Crítica | A Noiva Cadáver
Nunca fui muito fã do cinema de Tim Burton,
suas obras sempre me pareceram esquisitas pelo simples motivo de serem esquisitas, por mais que seus melhores momentos empreguem sim essa estranheza em favor das histórias que contam.
Porém, este belíssimo “A Noiva Cadáver” me fez repensar.
Contando uma história que nas mãos da Pixar se tornou “Viva: A Vida é Uma Festa”, nas mãos de Burton assistimos a um filme que faz seu personagem questionar se sua miserável vida em um mundo cinzento é mais valiosa que aquela que sua noiva cadáver lhe oferece no colorido mundo dos mortos.
Inclusive, o próprio visual da tal noiva é feito pensando nisso, sendo que é a personagem mais “cheia de vida” criada pela equipe de animação, com lábios carnudos e com a energética e apaixonante performance da sempre fascinante Helena Bonham Carter (ex-esposa do diretor) a transformando em uma criatura muito mais atraente do que sua contra-parte interpretada por Emily Watson, como uma jovem adorável, mas que claramente precisa pegar um sol. Após a morte, todos parecem ter percebido o que perderam durante a vida e a forma gradativa como o Victor de Johnny Depp (falar bem dele hoje é algo complicado) passa a aceitar sua experiência do lado de lá mostra algo que também experienciamos. Em determinado momento, mesmo a falta de pele e osso de seu cachorrinho não o impede de se sentir feliz ao revê-lo, afinal a principal mensagem que o filme passa é que a única coisa que deveria importar é como nos sentimos em relação as pessoas da nossa vida e que esses sentimentos independem (ou deveriam) do material.
Não apenas os personagens, mas os próprios cenários refletem estes mundos: o vivo é cinzento, pontudo, com corredores estreitos e claustrofóbicos que levam a cômodos largos e isolantes; ao passo que o morto é colorido com cores vibrantes e, dentro da aparente desorganização de suas construções uma por cima da outra, cria um senso de aconchego e proximidade.
Com números musicais divertidos que podem tornar a experiência menos abrasiva para o público infantil - que vai estar muito mais bem servido assistindo à “Viva…”, diga-se - “Noiva Cadáver” também convence do ponto de vista narrativo, sendo que, ao nos mostrar aqueles dois mundos pelos olhos de Victor, ficamos com as mesmas dúvidas na cabeça que ele, o que torna o roteiro consideravelmente imprevisível, mesmo dentro das convenções de romance que ainda se apega. E é impnrescindivel apontar como a trilha de Danny Elfman contribui para transformar a dualidade da experiência ainda mais rica.
Encantador de uma maneira mais do que esquisita, este é facilmente meu filme favorito na filmografia de Tim Burton, uma animação tecnicamente exemplar e com uma mensagem que, de novo, a Pixar parece ter respondido com sua péssima tradução do bom filme de 2017: