Crítica | A Dupla Vida de Véronique

vero.jpg

Comecei a assistir a esse filme com altas expectativas, que, infelizmente, não foram cumpridas.

Quando se trata dos aspectos técnicos, "A Dupla Vida de Véronique" (La double vié de Véronique) é um livro didático do trabalho de Kieślowski. O filme nos expõe aos talentos pelos quais o diretor é conhecido, através de um espetáculo de cores e sons, que realça a experiência do espectador com uma aura mística. Muitos shots são incrivelmente lindos e o jogo de câmera é, majoritariamente, muito inteligente. Contudo, enquanto o filme é ótimo no que pertine aos visuais e à cinematografia, a história e as personagens não se encontram nesse patamar.

la-double-vie-de-vecc81ronique-a-dupla-vida-de-veronique-1991-de-krzysztof-kieslowski.jpg

Este filme me fez perceber o quanto tendo a desgostar dos personagens masculinos de Kieślowski (sob uma perspectiva de escrita, é claro). O que estava acontecendo com esses personagens secundários? Os ex-amores apareciam subitamente e em nada acrescentavam à história. Além disso, havia o mestre das marionetes, o mais ofensivo dos personagens, que era literalmente um stalker que, de alguma forma, enfeitiçou nossa heroína principal e recebeu um status de divindade em uma história na qual eu acreditava que seria sobre as Véroniques.

Quanto às Véroniques, o grande problema com elas - e a maior falha na obra - era a ausência de profundidade na sua conexão. Talvez porque muito tempo foi desperdiçado com o mestre das marionetes, ou com a subtrama do testemunho - nunca saberemos. Então, elas eram doppelgangers (sósias perfeitas), o que é, de fato, curioso e poderia nos direcionar a algo interessante... o que acabou não acontecendo.

A conexão entre as personagens principais pareceu muito solta, sustentando-se em características humanas genéricas como o amor pela música e ser talentoso ou ainda estar à procura de um amor. Esses aspectos simplistas passaram uma sensação de "tanto faz" em um filme no qual, acredito, se pretendia apresentar uma relação forte e transcendental. O filme é curto em sua duração, mas parece longo se colocado em perspectiva com o que efetivamente passou em termos de mensagem.

Enfim, não digo que foi uma experiência ruim, apenas insuficiente a preencher grandes expectativas, já que conheço alguns amantes da obra. Aprecio o que Kieślowski procurou fazer, mas acredito que seu trabalho apenas restou aperfeiçoado posteriormente, em "A liberdade é azul" (Trois couleurs: Bleu), e vejo "A Dupla Vida de Véronique" mais como um protótipo para aquele.

5

Anterior
Anterior

Crítica | Para Todos os Garotos que Já Amei: Agora e Para Sempre

Próximo
Próximo

DPOH#9: O Futuro dos Streamings no Brasil