zona de conforto, pela primeira vez dirigindo algo que não estivesse ligado diretamente com a sua vida pessoal, dando vida a algo que filmes do gênero tendem a não explorar. Como ele mesmo citou, as mãos suadas, o vômito na camisa e a sujeira’ eram coisas que ele queria destacar. Todo peso do processo de 8 anos é muito palpável, pesado e incômodo, e emocionalmente o que nos conecta mais com toda equipe.
Ultimamente ando me interessando e pesquisando muito sobre o Cosmo. Seja uma viagem a lua, futuras tentativas de descobrir vidas em outros planetas ou qualquer coisa relacionada a imensidão do nosso universo, pensar sobre isso traz consigo certa ansiedade. Ser um astronauta prestes a pisar pela primeira vez na lua aqui não possui glamourização. É tratada de maneira nua e crua, com todos os medos e anseios que toda situação gera. Ainda bem.
Falando no astronauta, Ryan Gosling, como sempre, está ótimo. Representando Neil Amstrong, o ator expõe uma intensidade que causa um enorme senso de inquietude, pois trabalha em mostrar alguém que apesar de muito ‘‘frio’’ e centrado parece estar sempre em sofrimento e desgastado emocionalmente. Já Claire Foy rouba a cena. A agonia e ansiedade profundas em detrimento com o fato de ter que fazer tudo parecer perfeito para sua família e para o mundo, acrescentando o fato de ter menos falas do que deveria engrandecem ela aqui. Mais que a esposa de Neil Amstrong ela é a representação da aflição de qualquer pessoa ligada a astronautas.
Tecnicamente o filme alcança, dentro de seus pontos altos, coisas maravilhosas, e nos seus pontos baixos, algumas que incomodam. A musicalidade do filme é sensacional, tanto quando precisa ser grandioso assim como quando precisa do silêncio. Já seu ritmo é necessariamente arrastado, faz questão de explicar detalhadamente sua história e criar uma atmosfera contemplativa em relação a todo processo, o que não é um real problema visto que a história em si é engajante. A principal objeção é o uso demasiado de câmera na mão, criando um desfoco e estorvo visual para um filme que não precisaria tanto desse uso.