As Melhores Interpretações da Década | Atrizes Principais

Se montar qualquer lista de filmes já é um exercício que, por mais divertido que seja, tende a se tornar exaustivo quando levado a sério (o que, infelizmente, acabo fazendo), elencar as principais performances em um período tão longo é uma tarefa mais do que ingrata.

Pois pense só, muito provavelmente em todos os bons filmes que viu havia ao menos uma boa interpretação, mas além destes há aqueles filmes medianos que trazem performances inspiradas e até aquelas atrocidades salvas pelo trabalho de um ou outro intérprete. Além disso, se um filme já é um mar de elementos que funcionam de acordo com a subjetividade - e bagagem cinematográfica, é claro - de cada um, imagine avaliar atuações que, em atos mínimos, e muitas vezes desapercebidos, acabam nos tocando de formas que nem bem sabemos como.

Acho interessante apontar também como, nas listas de atores e atrizes coadjuvantes, a diversificação étnica é mais visível, algo que diz mais sobre os estúdios - e sobre nossa sociedade - sobre a capacidade dos interpretes pertencentes a minorias.

Para facilitar meu trabalho e torná-lo mais prazeroso, decidi apenas listar aquelas interpretações que mais me cativaram, por um motivo ou por outro e, antes de começar, aviso que dividi os atores em duas categorias, assim como na grande maioria das premiações, por motivos óbvios. Além disso, atores e atrizes presentes em uma postagem não poderão ser incluídos em outra, por motivos de variedade.

Abaixo, aquelas as quais considero as 10 melhores performances femininas em um papel principal nestes últimos dez anos:


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10 | regina casé, que horas ela volta (2014)

Confesso que não sou nada fã da carreira de Regina Casé antes deste filme de Anna Muylaert, principalmente de seu ex-programa Esquenta, cujo qual considerava uma antítese à crítica a qual este filme explora. E, pessoalmente, preferia ter adicionado Leandra Leal por “O Lobo Atrás da Porta” nesta posição, mas não posso discordar de um argumento que tão frequentemente uso: Regina Casé transformou Val em um ícone do cinema brasileiro, que deve sobreviver por décadas.

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9b | Isabelle Rupert, Elle

Não consegui me decidir entre estas próximas duas, então fui com ambas. Sutilmente macabra, sensualmente implacável e levemente dissimulada, nenhuma personagem nesta lista parece oferecer tantas nuances como a Elle de Isabelle, um retrato sofrido sobre uma das fases mais desafiadoras na vida de uma mulher que, convenhamos, passam por muitas mais que nós, homens. E isso, na maioria das vezes, é nossa culpa.

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9 | rooney mara, os homens que não amavam as mulheres (2011)

Reza a lenda que assim que Mara assinou o contrato para fazer parte deste filme de David Fincher, os produtores a perderam nas ruas de Estocolmo por semanas. Lá a bela atriz passaria por uma metamorfose para se tornar uma criatura que vive nas sombras e faz de tudo para passar desapercebida. O fato de não conseguir diz muito sobre nós, e mais sobre Mara.

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8 | brooklynn prince, projeto flórida (2017)

Esta pequena atriz que mal conseguia falar suas falas por ser, bem, ainda muito jovem, é dona da minha performance infantil preferida da década. Prince encarna aqui a legítima pentelha que ninguém quer cuidar, mas todos invejam por saber que, se o mundo lhe for justo, ela tem tudo para dominá-lo. Se vai, é uma questão que, infelizmente, depende mais do mundo do que dela.

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7 | Rosamund Pike, Garota Exemplar (2015)

Um confesso medroso para filmes de terror, considero seguro dizer que nada nem ninguém me deixou tão arrepiado como a Amy de Rosamund Pike. Fria e aquém de qualquer empatia, o mais aterrorizante é que ela tenta acreditar que, de sua forma distorcida, ama o marido incondicionalmente. Seu olhar no final sugere justamente isso... além da possível vontade que tem de destruí-lo.

