Crítica | Baby - Dijon
Amo ver as coisas atingindo seu potencial. Seja um jogador do teu time, um artista que teu amigo te indicou ou até mesmo aquele pequeno restaurante na esquina da tua casa, ver qualquer coisa que te faz pensar “isso merece mais reconhecimento”, receber tal reconhecimento, traz um quentinho indescritível para a alma.
Não me leve a mal, reconhecimento está longe de um selo de qualidade, mas é, de certa forma, uma confirmação importante de que o trabalho está sendo bem feito. E é isso que Baby faz: confirma o potencial de uma das vozes mais interessantes do R&B contemporâneo.
Dijon não é um novato. Longe disso. Mesmo sem um grande reconhecimento do público, ele sempre esteve próximo do mainstream. Aos 33 anos o cantor já colaborou com grandes nomes como Charlie XCX, Justin Bieber, Matt Champion, e até um papel no próximo filme do Paul Thomas Anderson ele conseguiu. Apesar disso - e seus 7 milhões de ouvintes mensais - sentia que faltava o álbum para ele.
Com diversos trabalhos interessantes, Dijon nunca teve medo de ser autêntico. Suas produções sempre tiveram a sua cara: um som “cru”, imersivo, com vocais apaixonados que sempre representaram um artista sem medo de demonstrar suas emoções.Tudo que eu ouvia dele me fazia pensar “esse cara tem um potencial enorme”.
Amava ver um artista novo que não se rendia a sons genéricos para hitar no tik tok mas, por muito tempo, ele foi só isso: um projeto. Apesar de seus inúmeros acertos, Dijon errava muito. Até mesmo no seu primeiro álbum, Absolutely, lançado em 2021 com aclamação da crítica, esses erros apareciam com mais frequência do que deveriam.
O projeto contou com faixas incríveis como Big Mike´s, Talk Down, Scatching e End of Record, que utilizam das características citadas acima para criar um um som íntimo e orgânico. Porém, em músicas como God in Wilson, Rodeo Clown e Noah's Highlight Reel, senti uma falta de estrutura mais estabelecida para funcionar. As características de seus acertos estavam ali - muita emoção e vontade de fazer algo diferente - mas, nesses casos, ele acabou batendo na trave.
Nada me impediu de me apaixonar pelo Dijon, e Absolutely, mesmo com seus defeitos, é um dos meus álbuns favoritos. Então, vocês nem imaginam a minha felicidade ao ouvir Baby! pela primeira vez, e ver todo aquele potencial se concretizando diante dos meus ouvidos. É um caos controlado, é irreverente, é bonito, é divertido, emocionante e muitas vezes até esquisito. É o artista te convidando para entrar em um novo mundo criado por suas emoções.
Em cada música, é como se o ouvinte estivesse entrando em um novo ambiente. O álbum começa com faixas alegres, onde o artista retrata sua sensação de ser pai pela primeira vez. Como de costume, Dijon canta de uma maneira distinta, onde ele usa sua voz como instrumento. As letras saem enroladas de sua boca e é, por vezes, difícil entender 100% do que é dito, sendo apenas possível sentir o que é cantado.
O clima alegre é interrompido por (Freak It), uma interlude onde ele fala sobre as inseguranças de sua amada, seguida da melhor música do álbum, Yamaha, uma balada romântica que, em tom nostálgico, busca inspiração em hits dos anos 80 enquanto Dijon reafirma seu amor por sua parceira. A próxima faixa é FIRE!, onde através da emoção de sua voz, o cantor retrata o sentimento de se sentir amado mesmo com todas as suas falhas.
E assim a obra vai, tratando de temas de amor, suas nuances, belezas e dificuldades. Em Rewind, uma sonoridade triste toma conta do ambiente enquanto ele fala sobre uma relação em declínio, questionando sua parceira sobre seus outros relacionamentos.
O tom melancólico segue em my man e loyal & marie, e Dijon brilha com seus vocais “brutos”, onde ele, quase gritando, busca passar ao ouvinte seus sentimentos mais tristes. É algo difícil de explicar, mas existe um tom de desespero muito característico em sua voz que adiciona ainda mais camadas para esse ambiente de tristeza que ele busca criar.
Por fim, Automatic traz uma abordagem mais sensual a suas relações e um groove que até então faltava na obra. Baby! termina com Kindalove, a pior das 12 faixas, onde ele, mais uma vez, exalta seu amor por sua parceira.
Tudo que faz o Dijon ser Dijon está presente no álbum. Seus gritos e vocais são apaixonantes, e te passam o sentimento de que o artista está do teu lado, sofrendo junto contigo. É imersivo como poucos álbuns são. Chega a ser difícil colocar em palavras.
Acredito que não é um álbum para todo mundo. Para quem não está familiarizado com as obras mais antigas do artista, Baby! pode soar como uma grande bagunça: as músicas animadas vão parecer desconexas e as mais tristes vão parecer monótonas. Mas, no final de contas, Dijon não parece nem um pouco preocupado em soar coeso e, em um mundo onde a indústria cultural parece mais preocupada em não errar do que acertar, um álbum que não tem a mínima pretensão de ser perfeito talvez tenha conseguido chegar o mais próximo possível da perfeição.