Crítica | Longe

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“LONGE” É UMA ANIMAÇÃO EM SUA EXPRESSÃO ALTERNATIVA, CALMA, FOTOGRÁFICA E DIFERENTE DO QUE O GRANDE PÚBLICO TEM COMO EXPERIÊNCIA CINEMATOGRÁFICA.

O primeiro longa-metragem do diretor Gints Zilbalodis é certamente uma marca para sua identidade alternativa dentro da expressividade da animação. O diretor da Letônia, que está no cenário de animações experimentais desde 2012 e já dirigiu outros cinco curtas, lança em 2019 o longa-metragem “Longe”, o qual tem como base de roteiro o seu curta “Oasis” (2017). O filme premiado no Festival Europeu de Cinema Fantástico de Estrasburgo (FEFFS) e no Latvian National Film Festival é escrito, dirigido, animado e com direção de som e trilha-sonora pelo próprio Gints.

Mas o que se esperar de um filme que sai tanto do cenário de produção de animação que estamos acostumados a consumir? Considerando que a grande maioria do público brasileiro consome filmes norte-americanos, quando tratamos de animação vemos um cenário ainda mais concentrado nas produções de grandes estúdios como Walt Disney Animation Studios, Pixar, Dreamworks, Illuminations e alguns outros imensos. Quem se arrisca em sair um pouco da zona de conforto, no máximo, cai na caixinha dos maravilhosos filmes do Studio Ghibli e outras grandes produções japonesas. Quando tratamos das produções do diretor letão, especificamente de “Longe”, falamos de um filme de 75 minutos absolutamente sem diálogo, com pouco trabalho de trilha sonora (usado apenas em momentos importantes) e uma sonoplastia simples. Além disso, a animação é simples, com pouca expressividade, e um 3D que se desloca dentre a solidez de cores básicas.

A história também é simples. Um garoto que acorda pendurado em uma árvore meio a um deserto, preso em seu paraquedas já estragado, avista um grande ser de cores escuras e com aparência espiritual. Esse ser, que tenta o engolir, causa medo no menino que acaba correndo para um oásis protegido por um portal semicircular, o qual o monstro se mostra incapaz de atravessar. Ali, o menino encontra vida, seja em plantas, seja na água cristalina ou no pássaro incapaz de voar que se torna amigo.

Para além disso, o garoto encontra uma mochila com os itens ideais para uma jornada, incluindo um mapa, que detalha a ilha que parece estar. Avista também uma moto, o que parece indicar a necessidade de sair dali e ultrapassar os outros portais semicirculares que se consegue avistar para lá do oásis. E, assim, “Longe” embarca na jornada de fuga de um local que o garoto não conhece e de um monstro que o assusta e que não entende a sua verdadeira intenção.

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Caminhando sobre simbolismos, entendimentos da natureza, comunidade, solidão, o filme é terapêutico. É uma jornada intensa, porém com uma narrativa calma e de contemplação. Sendo uma obra silenciosa, a maior comunicação é feita através da câmera, um privilégio de trabalhar com animação 3D. O maior problema se encontra exatamente no que ele tenta ser o melhor: a comunicação através da imagem. As imagens de horizonte e com maior captação do ambiente são estonteantes, porque o animador claramente sabe trabalhar com luz de forma incrivelmente poética. Ademais, é aí que o filme engaja e consegue se carregar, exatamente na esperança de se ver mais daquilo que é tão belo. Porém, ao trabalhar com os personagens, a animação, simples, não consegue traçar linhas de comportamento e expressividade para além dos movimentos corporais. Isso faz com que não se conquiste uma mensagem mais clara e emotiva e adequada à beleza da obra.

Para os apreciadores de games, é certamente um filme que se encaixa na estética. Nos movimentos de câmera, o traçado da animação e até mesmo a própria jornada muito se assemelham com alguns jogos, como os desenvolvidos pela ThatGameCompany, “Flower” (2009) e principalmente o aclamado “Journey” (2012).

Com três atos bem demarcados, a maior decepção do filme vem com a conclusão, que é imprecisa e quase insignificante para a jornada do garoto. Pouco é realmente preciso de um filme que se entende o que quiser ser entendido, mas que pode ser um bom início para sair da zona de conforto das animações, principalmente para quem quer introduzir uma nova estética para as crianças. É uma experiência prazerosa e nada entediante, e com o baixo orçamento o trabalho do diretor é plausível e delicado, e certamente é um produtor que precisamos ficar de olho. Faltam os detalhes que podem fazer do filme uma obra excelente e muito motivadora, mas falta o comprometimento de se fazer algo além de só uma jornada.

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Sair da grande indústria de animação para viver uma jornada experimental na visão de um diretor da Letônia, em si, já é o suficiente para embarcar na obra. Porém, é necessário entender que a produção, ainda sim, é básica e não sai da zona de conforto de ser uma viagem que apenas entretêm, sem busca de grandes metáforas. É uma fuga que se vale viver.

6,8

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