Crítica | Nosso Sonho - A História de Buchecha e Claudinho

Filme sem cinema, história sem dilema.

Nova cinebiografia musical brasileira não sabe se divertir.

Eu fui ver “Nosso Sonho” sem querer, era o filme com o horário mais próximo no cinema e decidi entrar. E de forma nenhuma me surpreendi com o que aconteceu na tela. A história dos primeiros super astros do funk, dois personagens carismáticos que surgiram da única manifestação cultural brasileira que interessa em 30 anos, parece cinematográfica de forma até meio intuitiva. Problema é que essas cinebiografias musicais que tomaram conta da nossa produção não se interessam por coisa nenhuma.

Com uma estrutura episódica e mecânica, o filme conta a história da dupla na perspectiva da vida de Buchecha. Dessa maneira, vemos como o menino se tornou um grande astro da música apesar dos obstáculos que encontrou e como seu amigo de infância o ajudou a superar seu constante mau humor e encontrar alegria na vida. Os dois personagens são interpretados por Juan Paiva (Buchecha) e Lucas Penteado (Claudinho) e o pouco de bom que se pode ver em “Nosso Sonho” passa pela dinâmica entre os dois, de preferência quando estão sozinhos no mesmo plano interagindo. O que acontece pouco.

Mas incomoda mesmo é quão pouco cinema há em “Nosso Sonho”, tocar “Eu só quero é ser feliz” e “Tempos Modernos” nas versões originais completamente ocas, os personagens reunidos em volta da TV vendo “Central do Brasil” (mentindo que “Nosso Sonho” não é uma versão 2023 de “Os Dois Filhos de Francisco”), é tudo óbvio e sem compromisso. Não é capaz nem de se comprometer ao próprio filme, uma vez usa imagens de arquivo da dupla e dos bailes funks, uma vez usa animações e uma vez usa vídeo montagem, as três com o mesmo objetivo, então por que não usar só uma delas? Aliás, as imagens de arquivo dos bailes funk dos anos 90 só servem para deixar as cenas dos mesmos bailes regravadas para o filme completamente sem graça, atenuar a falta de diversão genuína do que vemos na tela.

E isso que mais me chamou me atenção. Que o filme não fosse bom ou que não parecesse cinema eu já imaginava, mas que seria tão sem graça foi uma surpresa. “A gente é sobre união” diz Buchecha em uma cena, eu discordo, Claudinho e Buchecha é sobre diversão, a capacidade da dupla de brincar e contar piadas em qualquer ambiente, as suas coreografias debochadas e letras melódicas cantadas com a língua presa divertiram o público, e são até hoje impressionantes. Mas, com poucas exceções, como a cena em que Claudinho finge ser um empresário da dupla ao orelhão, “Nosso Sonho” não tenta a mesma diversão.

“Nosso sonho” não é um filme ruim, mas o que tem de cinema não é bom e o que tem de bom não é cinema. Feito com recursos públicos e privados para mais uma produção vazia nacional, a quarta cinebiografia brasileira de 2023. Seguimos desperdiçando os editais contando histórias de artistas queridos que poderiam captar recursos privados por conta própria e que quase nunca resultam em bons filmes, ou ao menos filmes divertidos. Enfim, enquanto se produzirem “Meu nome é Gal”, “Nosso sonho”, “Somos tão jovens” não vamos ver algo como Claudinho e Buchecha (original, divertido, popular) surgindo no cinema brasileiro nunca.

5

Anterior
Anterior

Cinema Marginal: Cafajestes e Canalhas, Reais e Imaginários 

Próximo
Próximo

Crítica | Guts - Olivia Rodrigo