Crítica | Lil Wayne - Tha Carter V

spl.jpg

O apelido “Lil” tem sido usado no Hip-Hop desde os anos 80, mas talvez ninguém tenha tomado tanto conta dele como o garoto de New Orleans que entrou na cena há longínquas duas décadas atrás, quando tinha apenas 15 anos.

Desde então, Lil Wayne embarcou em uma das carreiras mais bem sucedidas e influentes da história do gênero. Graças a uma quantidade absurda de mixtapes lançadas em todos esses anos, todas marcadas por sua tendência em não medir o que entra ou não na tracklist final, Wayne construiu para si próprio um estilo quase único. Ele rimava tudo, de todas as formas e simplesmente lançava, quase sem se auto questionar se aquela rima em especial funcionava ou não. Essa coragem fez dele um dos rappers mais amados do mundo e, quando colocados os seus talentos de forma (quase) organizada, chegaram ao ápice em “Tha Carter III”, que venderia um milhão de cópias em sua primeira semana.

Desde lá, Wayne colecionou brigas com outros rappers, com sua gravadora, familiares, com a justiça e é claro, mais uma série de mixtapes, mas foram sete anos de espera até retornar à sua série mais conhecida.

“Tha Carter V” é tudo que podemos esperar de um álbum de Lil Wayne e, propriamente, de rap em 2018. Diferentemente de como faço em outras reviews, aqui quem produziu o que parece uma tarefa mais para a curiosidade do que para a análise, visto que, mais uma vez, o disco é uma coleção de rimas sobre batidas e produções diferentes, que emprestam de diversos gêneros, mas que não entram em um consenso geral. Afinal, isso é a música de Lil Wayne.

Em seus melhores momentos ele detalha os dramas recentes de sua vida, os problemas com sua gravadora, sua relação com sua mãe e a fama, ou até mesmo apenas ataca outros rappers, novamente. Para melhor entendimento e para poder ajudar a todos explorar este álbum, opto por dividi-lo em três partes, que são quase bem delineadas dentro da tracklist, mas mesmo assim, a melhor coisa para “entender” um projeto de Lil Wayne, é ouvi-lo e prestar atenção nas letras que, desde sempre, nunca foram dotadas de uma complexidade difícil. Ele rima sobre tudo e para todos, o que não é algo ruim.

A primeira começa com uma bela e sincera mensagem da mãe de Lil Wayne e é bem subsequenciada por sua colaboração póstuma com XXX Tentacion. “Don’t Cry” é melancólica e contém um refrão óbvio e pesaroso, mas a dinâmica de ambos funciona. Após isso, uma sequência de bangers e excelentes participações tornam essa primeira parte facilmente a melhor do álbum, quase que concentrando todos os seus melhores momentos em oito faixas. “Dedicate”, “Uproar” e “Can’t Be Broken” mostram todos os talentos de Wayne, a segunda com uma das melhores produções em qualquer álbum rap/trap do ano. “Let It Fly” traz o sempre ótimo em features, Travis Scott e “Dark Side Of The Moon” traz a cantora Nicki Minaj convencendo novamente com seus vocais, mas é “Mona Lisa” que merece todas as atenções.

Lil Wayne rima quase ininterruptamente por metade da faixa, sem se repetir ou perder o flow. Sua voz chega a cansar e se desgastar em diversos pontos, mas a delivery faz tudo parecer natural e intenso. Existem dois tipos de Kendrick Lamar quando se fala em participações, aquele que faz versos em faixas com Maroon 5 e aquele que entrega palestras em forma de verso. Para a sorte de Lil Wayne, é o segundo que aparece aqui. Kendrick brinca com sua voz e entra maravilhosamente bem no conceito da faixa que, se tem algo negativo, é o fato de seu refrão vir apenas no final e ser muito, muito curto.

O álbum então perde um tanto do fôlego no intervalo que começa com a Drakezada “What About Me”, passando por refrões óbvios em “Famous”, bangers reutilizados em “Hittas” e “Problems” e finalizando com a pouco memorável “Open Safe”. “Dope Niggaz” conta com uma breve, mas excelente participação de Snoop e é a melhor faixa do período, que encontra interesse com Wayne diversificando um pouco seus assuntos em “Open Letter” e “Took His Time”.

Acredito que ele sabia que eu dividiria o álbum em três partes (claro!), pois a faixa que inicia o terço final do álbum é “Start This Shot Off Right”, uma divertida e contagiante faixa de festa que te transporta ao auge do Bling Rap. “Demon” e “Mess” são preocupantes investigações sobre os principais problemas e medos de sua vida e batem forte. “Dope New Gospel” não tem suficientes elementos de Gospel para justificar seu nome e “Perfect Strangers” é um tanto corny, mas o álbum termina de forma positiva com “Used 2” e o esperançoso fim “Let It All Work Out”.

A grande maioria de faixas de “Tha Carter V” seguem o protocolo Lil Wayne. Não há muito o que se mergulhar e explorar quanto as produções e suas rimas, por conta de não serem pré-organizadas, acabam se misturando em conceitos. Não é algo negativo, afinal, é o que tantos amam em Lil Wayne.

Pode se dizer que a espera valeu a pena se você é um fã. Caso não seja, há muito para se gostar aqui, mesmo que não seja essencialmente diferente de trabalhos passados.

7

Anterior
Anterior

Crítica | Halloween

Próximo
Próximo

Crítica | Nasce Uma Estrela