Crítica | Os Rejeitados

A rejeição de payne.

Diretor retorna com filme cansado demais para pensar além do bom roteiro.

Desde as logos retrô dos estúdios e da maneira de apresentar os créditos, “Os Rejeitados” quer nos contar que é um filme antigo, desses que não se faz mais. E ao longo de 130 minutos Alexander Payne repete esse ponto muitas e muitas vezes enquanto assistimos a uma charmosa história sobre um tipo de família que fica para trás com suas mágoas no natal. O roteiro elegante, capaz de fisgar qualquer produtor ou investidor com certeza, parece ter sido suficiente para Payne abrir mão de dirigir seu filme para além poucas ideias visuais ineficazes, demonstrando insegurança que lembra a do seu personagem principal.

Um filho sem pais, uma mãe sem filho, um homem sem família passam o feriado das famílias juntos e sozinhos em uma grande escola, rejeitados emocionalmente e materialmente do resto do mundo e aprendendo novas maneiras de encarar suas vidas incompletas e injustas, um ensinando ao outro como enfrentar os complexos desafios. "Rejeitados” é sim um longa que Hollywood não faz mais, filmado em 35mm, com melancolia e escopo emocional que desafiam os sentimentos e empatia do público e dos personagens, Payne constrói um ethos que ficou perdido nos anos 70 e 80 do cinema americano, mas uma razão do cinema dos anos 2020: sem criatividade, sem esforço e mal filmado.

Desde as primeiras cenas chama atenção o desleixo do diretor com o longa-metragem. Há três cenas em sequência que devem apresentar os protagonistas como indivíduos antes de formarem o grupo que acompanhamos na história, acontece que as três cenas são idênticas, Payne não faz nada nelas que permita que a gente saiba quem são aquelas pessoas além dos seus diálogos. Por toda produção o que vemos na tela é indistinto de uma coisa qualquer, não lembro de uma cena decupada para ser algo por conta própria, só temos uma imagem e depois a outra e depois a outra com a câmera andando de um lado para o outro procurando filmar algo que nunca sabe o que é.

É uma pena porque tem algo de muito gracioso na história desses três desajustados. A família improvisada em que os três atores são tão generosos dividindo a tela quanto seus personagens com suas dores, os acontecimentos são repetidos desde o momento que os três ficam sozinhos até o final, mas cada um tem seu charme e sua personalidade no roteiro. A troca de presentes na manhã de natal é um micro momento que representa a história de pessoas incapazes de lidar com o mundo desbravando ele juntos, mas parece comicamente única. Só não é filmada com nenhuma ideia diferente das outras, infelizmente.

A dor dos dois personagens masculinos do trio deve ser a dor de Payne, um diretor que teve tanto entusiasmo em torno de si, e fez belos filmes mesmo, e parece ter uma pasta de projetos que não vão para frente maior do que sua obra completa. Sua direção seria desastrosa se não fosse salva por três ótimas atuações e um roteiro redondo (que é a única coisa que crítica e indústria sabem ler hoje). Seu trabalho carrega a insegurança de um diretor que corre por fades e mais fades e mais fades para tornar seu filme mais suave e talvez assim ele deixe de ser um rejeitado da indústria. A boa notícia para ele é que funcionou, a má para quem gosta de cinema é que o diretor de “Election”, “Sideways”e “Nebraska” parece não estar mais por trás da câmera.

“Rejeitados” é sim um filme que pertence há uma grade de TV aberta no natal, um especial dos anos 1980, para se alugar numa locadora em um sábado com chuva e ver em família. Talvez dos anos 80 até hoje esse tipo de filme tenha se cansado. Porém, no tempo em que ele acha que pertence jamais seria considerado um bom filme, agora na era das super franquias é aclamado como grande coisa, que infelizmente não é. Mas é emocionante aos poucos com a troca na cena final entre mestre e aluno com a mãe que aceita a morte prematura do seu filho com um trio que sem família e amigos se encontra e se apoia e faz o natal um pouco mais especial.

5

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