As 10 Melhores Músicas de 2013

A segunda década do século 21 está chegando ao fim e para comemorar (?) decidimos retornar à todos os anos desde 2010 e listar os melhores álbuns, filmes e músicas de cada um.


E chegamos a 2013, um dos melhores anos de singles e álbuns da década, que marcou a reinvenção de artistas consagrados e a descoberta de novos talentos.


10 | haim - the wire

O amor fraterno entre as irmãs Haim tomou um caminho inusitado, fazendo com que as três conseguissem se estabelecer no cenário indie sem se separar ou mudar o que são. Neste, que foi o primeiro grande single do trio, seus talentos são apresentados da melhor forma possível para um público que hoje, alguns anos depois, ainda não bem captou toda seu cativante potencial.

Compondo uma das canções de término mais agradáveis e amigáveis já escritas, o trio alterna seus vocais de forma quase inteligível, como se todas partilhassem do mesmo sentimento sobre aquele relacionamento que, real ou fictício, já estava mais segurando a moça (ou todas elas), do que as levando para frente. E não, não parece que as coisas estavam ruins, as palmas e o riff de guitarra agitados, mais as performances desprendidas das moças passam a ideia de que era apenas a hora certa de mudar.

Terminar nunca é fácil, ainda mais quando não há um motivo claro para isso. Talvez você possa cantar “The Wire” para seu futuro ex quando a hora chegar e os dois podem dividir um delicioso sorriso antes de se separarem de vez.


9 | james blake - retrograde

Os murmúrios de James Blake cativam o pessoal que escreve para este site, mas isso não é novidade para ninguém que nos acompanhe por tempo o suficiente.

“Retrograde”, o maior destaque de seu ótimo “Overgrown”, distorce sua voz, instrumental e sentimentos como de costume, criando uma estética elegíaca, fria, arrebatando pela vulnerabilidade de como mostra seus sentimentos sem nunca expô-los de verdade. Blake é um mestre em criar este tipo de atmosfera e de enriquecer narrativas sempre que sente vontade.


8 | arcade fire - reflektor

O disco “Reflektor”, ainda não tenha conseguido manter o altíssimo nível da discografia da banda até então, ainda foi um dos melhores de 2013 e um trabalho excelente. Dentre seus destaques está uma das melhores faixas do ano, a própria “Reflektor”.

Com mais de 7 minutos de duração, nenhum segundo parece desperdiçado. Misturando disco, rock, art pop e eletronica, o Arcade Fire, junto à James Murphy e com participação de David Bowie, cria uma faixa que é dançante, inventiva e épica. A instrumentação é evidentemente muito bem cuidada, e nada parece fora do lugar. Ao longo de uma estrutura musical que divide-se em 3 partes, “Reflektor” está envelhecendo como vinho, e é uma das maiores faixas já lançadas pelo Arcade Fire.


7 | disclosure - white noise

Se “The Wire” é o término que todos sonham, “White Noise” é o que todos temem. Infelizmente, todos já convivemos com um relacionamento assim, seja nosso ou de alguém próximo. Onde o conturbado final se torna abusivo, onde um não quer mais o bem do outro, quando a voz da pessoa só parece barulho, não importa o que ela fale.

Porém, assim como as irmãs Haim, o duo britânico, auxiliados pelos magníficos vocais propositalmente abstentes de emoção desnecessária de Aluna George, empregam à canção uma produção que transforma todo o drama em uma quase robótica resposta, afinal, nestes casos, a ironia é a melhor saída.

Talvez o melhor single de sua discografia, “White Noise” é pulsante, cativante, contagiante e uma das melhores músicas eletrônicas de sua década.


6 | lorde - royals

Anos antes de Billie Eilish apontar como a nova favorita - ou principal alvo, como você preferir - do cenário Indie, a neozelandesa Lorde, tinha um impacto parecido, mas sem todos os memes e mitos ao redor de sua persona.

Ela era, talvez, até mais simples, mesmo que em essência tivesse uma índole similar à de Eilish. Anos depois, em seu belo “Melodrama”, descobrimos que ela só queria, realmente, ter uma adolescência normal, contar os dólares com os amigos antes de uma festa e dirigir Cadillacs apenas em seus mais profundos e luxuosos sonhos, pois a vida em sua pequena cidade não lhe permitia isso.

Inusitadamente, “Royals”, uma música que vai contra toda a ostentação da mesma forma que Eilish vai contra toda a levianidade da juventude, se tornou um dos maiores hits de um ano onde os maiores nomes da indústria decidiram alinhar as estrelas e dar as caras ao mesmo tempo. Talvez você não lembre, ou saiba cantar todos os hits de Rihanna, Timberlake, Jay-Z, Eminem, Beyoncé ou Kanye West daquele 2013, mas “Royals”, com certeza, ainda tem um espaço guardado na sua cabeça.

Lorde foi a primeira de uma nova leva. Mais do que isso, Lorde foi ela mesma e isso era o suficiente.


5 | beyoncé - drunk in love

Por anos a música pop transformou - e talvez ainda transforme - a solteirice na maior fonte de sensualidade, sexualidade e, é claro, hits que tomem conta das rádios. Afinal, o casamento é quando a selvageria acaba, quando você sossega e começa uma vida mais tranquila e, presumidamente, sem as mesmas emoções e experiências.

Para Beyoncé, que em 2013 daria um novo sentido para o que seu próprio nome significaria, essa premissa não poderia ser mais errada. Em todo “Beyoncé”, mas principalmente aqui, Beyoncé mostra todo seu inconcebível talento e visionarismo, se divertindo muito no processo.

“Drunk In Love”, um dos maiores hits da parte posterior de sua carreira conquistou a todos ao fazer exatamente o que não a sociedade não espera de uma mulher casada: transformar uma noite de amor com o marido na cozinha na música mais sexy e sensual de sua década. Durante os cinco minutos da faixa, uma fusão quase perfeita de R&B e Trap, ela canta e até rima de forma provocativa, transformando as claras metáforas em gritos de liberdade depois de tantos anos tendo de se adequar ao que o mainstream queria que ela cantasse.

E apesar da química de ambos ser efervescente, é como se eles nos convidassem à esquecer os tabus impostos pela sociedade e apreciássemos, com inveja, talvez, a vida de duas pessoas que ainda se amam com a mesma intensidade de sempre e podem se dar ao luxo de viverem embriagados de amor, pois todo o resto está onde deveria estar.


4 | kanye west - new slaves

Por mais que o infame momento de 2009 com Taylor Swift pareça ter sido o grito que desencadearia a avalanche responsável por transformar Kanye West, o maior rapper do planeta em Kanye West, o artista mais controverso desde Michael Jackson, talvez “New Slaves” tenha sido a primeira pedra a rolar após um breve raio de sol (“MBDTF”) acalmar a montanha.

Apresentando a faixa no Saturday Night Live e a divulgando em projeções em muros ao redor do mundo, Yeezy apontava para uma nova direção, ainda mais reclusa, ainda mais abrasiva, ainda mais divisória que seu melancólico R&B em “808 & Heartbreak”. Com uma produção minimalisticamente pulsante, o primeiro single de “Yeezus” traz toda a mutante forma que transforma o álbum no momento mais provocativo de sua discografia e não economiza na literalidade.

Sua mãe nasceu a água era diferente para negros e brancos, e ele agora tem de “garimpar” o próprio algodão para conseguir entrar em um ramo predominantemente branco (a moda) enquanto se divide no eterno limo do racismo consumidor: não toque em nada na minha loja / por favor, entre e compre a mais cara corrente de diamantes.

Mas ele, Kanye West, nunca seguiu ondas e não seria ali. Afinal, há líderes e seguidores e, entre estes, ele prefere ser chamado de tudo o que é chamado do que apenas engolir tudo que querem que ele engula. Essa frase fica tão melhor em inglês.


3 | drake - hold on we’re going home

Há uma grande chance que até mesmo sua mãe saiba quem Drake é hoje. Além de ser o rapper mais popular de seu tempo, o canadense é um símbolo cultural de calibre mundial, cuja influência vai desde sua dominância na primeira era do streaming à seu status de embaixador do atual time campeão da NBA, o Toronto Raptors.

Mas antes disso - e talvez até mesmo agora - decifrar quem é Drake, o artista, é uma tarefa aparentemente simples, mas que ele próprio torna árdua. Imaginar que alguém pode ir de diss tracks à uma canção de amor como esta não é apenas um sinal positivo de ecleticismo, mas talvez um preocupante de foco e personalidade. Afinal, quem é este homem? Um rapper como tantos outros, preocupado em ser o mais quente e durão do momento, ou uma pessoa extremamente solitária que, por conhecer tantos amores, parece nunca ter tido sequer um que respondesse seu chamado de amor eterno.