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6 | sônia braga, aquarius

Uma das grandes atrizes do cinema brasileiro, Sônia Braga constrói em “Aquarius” uma mulher duramente real e que, por mais vivida que seja, ainda se encontra perdida em meio às incertezas, dores e prazeres provocados pelo simples fato de ser quem é. Mulher, no Brasil.

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5 | frances mcdormand, três anúncios para um crime (2017)

Quando bati os olhos nos olhos de Frances pronunciei, baixo, na cabine de imprensa: essa mulher vai ganhar o Oscar. Dito e feito e nada mais precisa ser comentado.

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4 | Charlize Theron, mad max: estrada da fúria (2015)

Equilibrando sua performance em toda a angústia e raiva aprisionadas, e a intensa fisicalidade de sua personagem, Charlize entrega aqui seu melhor trabalho desde Monster, transformando a Imperiator Furiosa em um ser mítico desta década e um símbolo da força feminina.

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3 | scarlett johansson, sob a pele (2013)

Fiquei na dúvida entre a performance de Scarlett aqui e em “Marriage Story”, mas optei pelo trabalho menos conhecido por, principalmente, dois motivos: um, ela teve de literalmente enganar desconhecidos para realizar as cenas e; dois, sua alienígena é tão fascinante que mesmo ao vermos o maior símbolo sexual dos anos 2010 nu em frente ao espelho, tudo o que enxergamos é a mente fragilizada da personagem que acabara de criar. Para aqueles de vocês que acham que a atriz não passa de uma coadjuvante de luxo nos filmes da Marvel, tenho apenas pena.

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2 | amy adams, a chegada e animais noturnos (2016)

Amy Adams é minha atriz favorita dessa geração e ela conseguiu a proeza de entregar as duas melhores performances de um mesmo ano e, mesmo assim, não ser indicada ao Oscar por nenhuma delas. Interpretando mulheres extremamente diferentes, mas que passam por situações (e filmes, diga-se de passagem) curiosamente similares, é fascinante acompanhar como cada uma delas reage à dor e à consciência de que o amor, dificilmente, terminará em um final feliz.


Menções Honrosas: Natalie Portman em Cisne Negro (julgo que, não fosse a polêmica envolvendo a veracidade nas cenas de dança, Portman estaria bem alto na lista); Leandra Leal em O Lobo Atrás da Porta (e como me doeu deixá-la de fora); Cate Blanchett em Blue Jasmine e Carol (outra que me doeu deixar de fora); Sally Hawkins em A Forma D’água; Greta Gerwig em Frances Ha; Emmanuelle Riva em Amour; Michelle Williams em Blue Valentine; Julia Stockler em A Vida Invisível; Lupita Nyong’o em Nós; Jennifer Lawrence em Mãe e O Lado Bom da Vida.


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brie larson, o quarto de jack (2015)

Dentre as quatro categorias de interpretação, acho que esta foi a mais fácil.

Por mais que Jacob Tremblay inevitavelmente roube a cena no intenso filme de Lenny Abrahamson, é por conta da personalidade quase dizimada de sua mãe que o longa se torna uma tarefa quase intolerável, justamente por, em diversos momentos, preterirmos o sofrimento feminino em função de qualquer outro grupo, sejam eles homens adultos, ou crianças ainda indefesas.

Sucumbindo à toda humilhação e falta de esperança que sua situação lhe impõe, Brie dá vida a uma mulher que quase desistiu da própria e cujos únicos sinais de resistência surgem em seu rosto quando olha para um filho que tantas rejeitariam - e não as deveríamos julgar por isso.

É um doloroso retrato sobre a condição precária da mulher na sociedade e uma complexa jornada no espectro da maternidade que, ao mesmo tempo em que te priva de toda a luz, não deixa de sugerir que o certo é lutar por ela. Assistir ao “Quarto de Jack” é uma experiência traumatizante, e extrema - e infelizmente - necessária.

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