As 10 Melhores Músicas de 2015

A segunda década do século 21 está chegando ao fim e para comemorar (?) decidimos retornar à todos os anos desde 2010 e listar os melhores álbuns, filmes e músicas de cada um.


Foi difícil chegar nessa lista.

2015 foi um grande ano entre os anos 2010, foram diversos álbuns de altíssimo nível. O pop teve um sopro de ar fresco , o hip-hop teve lançamentos históricos e o rock recebeu algumas novas faces muito bem-vindas.

Essas são as melhores músicas de 2015.


10 | carly rae jepsen - run away with me

Poucas artistas Pop foram tão injustiçadas em sua carreira como Carly Rae Jepsen que, graças ao sucesso estrondoso de “Call Me Maybe”, jogou uma sombra interminável sobre tudo que lançaria, pois seria impossível emular a sensação e o fenômeno que foi aquele hit.

Porém, poucas artistas Pop são tão talentosas como Carly Rae Jepsen que, ao montar o belo “Emotion”, nos agraciou com vários outros hinos vindos do mesmo pote de ouro de seu single mais bem sucedido.

“Run Away With Me” traz a tona sua habilidade tão natural de evocar aqueles momentos da sua adolescência onde a vida parecia tão colorida e cheia de emoções que qualquer sorriso ou discussão poderiam acarretar decisões extremamente precipitadas. Misturando elementos do dance-pop sueco com aquele quê de pop chiclete norte-americano, por mais óbvia que seja a atmosfera desejada, é impossível não ceder a tentação e, simplesmente, ir embora com ela.


9 | david bowie - blackstar

Foram dez anos de hiato que trouxeram Bowie de volta com o bom álbum “The Next Day”, em 2013. Contudo, é seguro afirmar que ninguém esperava que seu próximo trabalho, que viria a ser o último de uma carreira brilhante, iria direto para o hall de seus melhores álbuns.

“Blackstar” é um álbum quase perfeito, e a faixa-título, a mais longa de sua carreira após “Station to Station”, funciona como carro-chefe ideal. A música se divide em duas partes, começando mais nervosa, perturbadora, e então, transformando-se num desabafo melódico que acaba por retornar a elementos do início da faixa. Essa é uma canção que parece qualquer coisa, menos preguiçosa. São diversos timbres, efeitos, uma percussão orgânica, mas que parece tocada por um robô, paredes de som que se levantam e se destroem. A instrumentação épica confere à “Blackstar” um tom de outro mundo, como se Bowie, após décadas de trabalho na Terra, já estivesse longe. No fim das contas, parece que era isso mesmo.


8 | sufjan stevens - should have known better

Como lidar com o luto de alguém importante, porém, que você quase não conheceu? Sufjan dialoga consigo mesmo, com o ouvinte, e principalmente com sua falecida mãe, na musica mais comovente do ano. Violão dedilhado e banjo, assinatura registrada de Stevens, que apresenta um estado de espirito inédito; melancólico, mais sombrio e mais reflexivo que o normal. Em primeiro momento Sufjan relembra memórias de sua mãe, Carrie, que teve (ou não) cedo na infância, memórias dos primeiros anos de vida são confusas e em muitos casos, podem ser apenas alucinações criadas pelo nosso subconscient, Sufjan reforça a importância do tempo para o luto, e confirma a dificuldade de entender a morte enquanto criança.

Num segundo momento, suaves timbres sintetizados levam a música para outra paisagem, e Sufjan, por fim, contempla a imponência do tempo perante… tudo! Sob a vida humana, o tempo de luto e de cura. O passado não é nada mais do que uma ponte para o nada.

“I should have known better
Nothing can be changed
The past is still the past
The bridge to nowhere
I should have wrote a letter
Explaining what I feel, that empty feeling”


7 | kendrick lamar - alright

Que tempo complicado que vivemos, onde homens em papel de liderança fazem tudo menos liderar nações que tanto necessitam de uma luz para guiá-los para fora da escuridão infindável em que se encontram desde o início dos tempos.

Sempre que qualquer pessoa lhe dizer que música - ou a arte em geral - é apenas “entretenimento”, vença a discussão imediatamente com o single que transformou Kendrick Lamar de rookie of the year à maior representante do povo negro norte-americano. “Alright”, música símbolo das manifestações do Black Lives Matter, se tornou um hino mundial contra a repressão policial, servindo de influência para artistas ao redor do planeta e colocando sobre holofotes incandescentes assuntos que muitos tentam esconder.

