Cícero @ opinião - 04/10/2025
Leveza e intensidade: Uma onda em pedaços, de Cícero
Foto: Natália Lima
Quem foi ao Opinião no sábado (4 de outubro) esperando um show acústico e intimista se enganou. O carioca Cícero Rosa Lins trouxe à Porto Alegre a turnê de seu novo álbum, “Uma onda em pedaços”, lançado há pouco mais de um mês, com uma ousadia diferente do restante da sua discografia. Ao contrário do que se esperava, a apresentação entregou intensidade, mesmo com a sutileza e leveza transmitidas pelo cantor.
Cícero, que sabe muito bem como surfar na melancolia e num drama doloroso a cada verso, trouxe esses sentimentos para o show com pitadinhas de humor e melodias enérgicas e animadas. Em canções como “Pássaro Nave” e “Mente Voa”, presentes no novo álbum, o cantor se soltou e até arriscou passos de dança enquanto cantava sobre amores e cidades. Inclusive, em temática, “Uma onda em pedaços” se assemelha ao “Canções de Apartamento”, seu álbum mais aclamado que está prestes a completar 15 anos. Ambos tratam de amores diretos, porém em momentos e com maturidades diferentes.
Falando nele, clássicos do primeiro álbum da carreira não ficaram de fora. “Tempo de Pipa” e “Açúcar ou Adoçante” ganharam um tom mais animado com a banda e, com o refrão com coro, emocionaram o público nostálgico (e por “público nostálgico” lê-se: eu).
Foto: Isabela Wey
“A praia”, do álbum de mesmo nome, também entrou pra lista dos clássicos repaginados, com batidas que remetem ao funk. Já “De passagem” chegou em uma versão forró, levando o cantor a descer do palco e dançar com o público. O momento só intensificou o carisma e proximidade que Cícero apresentou durante todo o show, com vários momentos de conversa e bom humor. Um queridão, que revelou até histórias íntimas de amores que deram errado, ao cantar “Aquele Adeus”, do álbum lançado em 2017.
Chegando ao final do show, já com todas as canções do novo álbum tocadas, Cícero se mostrou aberto à pedidos, mas com ressalvas. Revelou que não canta a música “João e o pé de feijão”, do já citado “Canções de apartamento”, por não concordar mais com ela e acreditar agora, ao contrário de quando a escreveu na adolescência, que existem sim pessoas que enxugam suas próprias lágrimas. Já “Vagalumes cegos”, que eu estava ansiosa para ouvir – já que foi a música que me apresentou Cícero e segue, desde então, sendo minha preferida – ficou de fora por falta de ensaio.
Foto: Natália Lima
Ao final, a banda se juntou ao cantor nos vocais e a percussão ficou por conta das palmas, em um momento que deixou claro a diversão dos músicos no palco e a satisfação do público, que clamou por +1. Menção honrosa à iluminação e projeções do palco, que remeteram a capa do álbum e deram um tom de espetáculo.
Como uma fã levemente incubada nos últimos tempos, devido a um certo tédio vindo da mesmice das músicas, confesso que o show me levou a retomar o apreço e buscar ouvir novamente o “Uma onda em pedaços”, com outros olhos. É sempre bom se surpreender positivamente e ver inovação de um artista, mesmo que já tenha uma carreira longa e consolidada!