Crítica | Toy Story 3

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O mundo parava para ver a Copa do Mundo, o Brasil se espantava com a revelação do caso do goleiro Bruno e mais de 4 milhões de brasileiros iam ao cinema assistir o terceiro filme da já aclamada série da Pixar, Toy Story. Ali, em 2010, as sequências não estavam consolidadas como uma forma de ganhar ainda mais dinheiro, o que hoje é bem comum, em parte, porque a Pixar se arriscou ao lançar o terceiro Toy Story 11 anos depois do segundo filme e, naquele ano, se tornou o filme de animação com maior bilheteria de todos os tempos. O sentido disso naquele momento foi nítido, pegar o público que nasceu nos anos 90 e era criança quando os dois primeiros filmes da série saíram e o público infantil que nasceu nos 2000 e ainda não tinha contato com a série. Naquele momento a impressão que dava era que tudo que a Pixar tocava virava ouro, saia seu 11º filme, os dois anteriores tinham sido Wall-E e Up, filmes que tiveram muito destaque e Toy Story 3 era uma espécie de auge desse estúdio que teve imenso destaque nos anos 2000. E entra nessa lista justamente pela magnífica história contada e a capacidade que sustentou nesses 10 anos de emocionar públicos de todas idades. Assim como o salto entre de tempo entre um filme e outro, a história se passa anos depois de Toy Story 2, com Andy já formado da escola e indo para uma faculdade.

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Os primeiros 10 minutos do filme são perfeitos. Abre com uma sequência de ação dos brinquedos em uma super trama em que Woody, Buzz e Jessie combatem Sr. e Sra. Cabeça de batata e o Porquinho, esse momento bastante animado se encerra com uma sequência de vídeos caseiros que mostra o tempo passando, Andy crescendo enquanto brinca com os seus brinquedos, é como um reencontro dos personagens queridos com o público, uma pequena janela no período entre o fim de um filme e o começo do outro. Em seguida, corta para os personagens fazendo aquilo que a gente foi acostumado a ver… um plano. Sem explicar o que é, só vemos os personagens dentro de um baú enquanto executam as partes planejadas, o que entedemos é que esse plano consiste em roubar um celular e ligar pra ele. Quando toca o celular vem Andy, mais velho, pela porta do seu clássico quarto, abre o baú com todos seus brinquedos queridos dentro, pega o celular e vai embora. Toy Story é uma trilogia (sim, trilogia) sobre mudança, o primeiro filme é sobre aceitar coisas novas e sua história então se dá com brinquedos de crianças, o segundo filme fala sobre abandono, contando a história de brinquedos que perderam seus donos e no terceiro filme o tema, então, é que a vida muda, as pessoas na nossa volta mudam e essas mudanças que nos permitem ser felizes. Isso que os brinquedos ainda não sabem na primeira cena em que, tristes por Andy não querer mais brincar com eles, se sentem rejeitados. Justamente esse sentimento que vai criar (atenção para a hipérbole) o melhor vilão da década: Lotsu. O ursinho de pelúcia rosa que tem cheiro de morango e por ter sido esquecido e trocado por sua dona se torna um ser maligno. Ele representa o anti-tema do filme, é uma maneira dos próprios personagens verem o que pode acontecer se eles não superarem seu antigo dono e esse personagem é apresentado e desenvolvido de uma maneira incrível: em um primeiro momento ele representa a nova vida dos brinquedos na creche “Sunny Side”.

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A metáfora bem explícita é que os brinquedos começam na “sala Lagarta”, das crianças menores e se conseguirem se adaptar ao sistema podem ser promovidos para a “sala borboleta”. Essa adaptação ao sistema representaria abraçar uma negação do passado deles e aceitar o ódio ao seu antigo dono, e assim, seguir o caminho de Lotsu. Os personagens devem fazer isso sem seu líder máximo, Woody, que consegue sair de Sunny side para tenar cumprir seu destino e voltar para Andy. No seu caminho ele acaba na casa de uma nova criança e redescobrindo a brincadeira e a felicidade de ter uma dona. Ao redescobrir esse momento de vida e, também, que seus companheiros estão presos na creche, Woody retorna e lidera, mais uma vez, seus amigos em um plano para derrotar Lotsu e sair da escolinha. Paralelamente os brinquedos descobrem que Andy tinha o objetivo de guardar eles. Com a trama concluída eles voltam pra casa, mas eles e Andy sabem que é hora de se despedir e o dono, no clímax da série, entrega seus brinquedos para Bonnie e brinca com eles por uma última vez. Toy Story 3 é uma história sobre mudança. Sobre poder amar momentos da nossa vida que já passaram sem se apegar a eles e nos dando oportunidade de seguir em frente. A lição dos filmes é que podemos ter uma relação saudável com as nossas lembranças e ser livres para viver nosso futuro, é um filme da nossa década porque essas questões muitas vezes são usadas para justificar autoritarismo e racismo como uma maneira de evocar um passado construído pelos Lotsus do mundo e relembrado com ódio pelas mudanças do mundo.

Se nessa década vivemos isso, que na próxima possamos ser mais Woody que Lotsu.

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