Crítica | Para Todos os Garotos que Já Amei: Agora e Para Sempre
Quem me conhece sabe que tento enganar, mas a verdade é que simplesmente amo filmes adolescentes. Ou melhor, Coming of Age. Ou melhor, aqueles que existem com um propósito e não apenas como desculpa para fazer adolescentes chorarem e forçarem os namorados a assistirem junto. O que, em parte, a terceira (e, a princípio, última) parte da história do ensino médio de Lara Jean acaba fazendo.
Com uma trama que mais parece um capítulo de série, agora acompanhamos as dúvidas na cabeça da protagonista quanto à qual faculdade ingressar, sendo que seu namorado vai para Stanford e ela tem outras opções - rich people problems. Junte sub-tramas envolvendo sua melhor amiga, sua irmã mais nova e os respectivos pais do casal principal e temos o nosso “filme”.
De cara, não deixo de simpatizar com a encruzilhada na qual Lara Jean se encontra, e é curioso como, no Brasil, dificilmente vemos este tipo de drama, pois diferente dos EUA onde trocar de estados e morar na faculdade é o “normal”, aqui saímos cada vez mais tarde da casa dos pais. Também por isso, “Agora e Para Sempre” fez algo que apenas os melhores exemplares de seu gênero conseguem, aguçar minha ansiedade por me fazer perceber que aquele momento tão crucial da vida me passou e que desfrutei muito pouco de todas as emoções conflitantes que ele traz. Pois algo que o filme escrito por Katie Lovejoy (que nem tem página na Wikipedia, então deve ser iniciante) parece entender, é que apesar dos obrigatórios finais felizes em filmes PARA adolescentes, a adolescência verdadeira é composta de momentos tristes e felizes, e ambos tem o mesmo grau de importância para quem os vive.
Mas não que “Agora e Para Sempre” seja um filme profundo ou complexo, por mais que aborde temas assim.
Ao menos, vemos um pouco da relação conturbada entre Peter e seu pai, algo que o Garoto Netflix - também conhecido como Noah Centineo - consegue vender bem em um diálogo óbvio, mas sincero o suficiente, ao passo que o drama vivido por Lara Jean pode ser melhor compreendido graças à performance de Lana Condor, que perfura qualquer superficialidade do roteiro com suas reações que conseguem ser honestamente exageradas, mas também sugerem toda a confusão emocional pela qual a menina passa. E palmas para o roteiro ao torná-la uma jovem com sonhos e que percebe que há muito mais na vida do que o namorado, sendo particularmente surpreendente a cena onde ela percebe que sentirá tanta falta das irmãs, amigas e família. Já se o elenco de apoio divide uma coletiva cara de paisagem, bem… ao menos a pequena Anna Cathcart é divertida o suficiente para garantir seu próprio filme/série no futuro (quando acontecer, lembrem que cantei a pedra).
Com decisões estilísticas que me lembraram o bom primeiro filme e me fizeram esquecer por completo o segundo que parece nem existir ou fazer qualquer diferença, o diretor Michael Fimognari parece, às vezes, querer ir além do que a Netflix o permite, com um ou outro movimento de câmera mais ousados que o obrigatório plano e contra-plano que mostra bem (e de frente) o rosto das estrelas teen - um exemplo é a cena onde Lara Jean informa ao namorado qual faculdade quer entrar, com a câmera lentamente deslizando dela para a reação do rapaz. Cuidando também da fotografia, o cineasta faz um excelente uso de luzes indiretas, que tornam os rostos dos atores mais lisos e sem falhas, ao passo que o uso de cores complementares (principalmente o azul e o amarelo, mas também o vermelho e verde) auxilia em fazer deste um dos filmes de adolescente mais vistosos de 2021. Já os mais de 20 planos que evocam Wes Anderson (ao filmar livros e objetos de cima com simetria perfeita) me deixam mais incerto, pois o próprio utiliza essas tomadas em comunhão com a totalidade de seus trabalhos e não em momentos isolados. Também injustificáveis são as montagens que lembram as comedias adolescentes estreladas por Influencers no Brasil, como se mostrar alguém tirando selfies conectasse mais o filme com o público adolescente.
Sendo afetado por seu roteiro pouco inventivo, a sensação é que há realmente pouco para acontecer e podemos adivinhar o final (ou variações similares) logo no começo, diferentemente do brilhante “Booksmart”, de 2019, que parece viver em um universo não muito distante. Pois se aquele se abraça à sensação de imediatismo trazida pela adolescência, esse parece se comportar como uma odisseia sem ter um terço do tempo (cronológico) necessário para tal. Além disso, sinto que oportunidades foram perdidas, como ao apresentar a banda Oasis em determinado momento, pois senti que canção que o casal descobriria como sua fosse ser a mais famosa do grupo, uma que combinaria melhor narrativamente do que aquela que fez Lara Jean escolher um caminho diferente do namorado.
Ainda assim, “Para Todos os Garotos que Já Amei: Agora e Para Sempre” encerra sua trilogia com saldo positivo: consciente do quão bobo soa todo aquele drama, o capítulo final da série consegue tratá-lo de maneira afetuosa e sincera. Algo que, por si só, já o torna mais do que especial.
Ah, sim, meus olhos chegaram a… marear.