Como um líder, ciente do inferno ao seu redor, Kendrick profetiza com ironia, mas ainda assim, esperança, ao dizer que tudo vai, sim, ficar bem.


6 | jamie xx - good times (I know there’s gonna be)

Uma versão mais ácida, arriscada e caribenha do hino jamaicano de Bob Marley (“Three Little Birds”), esta colaboração composta por Jamie xx é um dos crossovers mais implacáveis e imprescindíveis em uma década que viu gêneros se misturarem e se derreterem em composições quase amórficas.

Misturando o sample rouco do The Persuasions, aos vocais esganiçados do imensamente carismático Young Thug e ao flow tribal de Popcaan, o membro do xx monta uma canção diferente. Atemporal, que conversa com o Soul do passado ao mesmo tempo que apela para a arbitrabilidade do presente, e universal, se utilizando de influências musicais de diversas partes do mundo apenas para conceber uma versão de Dancehall e Hip-Hop que poderia ser tocada desde o mais primitivo luau à mais chique e lisérgica balada.

É uma canção simples, sobre sempre olhar para o futuro de forma positiva, como que abraçando o caos do presente e as muitas diferenças que permitem este mundo ser, assim como o álbum em que o single fora lançado, tão colorido.


5 | drake - hotline bling

Considero incrível que, após ter seu primeiro single solo no topo da Billboard Hot 100 barrado por The Weeknd (“The Hills”), Drake tenha conseguido superar esta que seja, talvez, sua canção mais característica.

Jogando com suas principais forças, Drake deixa de lado a rima para “Hotline Bling”, empregando ao single sua voz mais magoada, dolorida e, surpreendentemente, irônica, ao constatar que apesar de ter perdido um dos (muitos) amores de sua vida, é ela quem deveria estar sentida por tratá-lo com tanto desdem após tantas ligações que todos sabem o que significavam.

Sim, é chover no molhado, é ligar o ar condicionado no frio em um dia nevoso, mas graças à seu gigantesco carisma e a produção propositalmente jocosa e leve, acaba por se tornar um dos momentos mais irresistíveis de sua carreira, grudando em você assim como aquele chiclete mais açucarado que você sabe que vai te fazer mal, mas continua voltando a ele sempre que precisa.


4 | courtney barnet - Depreston

O primeiro disco de Coutney Barnett apresentou oficialmente, ao mundo, uma das artistas que podem manter o rock vivo pelas próximas décadas. Com urgência nas músicas, ótima produção e uma forte autenticidade na guitarra, “Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit” é um cartão de visita e tanto para a australiana. Contudo, a faixa de maior destaque desse disco não é uma daquelas na qual Courtney se mostra como uma rockeira verdadeiramente capacitada, mas aquela na qual se prova como brilhante compositora.

“Depreston” utiliza de apenas dois simples acordes, um riff e uma produção musical que torna qualquer dia de sol, nublado. A faixa não tem refrão, apenas começa, progride e acaba. A produção é excelente, a melodia é excelente, os instrumentos são muito bem tocados e o timbre de Courtney é espetacular. O que faz dessa canção uma das melhores de 2015, é, acima de tudo, a narrativa aqui presente. Courtney nos leva para uma volta em Preston, onde está procurando casas, e nos permite acompanhar seus pensamentos, que logo se desvirtuam dos negócios imobiliários e acabam divagando sobre o sopro que é a vida, e sobre as histórias que cercam a todos nós, mesmo que não prestemos atenção nelas.

“Then I see the handrail in the shower
A collection of those canisters for coffee, tea and flour
And a photo of a young man in a van in Vietnam
And I can't think of floorboards anymore
Whether the front room faces south or north
And I wonder what she bought it for”


3 | the weeknd - can’t feel my face

Nunca, desde Michael Jackson, surgiu qualquer pessoa que conseguisse passar perto de emular a mágica que foram os anos 80 da maior estrela da história da música Pop. E muitos tentaram.

The Weeknd surgiu como um furacão em 2015, após passar quatro anos como uma brisa gelada de inverno que pouco a pouco tomava conta das ruas escuras de Toronto. Mas mais impressionante que sua voz - a mais similar à Jackson desde o próprio - ou que sua recém descoberta habilidade de fazer música Pop, eram sua personalidade, de um jovem misterioso e isolado, que pouca questão fazia de se portar como seus colegas mais sorridentes.

