Anavitória @ araújo vianna - 26/09/2025

foto por @df_fagundes

Em noite protocolar e visualmente bonita no Araújo Vianna, quem deu show foi o público porto-alegrense.


Casais e mais casais ocupavam a plateia, num mar de antecipação para ver as donas de algumas das baladinhas mais populares da música brasileira de rádio da última década. No meio da “catedral da música de Porto Alegre”, eu parecia ser o único indivíduo desacompanhado.

Ana Caetano e Vitória Falcão já haviam passado por ali um ano antes, na chamada Turnê dos Namorados. Como o título sugere, não era exatamente sobre um disco, mas sobre cumprir uma função: reafirmar sua identidade de porta-vozes do amor romântico (temos muitos artistas vivendo especificamente disso hoje em dia, numa espécie confusa de nova religião).

Como missão, elas pregam sobre o amor melodramático e exagerado.  São uma espécie de messias para os expositivamente românticos que querem gritar sua breguice (o que é muito legal) e buscam a conexão com os ouvintes através da visceralidade de uma paixão adolescente e ingênua.

Desta vez, o espetáculo girou em torno de Esquinas (2024), álbum que marcou uma evolução simpática no repertório, com arranjos e composições mais ousados. Contudo, em muitos momentos, parecia haver uma distância entre a proposta de amadurecimento do disco e a zona de conforto performática da dupla, que inevitavelmente retorna à efetividade de suas baladas assinaturas: Água Viva, por exemplo, foi um dos grandes momentos da noite, e talvez o único em que senti uma conexão real entre palco e plateia.

foto por @df_fagundes

Não há dúvida de que Ana e Vitória amadureceram como artistas. O show é mais completo, mais colorido, sustentado por uma banda competente de seis músicos, incluindo três sopros e um ótimo baterista. O palco é bem preenchido, dinâmico, profissional. Metódico. Frio?

Na apresentação do dia 26 de setembro de 2025 Não se viu sensibilidade comunicativa, tampouco empolgação por parte delas diante daquele momento. Comprimindo 23 músicas em pouco mais de uma hora e meia, a pressa em cumprir o repertório parecia mais urgente do que a possibilidade de transformar a noite em algo mais pessoal para as duas mil pessoas que não pararam de cantar por um segundo sequer.

As canções mal chegavam ao fim e já havia troca de instrumentos. Não havia tempo para respirar, digerir, apreciar. Tudo soava metódico, anestesiado, sem espaço para o improviso ou para o erro - exatamente o oposto do amor que domina suas composições.

Para quem não estava embriagado de romance (apenas de cerveja), a experiência começou a soar repetitiva depois de Partilhar. Em certo momento, me sentei e me perguntei se o problema poderia ser comigo, e se eu poderia estar me tornando antipático ao excesso de prosa emocional adolescente.

Mas logo percebi que não, afinal sei que sou um entusiasta da romantização boba e roteirizada de novas relações. Olhei em volta e me comovi enquanto o público do Araújo Vianna cantava cada estrofe a plenos pulmões, como se dependesse disso para existir.

Espero que a dupla tenha aproveitado esse show de cima do palco, pois gosto muito de ambas.

foto por @df_fagundes

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