Crítica | Taylor Swift - Reputation
Vamos falar sobre reputação. Em um ano onde uma quantidade impensável de artistas foi acusada de algum tipo de assédio, abuso, ou qualquer tipo de comportamento agressivo para com outras pessoas, onde a linha tênue entre artista e pessoa se tornou ainda mais invisível, onde mais do que nunca se espera que estes mesmos artistas sejam vozes para seus fãs, Taylor Swift espera que, com seu novo álbum, a sua reputação seja o tópico principal de discussão.
Claro, vai vender uma quantidade absurda de cópias. Claro, teve um grande hit. Claro, vai fazer todo o barulho que um álbum de uma artista do primeiro escalão da música pop no auge dos seus 28 anos deve fazer. Mas se ela mesma propôs falarmos de reputação, é disso que falaremos.
A verdade é uma, Taylor Swift não esqueceu sua história com Kanye West. Ela não quer esquecer. E enquanto esta rixa poderia e deveria ser estudada a fundo por representar não apenas dois dos mais importantes artistas deste século, mas por representar a imensurável diferença do tratamento de artistas negros e brancos nos Estados Unidos, este não é o objetivo deste texto. Analisar o novo álbum de Taylor Swift é. A verdade, novamente, é que Taylor, que é sem dúvidas uma compositora talentosa, não consegue ignorar seu passado mesmo que todos já estejam um tanto sedados à suas tentativas de vitimização.
Em "Fearless" ela falava sobre os amores de sua adolescência, trazendo um balanço agradável entre country e pop. Em "Speak Now" ela estreitaria essa distância e aumentaria a quantidade de faixas relacionadas à seus ex-namorados. Em "Red" ela adotaria o pop como base para suas composições e em "1989" ela se coroava como a artista mais popular de 2015, quase não lembrando aquela menina tímida que cantava sobre festas de 15 anos. Sua capacidade de se reinventar é admirável, mas pela primeira vez essa reinvenção não funciona. "reputation" é excessivamente eletrônico, terrivelmente genérico e o pior de tudo, cansativamente enfadonho.
É absurdo falar isso, mas ela baixou ao nível da fraca competição que tem. Não há nenhuma canção como "Blank Space" aqui, mesmo que Max Martin esteja em boa parte da produção. Não há nenhum momento de triunfo de estilo lírico e sonoro como em "Style". Não existem tentativas de sair da bolha da música pop ao investigar de forma mais profunda seus sentimentos como em "Out of the Woods". O que existe aqui são reutilizações de ideias do mainstream, com letras que circulam os arredores da imagem de Taylor Swift na mídia, mesmo que ela própria jamais investigue ou faça qualquer coisa para mudar.
Não que não seja uma música pop bem executada, mas o excesso de drops e balacas sonoras faz com que sua voz, que nunca foi o destaque de suas canções, pudesse ser substituída por praticamente qualquer cantora de hoje. Posso claramente ver Halsey, ou Lovato ou Bebe Rexha (é assim que se escreve?) cantando as mesmas músicas e isso é decepcionante para uma artista que até hoje não tinha decepcionado dentro do que se propunha a fazer. Faixas como "Gorgeous" nunca se elevam, outras como "Don't Blame Me" são sonoramente saturadas, "End Game" com Ed Sheeran e Future é uma tentativa barata de hit e é repleta de ideias reutilizadas, desde batidas trap à mais um péssimo "rap" de Sheeran. Em "Dancing With Our Hands Tied" ela lembra The Chainsmokers, e isso nunca, em hipótese alguma, é uma coisa boa.
Ela não gosta de Kanye e de seu palco flutuante, mas praticamente admite fazer algo errado em "I Did Something Bad" onde, se você prestar atenção, há trompetes muito similares a "Blood On The Leaves", uma faixa dele em "Yeezus". É embaraçoso comparar ambas as canções, quando nesta Taylor nos faz esquecer de suas habilidades e, talvez sem querer, nos coloque ainda mais contra ela. "I never trust a narcissist, but they love me / So I play 'em like a violin / And I make it look oh-so-easy
'Cause for every lie I tell them, they tell me three / This is how the world works / Now all he thinks about is me". No momento que "The Life of Pablo" teve uma linha sobre ela e "Reputation" tem um punhado de canções, a última linha deste primeiro verso parece estar errada.
Há bons momentos, mas não é como se eles estivessem no patamar que ela mesmo estabeleceu para si anteriormente. "Look What You Made Me Do" é divertida, é verdade, ainda mais com seu vídeo, mas é um single feito para as rádios que esqueceu de empolgar, e as pessoas esqueceram de perceber isso. "Getaway Car", apesar de demonstrar a falta de excepcionalidade em suas habilidades vocais, funciona por começar de forma simples e "Call It What You Want" acaba por ser a única faixa realmente bem pensada, diferente, mesmo que também se utilize de recursos familiares.
"reputation" é um álbum de ego de Taylor Swift, tentando mais uma vez se adaptar ao mainstream quando já está na hora de amadurecer como artista. Ela simplesmente esqueceu o princípio número 1 de um bom álbum pop, que é justamente ter músicas marcantes. Enquanto ela não estiver disposta a realmente subir, e não mais se adaptar, sua reputação não estará nada melhor do que agora. Talvez ela venda mais com este álbum do que os últimos três projetos de Kanye West juntos. Ele é consideravelmente discutido como um dos maiores artista de sua geração, ela vende muitos discos. Qual reputação você preferiria?
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