Crítica | Guerra Fria
Rick e Ilsa, Jesse e Celine… Wiktor e Zula.
Na Polônia socialista pós guerra, Wiktor (Tomasz Kot) é um músico que se encanta pela misteriosa Zula (Joanna Kullig). Censurados e com a impossibilidade de viver seu romance, se encontram pela Europa no decorrer dos anos.
Não é de hoje que os amores impossíveis despertam a sensibilidade e compaixão dos espectadores. Wiktor e Zula não são exceção. Zula é cantora, dançarina. A estrela do “entretenimento” da cortina de ferro, sendo tratada como uma propriedade de tal. Wiktor, um artista, e a última pessoa que Zula deveria se apaixonar. Principalmente pela convicções políticas dele.
O relacionamento deles é construído com hiatos. Os dois passam anos com o sentimento de desconhecimento do que está ocorrendo na vida um do outro. Apesar disso, seu amor não desaparece. Sendo todos seus movimentos com a expectativa de um reencontro. Ao longo da narrativa é perceptível, o desgaste que suas ações, o contexto traz tristeza e consequentemente afastamento. Vendo em seus olhares o descontentamento, o pesar da bagagem emocional na relação. Há momentos em que torcemos que ocorra a ausência de sentimento entre eles, assim sendo a vida mais fácil. Contudo, quando há frames dos dois separados parece errado, uma falta de simetria em tela.
A relação afetiva do diretor (Paweł Pawlikowski) com a história transparece, sendo inspirada no romance de seus pais. Em um filme metodicamente orquestrado, ele consegue com clareza e objetividade o que precisa de cada ator. Wiktor (Tomasz Kot) retrata um homem introspectivo e devoto a sua amada, movendo montanhas para que possam ter seu final feliz. Zula (Joanna Kullig) é uma força em cena, trazendo a ambiguidade e a imaturidade da personagem. Além disso, enfeitiça com sua doce e melancólica voz que entrega algumas das cenas mais tocantes do cinema atual.
O diretor de fotografia (Lukasz Zal) possui um currículo rico em qualidade técnica e identidade artística acima da média. Lukasz novamente, como fez em Ida, retrata com a opção estética do preto e branco. Guerra Fria não se limita a utilizar do artificio estético do P&B, apostando também na tela 4:3. Condensando o sentimento de claustrofobia que Wiktor e Zula passam com os fatores políticos da cortina de ferro,que os impediram de viver seu amor livremente. Capta paradoxalmente, que mesmo distantes e com longos períodos interrompendo seu relacionamento não permitem que seu amor esfrie.
Os encontros dos dois sendo periodicamente, mostram mudanças na aparência física e na caracterização; Tanto dos personagens como dos ambientes. Com esse contexto, a montagem é principal aliada para o roteiro, cortes sutis concedido um ritmo claro e aprazível para o espectador.