E por mais que a fama pareça ter mudado um tanto sua posição perante a mesma, por um breve ano pudemos ter um semblante do que fora Jackson, pois, assim como seu maior hit (“Billie Jean”), “Can’t Feel My Face” traz temas obscuros demais para serem tocados na rádio, mas se provou tão irresistível (muito também graças à produção de Max Martin) que pode ser tocada desde a mais escura das baladas à mais agradável festa familiar.

Perfeita em cada momento, o single oferece êxtase após êxtase, e popularizou sua expressão que, hoje todos sabem, remete à sensação de usar cocaína. Pense o quão universal alguém tem de ser para fazer com que tanto você, quanto aquele seu primo mais jovem, quanto sua avó com saudade da música disco, entoem este refrão com tanta energia.


2 | tame impala - let it happen

“Let It Happen” é o ápice criativo e técnico de Kevin Parker e companhia. Talvez não seja sua composição mais rebuscada, tanto em letra quanto em harmonia e melodia, mas o resultado final faz o simples parecer deslumbrante. Essa é uma faixa que não precisa de muito repertório do ouvinte para ser apreciada, ela condensa diversos dos melhores elementos dos anos 2000 com influências dos anos 1970 para produzir uma coisa que não é nem disco, nem dance, nem pop, nem rock, nem eletrônica.

Bem, é tudo isso, mas não é nenhuma dessas coisas de forma fechada. Todos os membros do Tame Impala parecem ter se esforçado na produção do álbum “Currents” para levá-lo à perfeição em aspectos técnicos de áudio, e a faixa que mais se beneficia disso é “Let It Happen”. Uma música que vai querer te fazer dançar em qualquer lugar, qualquer situação. Cujos 8 minutos passam voando e cuja energia não precisa de tradução para ser sentida, cuja influência do passado é coadjuvante do frescor jovem, ao invés de ser protagonista.

Apenas escute… não, experiencie.


Menções Honrosas: Alessia Cara, Here; Alabama Shakes, Don’t Wanna Fight; Vince Staples, Norf Norf; Kendrick Lamar, King Kunta; The Weeknd, The Hills; Chance The Rapper, Sunday Candy; Selena Gomez, Good For You; Jack U, Where are U Now; Rihanna, FourFiveSeconds.


1 | kendrick lamar - the blacker the berry

Nesta própria lista, há um exemplo da habilidade de Kendrick de apelar para as audiências. No próprio álbum em que fora lançado, pelo menos outras duas faixas tem o mesmo poder e, futuramente, em “DAMN”, Kendrick entraria de vez para o hall de megastars da música mundial.

Mas nunca, em toda sua carreira, ele fora tão sincero e vulnerável como em seu momento mais agressivo. “The Blacker The Berry” é uma obra prima da raiva acumulada de um jovem que muito viu em sua vida, desde as mais intensas das pressões de seus amigos (“You Ain’t Gotta Lie”) às piores das violências policiais (“Alright”), institucionais (“Institutionalized”), culturais (“King Kunta”) e pessoais (“u”). É aqui que vemos Kendrick Lamar desarmado de sua aparente implacabilidade como artista, onde ele deixa suas emoções gritarem por cima de seus ideais, onde ignora toda e qualquer tentativa de diálogo que tentou e ainda tentaria estabelecer com sua arte.

E ao empregar vocais do deejay africando Assassin que cospem suas palavras com violência e caos ao mesmo tempo que evoca elementos da música africana que influenciara todo seu trabalho, Kendrick constrói uma música tão implacável e essencialmente negra, que é como se toda sua carreira culminasse neste solene momento. Não, como se toda a luta contra o racismo nos Estados Unidos, e no mundo, fosse condensada nesta que é sua canção mais potente.

Justamente por não ser uma música que une suas audiências, não se tornou um de seus maiores sucessos, mas para todos aqueles aventureiros que se apaixonarem por Kendrick, o astro, terão um encontro desconfortável, mas inesquecível e capaz de mudar vidas, com Kendrick, o ser humano.

Anterior
Anterior

Os 10 Melhores Filmes de 2015

Próximo
Próximo

Crítica | Fé Corrompida