Crítica | The Staves - If I Was
The Staves, trio de Watford, Inglaterra, composto por três irmãs com vozes de personalidade que funcionam muito bem juntas e que faz um folk que vinha se revelando desde o primeiro álbum, “Dead & Born & Grown”, ganhou a atenção em 2015, com seu segundo álbum: "If I Was".
O primeiro álbum das garotas não foi um debut ruim: tinha composições engajadas e algumas letras de qualidade. No entanto, não passava muito disso, mais da metade do álbum tira proveito somente do doce timbre das vocalistas e de um violão a acompanhá-las. Um disco bom de ouvir, num soft-listening criado particularmente a partir do estilo de folk que seguem, mas que apresentava poucas evoluções durante o andar do álbum. O primeiro álbum do Staves era agradável para uma audição descompromissada tomando chá à tarde no outono (o que não deixa de ser bom) e mostrava potencial, mas parava por aí.
“If I Was” confirma que o potencial tinha base. As garotas que escreviam sobre confusões de sentimentos e contavam pequenas histórias agora escrevem sobre um término de relacionamento com personalidade e de forma madura, e mais: apresentam instrumental muito mais bem planejado, somente um dos fatores que deixa clara a influência do produtor Justin Vernon (conhecido também por Bon Iver) sobre as jovens inglesas. Somente quando coerente utilizam da formatação com a voz no centro da música, mas sem fazê-lo da maneira “fácil” como fizeram no primeiro álbum. E a soma de tudo isso entrega um álbum sólido.
Track by Track
A primeira faixa do disco é uma das melhores. “Blood I Bled” abre o álbum definindo o tom forte que ele tem, tanto na letra, que de certa forma resume a dor de um término que será explorada dali em diante, como na instrumentalização, que mostra como a banda amadureceu ao acrescentar elementos que elevam as canções ao seu potencial máximo. A entrada teatral da percussão na primeira música mostra que ela fará papel importante em “If I Was”, como faz.
"Steady" faz a ponte entre a força da primeira faixa e a melancolia que vem a seguir no disco. Com uma letra subjetiva sobre o receio e inquietação numa relação. A melodia e a evolução da música são cativantes, fazendo dela um dos maiores destaques do disco - produção precisa, atmosfera envolvente, composição excelente.
“No Me, No You, No More”, juntamente com sua continuação, “Let Me Down” apresentam o momento mais melancólico do disco, em que as compositoras parecem assumir o fato de que a relação em questão não vai mais pra frente. Aí então, ficam com o minimalismo da voz e dos violões, auxiliados por um sintetizador e mais poucos elementos.
“Black & White” destoa da narrativa do álbum, o que se reflete na musicalidade - mais rock e mais rápida, com alguns riffs que remetem à influências como The Black Keys - a história que é contada na letra: uma noitada infeliz. Mas é “Damn It All” que quebra o álbum: no “dane-se tudo” é que fica claro que a coisa acabou, e, mesmo que talvez não fossem necessários 6 minutos para fazer essa passagem na audição de “If I Was”, eles não soam forçados - à medida que o baixo e as cordas entram fazendo a faixa crescer, mais concisa parece a ideia que as vocalistas tentam passar.
“The Shining” é outro destaque do álbum. Com um suave piano que protagoniza a música ao lado dos vocais, a faixa tem uma melodia tão original quanto a letra, que aborda a tentativa desesperada da autora de encontrar alguém para limpar a cabeça do sofrimento, mas acabar sozinha assistindo a “O Iluminado” em casa. Seria apenas uma boa canção, não fosse o acompanhamento da percussão casual, da guitarra levemente distorcida e dos sintetizadores, que tornam a faixa mais que boa, ótima.
“Don’t You Call Me Anymore” é calma e melancólica, e volta ao pranto do início do álbum. Talvez a ideia seja refletir uma recaída ou reforçar atristeza que ainda é presente, contudo, talvez não fosse necessária no disco se pensarmos na evolução temática de “If I Was”.
“Horizons” sobe o tempo novamente e joga com um sopro baixo e piano simples, que associados ao agradável uníssono das irmãs cria um arranjo nostálgico sem deixar de ser inventivo.
No entanto, é numa faixa simples e que dialoga com o melhor do primeiro álbum que as garotas crescem: “Teeth White” tem uma guitarra que lembra os trabalhos de 2012 das irmãs, no entanto, tem a espontaneidade que a experiência deu à banda, uma composição bem pensada desde à letra, que desabafa com força no refrão:
I got my teeth white and my jeans tight
I got my hair long and it's still wrong
E o arranjo, excelente, não nos deixa esquecer que Justin Vernon está de olho em tudo.
No trecho final do álbum, “Make It Holy” parece um último pedido de conciliação: a letra é, na sua calma e sutileza, sedutora da forma mais receosa possível.
I could make you want me, make you need me, make you mine
I could make it holy, make it special, make it right
I could make you want me, make you need me all the time
I could make it holy, make it fine
A canção é simples e minimalista na instrumentalização, conta com pouco mais de uma percussão cíclica e violões, no entanto, isso somente, levado pelo vocal das irmãs, que ainda é encorpado pelo backing de Vernon do segundo verso em diante, é exatamente o que a canção pede. Mas a relação abordada em If I Was terminou, e em “Sadness Don’t Own Me”, a letra atesta isso e admite que não há mais o que fazer. A canção é regida pelo harmônico piano, e acaba com o pedido da autora: tristeza, não me possua por muito tempo.
If I Was é um álbum que fala com calor do tema frio que é o fim de uma relação. Ele traz um clima invernal, mas não somente de um jeito ruim, sozinho, debaixo da cama, chorando: intercala os momentos de introspecção e melancolia com os momentos em vlta de uma lareira, com vinho e amigos. O segundo álbum do Staves apresenta melhores letras, instrumentalização incomparável ao primeiro trabalho da banda e uma narrativa musical muito mais engajante. Por mais que melancólico, não deixa a peteca cair por muito tempo, com faixas que apresentam um bom senso rítmico (que mostram, inclusive, o potencial delas para trabalhar com outros gêneros, como soft rock).