PLANET HEMP @ KTO ARENA - 04/10/2025
É tão bom se querer
Sem saber quando vai terminar
(Lucidez, Marcelo D2)
foto por @enzo_hofmann
Peço licença por começar o texto com um trecho de música solo do D2, porém a sensação que a performance do último sábado deixou em mim foi essa. A turnê “A Última Ponta” marca o fim da banda deixando, paradoxalmente, a sensação de permanência.
Todos aqueles que se vão, se mantêm vivos na memória. Clichê, eu sei. Mas me é impossível não fazer o paralelo entre a proposta do Novo Samba Tradicional, que D2 estabelece nos seus últimos trabalhos solos, e a turnê atual pela perspectiva de uma composição de memória e concepção de futuro.
Antes do início do show, uma apresentação visual percorrendo a história do Brasil, desde o pré-ditadura até o início da banda, estabelece as distintas mudanças e influências (salve Chico Science e Nação Zumbi) que moldam as distintas e confluentes sonoridades dessa trajetória de 30 anos.
O Planet Hemp incorpora a rebeldia em pequenos atos. Fumar maconha na Arena KTO? Só no show deles. Roda punk do tamanho da pista? Só no show deles. Ocupar espaços (já dá asco de falar assim) é, estando em um dos lugares mais caretas da cidade, poder ser-se quem se é. A banda de RapRockandRollPsicodeliaHardCoreRaggea, para alguns desavisados, pode ser só um bando de maconheiros, mas é um projeto de emancipação. “Se eu quiser beber, eu fumo. Se eu quiser fumar, eu fumo”.
foto por @enzo_hofmann
De aproximadamente duas horas, a apresentação percorreu todos os álbuns do grupo, não deixando nenhum dos hits da banda de fora. Em diálogo constante com o público, esses alguns poucos milhares (três, talvez quatro) parecia reduzido às dezenas e, em explosão, se expandia novamente aos milhares com o início de cada música.
A união proveniente dos diversos estilos musicais, do espírito de revolta, e da comensalidade canábica serviu como um sopro de esperança. O Planet Hemp, mesmo interrompendo suas atividades, ainda se propõe a, muito mais do que pensar, se fazer Brasil. “Se não faz parte da solução, faz parte do problema”; invocando o cinema marginal e a avacalhação, no melhor sentido, há muito tempo ignoram o ibope, a moda, as tendências, e se fazem popular pela autenticidade.