Crítica | FKA Twigs - Caprisongs

Novo ano, novas metas e um eu lírico obstinado a não deixar nada atrapalhar sua jornada musical em 2022 e expressar como se sente nesse site.

Nessa toada, o primeiro projeto do ano não é propriamente um álbum, e sim uma Mixtape de uma das artistas mais aclamadas da década passada, tanto pela crítica quando pelo público em geral. FKA Twigs é o tipo de pessoa que parece pensar muito antes de concluir e soltar um projeto para o mundo. O nível de perfeccionismo explícito em cada acorde, nota e harmonia estampa um processo árduo de criação e uma profundidade que sempre se negou, desde a primeira faixa de EP1 até a última de Magdalene, a buscar uma abordagem menos experimental em prol de músicas mais comerciais. A necessidade de carregar um tom vanguardista em seu R&B é uma das principais características de FKA e o que faz dela tão magnética.

Então, para quem veio a ter conhecimento recente sobre ela em razão da abertura intensa e hipnótica de Verdades Secretas 2 (Two Weeks), esse é um bom momento para entrar em contato com a música de twigs. Caprisongs, em seu nome, já parece mais “mundano” e carrega mais trivialidade que qualquer outro pedaço de arte dela, estando relacionado com astrologia e como isso a define: Seu Sol é em capricórnio (Capri Sun -> Caprisongs), o que, segundo a própria cantora, quer dizer que ela “se sente compelida a superar sua dor se dedicando ao trabalho, o que nesse caso significa viver a pandemia indo para o estúdio e gravando, sem pensar demais”.

Musicalmente falando, apesar de todas suas principais características estarem presentes, como seu soprano, a percussão ardilosa e metálica e elementos de art-pop unidos ao R&B, pela primeira vez FKA twigs parece não ser refém de nenhuma pessoa figurativa ou sentimento melancólico e dolorido. Não é como ela afundasse em suas próprias palavras e produção e nos levasse juntos por obrigação. Carprisongs parece muito mais um convite para uma breve ida a praia, onde a playlist que toca no carro oscila em genêro, temperamento e intensidade apenas pela obrigação de não ser monótono, numa sucessão de músicas independentes postas juntas com o propósito de fazer da viagem rápida e agradável ao invés de torná-la um momento catártico.

Nesse sentido, twigs aproveita de sua paz de espírito atual e faz seu primeiro trabalho essencialmente despretensioso. Saber que isso talvez nunca mais se repita apenas deixa o álbum mais aliciante - mas caso ela queira abraçar e aprofundar sua diva pop mainstream interna, não seria causa para objeção. Justamente por ser uma Mixtape, a complexidade do projeto se atem a individualidade das faixas e nada mais. Nesse diapasão, há músicas memoráveis como Minds of Men, onde ela explora o Funk Carioca (!), Meta Angel, uma balada holística onde o lindo arranjo e piano contrastam com a estranheza do auto tune em sua voz ou Honda, onde, sobre um afrobeat, ela se arrisca a rimar e se entrega a uma extravagância impossível de imaginá-la há 3 anos em Magdalene. Por outro lado, músicas como Tears in the Club e Oh My Love são capazes de deixar qualquer momento na estrada, independente da companhia ou da paisagem, completamente intragável.

No fim de tudo, Caprisongs é uma viagem divertida, com paisagens convidativas e por vezes memorável, dependendo dos olhos de quem se põe a janela. Não é a praia ainda, tampouco um enunciado do que vamos ver quando chegarmos lá: é embaralhado demais para nos apontar a direção que estamos indo. Ainda assim, a rota é dinâmica e entusiasmante o suficiente para valer a viagem antes mesmo de pormos o pé na areia para contemplarmos o mar.

7

Melhores faixas: Honda, Meta Angels, Lightbeamers, Careless, Mind of Men, Darjeeling.
Piores Faixas: Tears in the Club, Oh My Love, Pamplemousse.

Anterior
Anterior

Crítica | Belle

Próximo
Próximo

Crítica | Miss Oyu