Crítica | A Mulher na Janela

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Em tempos de pandemia, todos podemos nos identificar com a situação da personagem de Amy Adams.

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Claro, a agorafobia é uma condição séria e que requer cuidados e tratamento, mas os mais responsáveis todos puderam experienciar um pouco essa agonia de ter medo de sair de casa devido ao inimigo invisível que assolou o mundo. Mas se “O Homem Invisível”, de 2020, previu o que viria a seguir e utilizou da linguagem para explorar ameaças que não conseguimos enxergar, “A Mulher Na Janela” tenta apelar para um lado mais sombrio do ser humano, o mesmo que Alfred Hitchcock (e recentemente David Fincher) dominou por completo no Cinema.

Se inspirando diretamente no Mestre do Suspense - e piscando para “O Quarto do Pânico” do Principe (o filho da Rainha Elizabeth é Principe ainda, porque Fincher também não pode ser) -, Wright até consegue mais do que evocar “Janela Indiscreta”, criando uma leve tensão que se mantém por quase toda a narrativa e constantemente nos lembrando que estamos sim assistindo à um exercício de gênero. Porém, aqui entram os problemas nas gravações onde, visivelmente, o estúdio impediu Wright de fazer o que queria e o longa parece que ficou no meio do caminho. Se o objetivo era uma versão reduzida em escala, mas semelhante em forma, do fenomenal “Under The Silver Lake”, o que ganhamos é uma versão alternativa e inferior de “Run”, o tipo de suspense que faz sucesso na Netflix.

Fica até difícil de dizer o que podem ser falhas do cineasta e o que é o faro falho do dinheiro, mas vamos lá: é uma pena que sua habilidade em estabelecer e preencher os espaços seja acompanhada por uma ineficácia em explorá-los quando vazios, algo que a trilha manipuladora e invasiva piora ainda mais. É como se o voyeur não fosse o suficiente para gerar suspense - mas é! - e o filme quisesse lhe puxar pela mão e falar: se assuste com isso! E essa decisão praticamente anula o excelente design de produção e a fotografia de Bruno Delbonnel (“O Enigma do Principe”, “Llewyn Davis”) que consegue usar a escuridão do lugar de maneira sugestiva, mesmo que nunca nada, nem outras sugestões, se materialize dessa sugestão.

Com um roteiro pirado, mas que podia funcionar caso o filme fosse permitido ser o que queria, é visível o quanto o elenco se divertiu criando personagens exagerados e unilaterais, uma pena que, novamente, tenham sido tão pouco explorados e que todo aquele desenvolvimento seja praticamente jogado fora com uma reviravolta que faz força para não ser previsível, esquecendo de ser lógica com a própria abordagem do filme - além de ser irresponsável e de usar um drama familiar como plano de fundo para um psicopata.

No fim, “A Mulher Na Janela” é um entretenimento suficiente e até ligeiro, mas é uma pena que em 2021 ainda tenhamos estúdios que acreditam serem melhores para o cinema do que as ideias dos artistas que contratam.

5.7

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