#ID: 20 anos de Jay-Z: a "dúvida razoável" que se tornou certeza absoluta.

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Álbuns de estreia muitas vezes são oito ou oitenta. Podem ser o melhor ou o pior de um artista, podem ser o mais lembrável, ou o mais execrável. Quando se é jovem há tempo ainda, de fazer sucesso, de ligar apenas para hits e deixar o conceito para quando a vida realmente bater a porta, principalmente se seu pátio for o Pop. 

Aos 20 e poucos anos Jay-Z enfrentava uma crise pessoal. Enfrentava a dúvida entre ficar preso ao meio hostil, ou perder tudo e se arriscar fora dele. Não queria mais traficar drogas, e sim suceder pelo seu inegável talento, que ainda assim era rechaçado por gravadoras.

Já havia flertado com chances de um contrato quando apareceu em singles de seu mentor Jaz-O, e depois quando Big Daddy Kane se interessou por ele e o levou para sua turnê, mas foi apenas por seu próprio esforço, vendendo fitas em seu carro nas ruas de Nova York que conseguiu finalmente a atenção de uma gravadora, no caso a Payday Records. 

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De alguma forma, quando você é destinado para algo outras pessoas aparecem e lhe abrem portas, para Jay-Z essa pessoa foi ele mesmo. Insatisfeito com o trabalho da Payday, ele abriu mão de seu contrato e fundou a Roc-A-Fella Records com seu amigo Damon Dash. 

Agora com 26 anos, em meio há tantas adversidades, mudanças, problemas e dúvidas, Jay-Z não tinha tempo nem terreno para errar. Seu primeiro álbum não seria um sucesso estrondoso e disso ele também sabia, mas tinha que ser o suficiente para sustentar sua nova vida e carreira. Sem margens para deslizes, a dúvida razoável de sua vida se tornou 'Reasonable Doubt', um dos maiores atestados de genialidade dentro de um gênero que tomava conta do mundo. 

JAY-Z NÃO TINHA MAIS TEMPO NEM TERRENO PARA ERRAR.

A verdade era que o Hip-Hop precisava de um novo nome capaz de carregá-lo nas costas, com o pesado titulo de Rei que até então era disputado por Pac, Big e Nas. A verdade é que os dois primeiros seriam mortos nos meses subsequentes, e Nas nunca mais encontraria o mesmo nível de apelo e respeito que havia alcançado com 'Illmatic'. 'Reasonable Doubt' chegou no momento certo e da forma certa, sendo uma continuação do trabalho, mas de forma inegavelmente variada ao que já havia sido feito. 

Era uma produção mais limpa, polida que beirava à elegância e que poderia ser tocada em qualquer festa de gala. As batidas eram fluídas, a estrutura era simples e corrida, o que tornava fácil de ouvir. Era um Hip-Hop puro, que ainda abraçaria as ruas, mas que não deixava de ser atraente para todo e qualquer executivo, fosse o mesmo branco ou negro. 

Ainda assim, o que mais impressionava não era o som. Rimando como um dos melhores Rappers do mundo em sua estreia, Jay-Z conseguiu passar toda a crise pessoal de sua vida para um registro onde nada parece ser uma reclamação, e sim uma reflexão com um inegável senso de vitória apesar de uma dúvida sempre presente. Seu Flow assustadoramente leve em 'Can't Knock The Hustle' é atenuado pelo seu conteúdo, onde ele flerta entre a certeza do sucesso e a pressão de suceder fora das ruas. Fazendo o caso de ser tão bom como Biggie em 'Brooklyn Finest' se tornou uma constatação ainda mais forte quando ambos os Rappers descobriram que os versos um do outro não haviam sido escritos. Ele pode fazer o Sonho Americano ser algo que vale a pena o risco, ou ser perigoso demais, em uma das melhores músicas de Rap de todos os tempos, quando seu futuro rival Nas é sampleado em 'Dead Presidents' e na levemente superior 'Dead Presidents 2', pois Jay-Z é excepcional o suficiente para fazer a mesma canção funcionar duas vezes (três, posteriormente). 

Nunca alguém tratou um período tão complicado de forma tão leve musicalmente: e muitos tentaram, muitos gigantes.

Elvis, referenciado na caótica 'D'Elvis', onde Jay descreve a tênue linha entre o possível sucesso e uma queda sem volta, não resistiu às drogas. Os Beatles não resistiram à tempestade após o fim dos anos 60. Michael Jackson praticamente se aposentou após os mesmos fantasmas o atacarem novamente. E antes de me acusarem de blasfêmia, Jay não foi melhor ou maior que os três acima, mas é fácil dizer que dentre todos os gênios, ele é o que melhor controla sua genialidade, se não for o único. 

É discutível que Eminem tenha feito mais sucesso depois, e Kanye feito músicas ainda mais próximas do Pop, mas o status de Jay-Z após todos esses anos é inegável, todos, desde Miley Cyrus em 'Party in the USA' até o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Todos gostam de Jay-Z. E 'Reasonable Doubt', o álbum saído de seu período mais conturbado, foi o começo de todo esse sucesso. 

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É estranho dizer que Jay estava no auge em sua estreia, mesmo que ele tenha se aproximado dela pelo menos mais uma vez durante a carreira, mas a verdade é que 'Reasonable Doubt' faz 20 anos e continua tão, ou mais brilhante do que no próprio dia em que foi lançado. O atestado do gênio e do maior Rapper vivo, que foi feito antes mesmo de esse status ser alcançado. Hoje ele é casado com uma das maiores artistas do planeta, têm uma linda filha, coleciona 21 Grammys e 13 álbuns número 1 (mais do que qualquer outro artista solo nos EUA) e comanda praticamente metade da indústria musical americana e recebe tratamento de lenda mesmo antes de completar 50 anos. 

ASSIM COMO KOBE BRYANT, QUE TAMBÉM COMEÇOU EM 1996 E SE APOSENTOU ESSE ANO, E COMO MUHAMMAD ALI QUE CASUALMENTE DISSE QUE ERA O MELHOR ANTES MESMO DE SABER, JAY-Z É IMORTAL, E DISSO NÃO EXISTEM DÚVIDAS, E SIM CERTEZAS. 

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