Crítica | The mastermind

Por que alguém rouba um museu? O novo longa-metragem de Kelly Reichardt apresenta uma hipótese sobre um ladrão de arte. Em The Mastermind “JB” Mooney (Josh O’Connor), habitante de um subúrbio no Massachussets, planeja um grande roubo no museu local. A diretora tenta entender o motivo do seu personagem decidir fazer isso. Ainda que o filme não conte com o ritmo lento de First cow e Showing up e resida no universo dos filmes de gênero (é um heist movie), várias das principais marcas de Reichardt fazem esse longa-metragem uma adição relevante a sua obra, pelo menos por mostrar alguns impulsos diferentes ao que ela vinha fazendo.

O personagem de O’Connor tem semelhanças importantes com os protagonistas de Reichardt: também não consegue navegar os procedimentos sociais que são esperados dele. É filho de um juiz, mas vive de dinheiro “emprestado” pelos pais, abandonou a faculdade de artes e mesmo assim parece se considerar mais inteligente e mais habilidoso que seus pares (assim justifica o fato de não estar trabalhando), seus pais, seus amigos e sua esposa. Por isso, decide roubar uma coleção de quadros de um museu para arrecadar os fundos que precisa para sustentar sua família.

A brincadeira que a diretora faz com o heist movie é passar uma hora mostrando a elaboração do plano: as visitas do protagonista (que não tem nada para fazer) ao museu, as reuniões secretas em que ele afirma ter pensado em cada detalhe do roubo para depois confirmar as nossas impressões: ele não tem a menor ideia do que está fazendo. Todo esmero que Reichardt filma suas visitas ao museu, nos primeiros minutos o protagonista rouba uma pequena estátua para testar a segurança do museu, em uma das melhores sequência de Mastermind. É exatamente a relação dele com esse roubo, um esmero que não resulta em nada.

A partir da sequência do roubo que vemos algumas mudanças no estilo de Reichardt. Sua câmera parece ter mais pressa que o habitual (especialmente comparada com showing up), as sequências se desenvolvem mais rapidamente conforme a urgência do protagonista aumenta. A diretora não tem nenhum respeito pela maneira que o homem cultiva suas relações, deixa claro que ele é um parasita e filma o prazer dele ao se safar da primeira abordagem policial revelando que é filho de um juiz ou colocar um quadro roubado na parede da sua casa como se fosse seu.

E talvez seja esse o motivo de Mastermind me causar incômodo. Os personagens de Reichardt sempre são desajustados, assim como o personagem de O’Connor, e o jeito deles de tentar solucionar os seus problemas, na maioria das vezes, é cometendo algum crime. Mas ao dobrar o seu cinema calmo e preciso aos prazes e pecados desse personagem (o jazz tocando ao fundo, os cortes na sequência final quando ele segue uma senhora) ela também abre mão de algo que me atrai no seu trabalho (First cow principalmente): a tentativa de empatia ao encontrar humanidade dos desajustados.

Ela conclui que uma pessoa só roubaria uma obra de arte porque não tem talento suficiente para produzir o seu próprio quadro, quer dizer, roubar um quadro surrealista de um museu não é a mesma coisa que roubar leite de uma vaca ou ração para um cachorro. Ele sabe exatamente o valor do que está roubando porque teve instrução para produzir algo do mesmo valor, logo deveria conseguir navegar esse mundo também ao invés de canibalizar os outros.

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