Crítica | Os Sete de Chicago, da Netflix

os 7 de chicago Netflix

A Netflix tem, ao menos, nos mantido entretidos.

Aaron Sorkin é um roteirista singular e responsável por um dos melhores roteiros do século 21, o seminal “A Rede Social”. Mas falar que a qualidade daquele filme, que praticamente previu o futuro, se dá apenas pelo seu texto é ignorar que quem o dirigiu foi David Fincher, nada mais nada menos que (meu diretor favorito!) um dos melhores cineastas de sua geração. Quando comparado a ele, Sorkin está apenas no seu segundo trabalho como realizador, o primeiro sendo o bem recebido “Molly’s Game” (que ainda não assisti) e, pelo menos até agora, ficou claro que sua melhor faceta está sim na escrita, a qual impede este de se tornar só mais um Oscar bait.

Cobrindo o julgamento do grupo que dá nome ao filme, somos transportados de volta a 1968, época onde grupos protestavam contra a guerra do Vietnã, contra a repressão policial, e contra a injustiça do sistema. Sim, não precisa nem assistir pra saber que os paralelos com 2020 estarão por toda parte.

E não que eles sejam exatamente “forçados” em tela, mas a sutileza não é a principal habilidade de Sorkin, o roteirista, por mais que Sorkin, o diretor, tente apaziguar os ânimos. Mostrando um bom controle da mise-en-scène, ele faz questão de transformar o julgamento em um espetáculo intelectual e discursivo, mas visualmente adota uma postura sóbria e que praticamente não utiliza de seu famoso walk and talk. O grego Phedon Papamichael aplica uma palheta de cores achocolatadas na fotografia, realçada por um uso de luzes quentes que aprimoram a construção de mundo sem necessidade de alterar em demasia os cenários - nesse departamento o filme não tenha nada de especial para mostrar. O resultado é uma atmosfera quase aconchegante que combina com a quase dramédia que assistimos, auxiliada em parte pelas performances caricaturais, mas prejudicada pela seriedade que tenta impor àqueles acontecimentos.

A sensação é de que “Os Sete de Chicago” ficou no meio termo entre a ousadia do texto e o conservadorismo da direção, pois se o filme que citei lá acima também era inteiramente construído com diálogos, aqueles te envolviam, principalmente, pela forma como Fincher os abordou.

Ainda assim, me peguei investido e me diverti consideravelmente durante a projeção, pois sempre que os paralelos com 2020 ficavam óbvios demais, algum diálogo ou monólogo traziam a atenção de volta para a narrativa. Não, seres humanos não falam como nos trabalhos de Aaron Sorkin, e talvez por isso eles sejam tão fascinantes: em um mundo onde diretores cada vez mais duvidam da inteligência dos espectadores, Sorkin os julga como inteligentes o suficiente, requerindo atenção redobrada.

Com boas performances, mas nada digno de prêmio, destaco as figuras cômicas interpretadas por Sacha Baron Cohen e Jeremy Strong, e o vilanesco juiz vivido por Frank Langella, um daqueles personagens que provocam raiva e indignação muito depois do filme ter acabado. Por outro lado, Eddie Redmayne nunca me convence de verdade e Mark Rylance, que está bem, parece não conseguir fugir do cliché e se estes dois forem indicados ao Oscar será um exemplo não de seu. talento, mas de sua habilidade em convencer a envelhecida Academia de que são moços muito bons (meme de vômito)! Já Joseph Gordon-Levitt prova sua versatilidade com um personagem moralmente correto, mas dedicado demais ao trabalho, enquanto o talentoso Yahya Abdul-Mateen II rouba a cena com os momentos mais impactantes da projeção - dito isso, é no mínimo frustrante que os Panteras Negras tenham ficado em segundo plano.

Finalizado com uma catarse piegas, mas que não falha em passar aquela boa sensação provocada pelos piores Oscar baits (você sabe quais são), “Os Sete de Chicagos” é um bom filme e que mostra como a história tende a se repetir. Deve conseguir algumas indicações aqui e ali, mas faltou Sorkin ser tão bom diretor como roteirista para elevá-lo a um outro patamar.

7

*Venho do futuro e digo que o filme atingiu seu público alvo. É favorito ao Oscar (vários memes de vômito).

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