Crítica | Florist - Emily Alone
Ultimamente eu ando ouvindo grande parte dos álbuns de 2019 durante indas e vindas para o trabalho no ônibus, e claro que isso cria um ambiente mais contemplativo. É algo quase involuntário. É muito melhor (ou pior de certas maneiras), enquanto, com a cabeça apoiada na janela vendo paisagens dando oi e se despedindo simultaneamente, ouvir a voz e as melodias de Sufjan Stevens do que Jeffery de Young Thug, por exemplo.
Conceitualmente, Emily Alone, antes mesmo de ser ouvido, é algo encantador. O álbum é referido como se fosse da banda de Emily Sprague, Florist, porém todo o projeto foi escrito, produzido, tocado e mixado apenas por ela.
Emily, explicou o por que disso e um pouco da história por trás do LP. Ela, que havia se mudado para Califórnia, transformou completamente seu estilo de vida. Aquele esteriótipo californiano: Surfe, Sol e saídas com novos amigos. A contraposição a todos esses sentimentos de euforia e o que o álbum em questão transmite é que, durante esse período, Emily perdeu a mãe e passou por um término de relacionamento que se tratava de uma fonte de estabilidade.
Ela, então, passou a vivenciar uma explosão de criatividade musical enquanto se sentia completamente sozinha. Longe da banda, tanto geograficamente como emocionalmente, Emily resolveu trabalhar no álbum de maneira isolada, mas deixou claro que ele só existe justamente pelo fato de “Florist” não conseguir gravar ele como uma banda. Isso dilatou ainda mais a sensação de solidão. O “Emily Sozinha” aconteceu por causa de Florist, então que seja justamente atribuído o álbum à banda.
Entre crises existências, admiração pelo agora, algumas colagens ambientais, melodias absolutamente lindas, letras extremamente reflexivas e imersivas e a sensação do LP ser inteiramente acústico, Emily consegue, com uma facilidade surreal, compartilhar um pouco do isolamento pelo qual passou.
É normal do ser humano se solidarizar com perdas, sejam elas de algum parente ou de um relacionamento, que é o caso aqui, ou qualquer outro tipo de mágoa em geral, mas é completamente anormal, e algo que todos deveriam se politizar, é dizer que entende pela dor que alguém passa, pois de fato isso é algo completamente subjetivo.
Automaticamente me contradizendo, é possível de certa a maneira entender tudo que a artista passou durante esses momentos de desolamento, mas só porque ela faz questão disso. O álbum começa com a depressiva “As Alone”, onde, durante um monólogo poético e particular, Emily tenta se convencer de que talvez não esteja completamente sozinha como se sente. Cada pequena sensação que ela descreve quebra a parede sensorial auditiva e se torna visual. Quando ela canta sobre mãos específicas que passam pelo seu corpo, ou do sol sobre a sua pele, a amplitude dessas breves sensações de felicidade acontece naturalmente em função de sua voz acompanhada de seus arranjos, e suas palavras evocam imediatamente tais acontecimentos na nossa cabeça.
Emily Alone é uma viagem poética e sensorial e é extremamente nítida a necessidade da artista de compartilhar esse espaço, onde ela flutuava, conosco. É de forma catártica, saindo da deprimida “As Alone” e parando na, de certa forma otimista, “Today I’ll Have You Around”, que Emily consegue sair desse espectro e por novamente os pés no chão para se permitir sentir: