Crítica | O mensageiro do diabo
A influência e a atmosfera de um filme renegado em seu lançamento
“O Mensageiro do Diabo” ou “The Night of The Hunter” em seu nome original, é um filme de terror de 1955. O longa-metragem é o único filme dirigido pelo ator britânico Charles Laughton que largou da carreira de direção após “O Mensageiro do Diabo” ter sido um fracasso de público e crítica.
Contudo, após a morte de Laughton, seu único trabalho como diretor foi revisitado por diversos cinéfilos e cineastas, se tornando um filme incrivelmente influente na produção audiovisual sendo referenciado por diversos cineastas como Guillermo Del Toro e Spike Lee.
O longa é um marco para os chamados “Southern Gothic”, filmes que utilizam das paisagens do sul dos Estados Unidos para contar histórias macabras e sombrias das comunidades desta região, usando normalmente principal elemento os dogmas religiosos desta região conhecida como “bible belt” para mostrar uma certa hipocrisia entre o que pregam e o que exercem. E este filme mostra isso muito bem com o Mensageiro do Diabo referido no título traduzido da obra, sendo um pastor que se diz ser um homem de Deus.
Mas, um dos elementos principais e mais influentes do longa é sua estética. Em que se filma as paisagens do sul dos Estados Unidos já apresentadas nos filmes de D.W Griffith aos modos do expressionismo alemão.
O filme abraça as iluminações mais exageradas e teatrais no movimento alemão da década de 1920, sendo referência em como fazer um bom contraluz. Um dos grandes acertos da fotografia do filme assinada por Stanley Cortez, é o uso da silhueta impactante do vilão do filme interpretado por Robert Mitchum. O personagem, sinistro e maquiavélico nos assombra durante todo o filme, é um dos principais elementos de sua imagem, que nos dá arrepios e cria o suspense do filme é sua figura de pastor com roupas formais e um chapéu. Isto fica melhor entendido no momento em que ele aparece pela primeira vez na casa de suas vítimas onde só vemos sua sombra refletida na parede do quarto das crianças. Cena essa que pode ser vista como referência a icônica sombra do Conde Orlok em “Nosferatu” de F.W Murnau.
Outra bela referência vinda do expressionismo alemão, usada na atmosfera do filme, que podemos captar é seu uso de composição, tanto de cenário quanto de sombras, triangular, que aparece se inspirar do cenário de Holstenwall, cidade fictícia em ambienta o filme “O Gabinete do Dr. Caligari” de Wiene. Além das composições triangulares identificamos no filme de Laughton uma teatralidade similar a de filmes como o de Wiene, que se apresenta em diversos planos com profundidade de campo e uso de mais de uma planificação da imagem.
Contudo, se vamos falar de imagens em “O Mensageiro do Diabo” não podemos não comentar sobre o mórbido e lírico plano em baixo d'água da mulher morta dentro do carro, que até hoje é referência para filmagens debaixo d'água e deixa claro que mesmo com apenas um filme Laughton conseguiu dar seu nome como cineasta.