Crítica | O Nome Encravado em Seu Coração

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O MAIOR PRESENTE QUE O CINEMA EM 2020 PODE NOS DAR VEM DE TAIWAN.

É apenas o segundo longa do diretor Kuang-Hui Liu e já teve a maior bilheteria de Taiwan em 2020, a província chinesa que já venceu o Covid-19 fazem alguns meses. “O Nome Encravado em Seu Coração”, disponível online na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo até dia 4/11 (esta quarta), é difícil de descrever. É difícil escolher as palavras corretas para enfrentar uma obra tão forte, transformadora e absolutamente triste.

É 1987, a Lei Marcial é suspensa e Taiwan começa com reformas democráticas com resistência de uma cultura e um povo ainda muito conservador. A-han e Birdy Wan estão na escola, se preparando para ir para a universidade, até que os olhares mostram mais do que se esperava da relação entre alunos homens.

“Porque entrar numa briga por amor? ”, é a primeira pergunta do filme. O padre pergunta para A-han e ecoa para quem assiste a obra, que toma a escolha brilhante de envolver a narrativa em um diálogo de A-han com o Padre do colégio, para descobrirmos junto com essa figura religiosa esse amor que o jovem sente por Birdy. Vivendo essa descoberta junto com o padre, aprendendo na voz de A-han essa prisão que lhe é imposta culturalmente naquele colégio, impossibilitando se relacionar com Birdy.

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A obra reúne a junção de um momento de revolução histórica, qual a história de Taiwan muda seu rumo e ao mesmo tempo, A-han e Birdy tem suas vidas também revolucionadas. O primoroso ensinamento do filme de que as lutas, os movimentos sociais, as resistências e as vivências de quem é marginalizado vão além do que é debate e conquista jurídica. A batalha não é vencida quando a lei marcial acaba, existe uma outra guerra intensa e ainda mais longa que é abrir o espaço social, negociar o espaço e o respeito com quem sempre oprimiu, e saber que a parte jurídica vem também de muito luta dos marginalizados que conseguiram entrar no sistema.

Nas memórias de um coming of age invisibilizado, “O Nome Encravado em Seu Coração” é uma amostra de uma narrativa menos idílica como “Me Chame Pelo Seu Nome”, e mais pulsante, realista e histórica, que expõe a beleza de histórias LGBTQIA+ em um tempo mais tenebroso. É a história dos amores de Taiwan, assim como de muitos outros lugares do mundo, sendo esquecidos; os beijos que aconteceram enquanto um dormia, o medo da rejeição, do susto, da repressão. Também uma exposição de exemplos físicos e morais que eram e são dados nas ruas quando alguém se posiciona a favor dos direitos civis da comunidade LGBTQIA+, como é o caso do personagem Chi Chia-wei que vê oportunidade de se manifestar a favor do casamento homoafetivo frente ao caminhar da democracia na província.

Edward Chen, que interpreta o protagonista A-han, conhecido entre as séries gays de Taiwan, demonstra a mais bela interpretação de dor de alguém que quer enfrentar a homofobia expondo seu amor por outro homem nos anos 80. Com uma trilha sonora estonteante e uma fotografia inigualável, “O Nome Encravado em Seu Coração” é para todos os amantes de um cinema que encanta em sua tristeza, que emociona e transforma. Para os não acostumados com o cinema asiático, é uma ótima forma de entrada para uma narrativa histórica, para que se entenda o ambiente que se encontram em Taiwan, a cultura e a homofobia de onde vivem. É o melhor que tive a oportunidade de ver em 2020.

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Com “O Nome Encravado em Seu Coração” é que se torna capaz de repensar os posicionamentos necessários ao viver em uma sociedade ainda LGBTfóbica e hetenormativa, entender tudo que ainda temos que lutar e todos que não viveram sua identidade e amor e abriram esse espaço para a geração do século XXI. É se mostrar grato e honrar a beleza de todos que viveram antes. É beleza do início ao fim.

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