Crítica | Magnólia
Disclaimer: Esse filme já foi analisado no Outra Hora, na série “Filmes Para Toda Hora”, então, aos que quiserem um segundo olhar sobre a obra, cliquem nesse link.
Para a minha surpresa, não gostei de um filme do Paul Thomas Anderson pela primeira vez. Não só surpresa, mas grande decepção também.
Nenhum dos filmes do diretor é dos meus preferidos de todos os tempos, mas sempre encontrei beleza ou profundidade em todos eles, desde o frenético “Embriagado de Amor” (Punch-Drunk Love) até o alucinante, e não tão aclamado pela crítica, “Vício Inerente” (Inherent Vice). Então, o que aconteceu com “Magnólia”, o filme que muitos consideram o mais ousado do cineasta (e eu, possivelmente, não discorde dessa afirmação), em 188 minutos de puro drama?
Me parece que este filme é o que deverei chamar de “Paul Thomas Anderson gone wrong”. Conhecido pelos seus poderosos dramas psicológicos, dessa vez, o diretor procura criar tamanho melodrama, com tantas implicações, que o produto final acaba resultando, basicamente, em nada.
Se qualquer das histórias do filme fosse contada de maneira direta - sem a alternância e o aspecto de hyperlink -, a sua falta de profundidade tornar-se-ia flagrante, uma vez que os enredos são extremamente simplórios e as caracterizações bastante unidimensionais, sustentadas em reações exageradas e vazias. As histórias não são contadas dessa forma, entretanto, o que pode, à prima facie, esconder a superficialidade delas. O filme não é imediatamente entediante, contudo, quando o espectador começa a perceber que nada interessante vai acontecer, porque já não aconteceu nas primeiras duas horas do filme, a experiência começa a se tornar maçante - pelo menos aconteceu dessa forma para mim.
Como sou suposto a sentir algo por um “coach macho alpha” cujo pai ausente está prestes a morrer? Não diminuindo a morte de um parente, que, com certeza, é um tema delicado, mas o filme nada conta sobre o relacionamento entre pai e filho, com exceção de que ambos se odeiam e foram pessoas repugnantes no decorrer de suas vidas. Como sou suposto a sentir algo por um policial “justiceiro” e incompetente, que, na verdade, não passa de um grande assediador, cujo enredo envolve chamar uma garota (que ele se impôs e utilizou do estado mental vulnerável dela) para sair e perder sua arma, caindo no choro por conta de que “as pessoas ririam dele”. Trata-se, verdadeiramente, de um personagem raso e estereotipado, que imaginei que fosse criado com fins satíricos, mas não é o que o decorrer da história dá a entender, pois apresenta-o como herói.
Eu poderia continuar nessa linha de reclamações, afinal foram 188 minutos de drama sem sentido, mas prefiro, ao contrário do filme, ser sucinto: era impossível sentir pelos - inúmeros - personagens, não porque se tratavam de indivíduos imperfeitos, mas porque suas histórias eram superficiais, suas personalidades eram parcamente construídas, seus diálogos eram burlescos e inexistia uma conexão importante a ser feita entre eles. O filme é, basicamente, hyperlink cinema feito de forma errada. Ressalto que não desgostei de todos os personagens, mas os dois e meio que eram decentes passaram longe de salvar a história, e também sofreram de muitos dos problemas que também dizem respeito ao resto do elenco.
Nem sequer a trilha sonora era boa, e estamos falando de um filme do Paul Thomas Anderson, o diretor que, em filmes posteriores, utilizou Jonny Greenwood, do aclamadíssimo Radiohead, e conseguiu trilhas sonoras incríveis. Algumas faixas ficavam se repetindo irritantemente por minutos, distraindo o espectador dos eventos acontecendo na tela. Quanto às músicas inseridas, essa é uma questão mais subjetiva, mas também não sinto que acrescentaram muito à história. Já não conseguia lembrar de qualquer uma delas minutos depois de assistir ao filme, o que é um mal sinal, mas talvez isso seja consequência do meu próprio desapego aos personagens que as cantaram, então não detalharei muito esse aspecto.
Ao final, há esse grande evento que afeta todos os personagens e é um ar fresco depois de tantos diálogos fraquíssimos. Ainda assim, não passa de uma solução que deixa a desejar - se é que podemos chamar de solução, porque, àquelas alturas, a única salvação só pode vir dos créditos finais, que chegaram somente após injustificáveis 188 minutos de melodrama seco.
Aos que procuram um filme sobre depressão, sugiro “Melancolia” (Melancholia). Aos que querem um melodrama com situações e caracterizações reais e profundas, sugiro “A vida invisível”. Aos que desejam um hyperlink cinema com uma conexão real, sugiro “Amores Expressos” (Chungking Express). Aos que buscam um bom filme pós-modernista, sugiro “O demônio das onze horas” (Pierrot le fou). E, finalmente, aos que querem um bom exemplar de Paul Thomas Anderson, sugiro qualquer um dos seus outros filmes, mas mantenham distância de “Magnólia”.