“Hold On We’re Going Home”, com sua paranoica e preocupante primeira frase, é uma declaração de amor de Drake ao romancismo dele próprio, sendo que talvez a garota que ele esteja de olho já tenha ido e vindo tantas vezes que ele nem mesmo sabe quem é. Inexplicavelmente, sua busca se torna ainda mais relacionável e instigante por conta disso.


2 | vampire weekend - hannah hunt

Ezra Koenig talvez tenha dado a viagem mais longa de sua mente durante uma aula de budismo, onde teria conhecido a já famosa Hannah Hunt, que dá nome à peça central do seminal álbum de sua banda, “Modern Vampires of The City”.

Pense no quão branca soa toda essa temática, de vampiros modernos se apaixonando em uma cidade conceitual, marcada por uma névoa cinzenta que apenas acentua o quão distorcida e enigmática é a vida em meio à selva de concreto. Agora, saia deste lugar e vá para a estrada, para um festival, para um show fora da cidade, para algum lugar onde você pode ser jovem e leviano o quanto quiser, pois é exatamente isso que todos esperam de você. Ninguém vai lhe julgar por isso.

Assim é “Hannah Hunt”, a música, um momento da mais pura mágica que é ser um jovem apaixonado por alguém em quem nem ao menos pode confiar. Ezra canta o refrão duas vezes ao final da música, da primeira, sua voz está calma, ele canta para si mesmo, da segunda, é como se ele estivesse externalizando todo aquele sentimento para quem quiser ouvir. Aquela história, afinal, é dele, mas também é de muitos outros jovens como ele.

No fim, ele sabe. Hannah nunca foi para sempre, e por isso ainda é tão especial.


Menções Honrosas: Justin Timberlake, Mirrors; Hozier, Take Me To Church; Kanye West, Blood on the Leaves; The War On Drugs, Red Eyes; Miley Cyrus, Wrecking Ball.


1 | daft punk - get lucky

O poder da música é algo espetacular. O autor Oliver Sacks, em sua obra de 2007, “Alucinações Musicais”, aponta a presença quase que unânime na espécie humana de algo que ele qualifica como musicofilia, a habilidade e cognição rítmica, melódica e harmônica que todos nós possuímos e nos faz curtir a experiência musical. David Byrne, no livro “Como Funciona a Música?”, reitera essas afirmações e vai além, expondo como nossa experiência com ela é dependente de como ouvimos, quando, onde e com quem.

Em 2001, o Daft Punk lançou um dos álbuns mais influentes dos anos 2000, “Discovery”. Em 2005 veio o mais fraco, mas ainda sólido “Human After All” e em 2008 o último trabalho da dupla antes de um longo hiato, com a trilha musical para “TRON: O Legado”. Quando se iniciaram os rumores da volta dos franceses, a única suposição segura a se fazer é de que seria algo grandioso - dito e feito.

O álbum “Random Access Memories” foi um sucesso em 2013, com diversos hits , mas o carro-chefe, e maior estouro do disco, com certeza foi “Get Lucky”. Mas, por quê? Existem diversas razões, algumas mais técnicas e objetivas, outras mais subjetivas, que podem explicar isso.

“Get Lucky” combina: uma linha de baixo e harmonia cheias de groove; a guitarra de um dos virtuosos da era de ouro do disco, Nile Rodgers; os vocais aguçados de Pharrell Williams; os clássicos vocoders do Daft Punk. E o combo funciona.

Essa união de fatores fez com que “Get Lucky” fosse aquele som que praticamente todo mundo gosta, mas não por ser genérico - por simplesmente funcionar, em quase todas as esferas que uma música precisa, e por trazer elementos de diferentes eras da música. A presença de Pharrell atrai o público jovem, assim como os detalhes eletrônicos da produção do duo. A guitarra de Nile e o groove disco cria familiaridade com quem viveu os anos 70. O Daft Punk interliga essas diferentes épocas com maestria, usando de produção primorosa e de uma composição que, sem ser de outro mundo, funciona muito bem.

Dessa forma, todo mundo cantou, dançou e curtiu, nem que fosse uma única vez, “Get Lucky”, em 2013. Os mais velhos, os mais novos, de diversos cantos do mundo. E no final das contas, se o poder da música e a razão pela qual a amamos passa tanto por como experienciamos ela junto as outros, nos parece mais do que justo eleger como faixa do ano de 2013, aquela que teve a maior capacidade de unir as pessoas.

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