Crítica | Cassino

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Temiam as covas no deserto e ao longo da trama cavam suas próprias.

Ganância, decepção, dinheiro, poder e assassinato. Ace Rothstein (Robert DeNiro) e Nicky Santoro (Joe Pesci); Mafiosos que se mudam para Las Vegas na busca de deixar sua marca, vivendo e trabalhando nesse paradoxo universo.

“Cassino” é construído através da narração de cada protagonista, na perspectiva que cada dê um justo testemunho sobre sua versão do que aconteceu na crescente caótica que determina a ruína e fim do reinado da máfia no deserto, que logo foi colonizada por grandes corporações. Ace/Sam é o discreto admnistrador do Cassino Tangiers, que lida com a instabilidade de sua esposa, Ginger (Sharon Stone) e, também, Nicky seu amigo de infância está tomando a cidade em uma incontrolável espiral de violência e vícios. Trazendo uma atenção inoportuna para máfia, arruinando os planos de avanço em Las Vegas.

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"E por que arruinar algo bom?"

Desde o princípio da história não é nenhuma surpresa que o final não seja um dos melhores, bem sucedidos. A instigante sequência de abertura já comunica isso, da queda do protagonista por letreiros e neons dos famosos hotéis, ilustrando a trajetória até o fundo do poço.

“Cassino” mantem o entretenimento durante as três horas graças ao seu rápido ritmo. A câmera possui vida própria, e em cada grande momento há uma ótima escolha musical (Rolling Stones, obviamente). Scorsese, DeNiro e Pesci trazendo para a tela sua usual excelência, mas a grande e adorável surpresa é a eletrizante performance de Sharon Stone, que lhe rendeu a vitória de um Golden Globe e uma nominação para o Oscar. O filme não surge como uma ideia original, por seguir a fórmula dos anteriores de Scorsese (particularmente “Os Bons Companheiros”). Fato já esperarado pela assinatura do roteiro ser novamente co criado e inspirado no livro de Nicholas Pileggi, roteirista expert em crimes de máfia.

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Dificilmente em um filme de Martin Scorsese uma mulher simboliza a fraqueza de um homem, principalmente a de mafiosos. Mas Las Vegas é a cidade do pecado e por carregar esse título há consequências. Nem todos tem estômago para ela, porém o esperado seria que dois mafiosos soubessem lidar com a escuridão que ela desperta. Mas Ace descobre seu calcanhar de Aquiles justamente em Ginger. Uma mulher independente, antes de se casar com Ace ela trabalhava como acompanhante de luxo, se alinhando com a sistemática da cidade dando golpes, faturando em cima de homens desavisados. O contraditório é que, apesar dessa autonomia, sua fraqueza por Lester (James Woods), seu antigo cafetão, um homem completamente tóxico que não dá a mínima para ela, a faz encolher toda sua forte persona.

Já Nicky decreta o seu destino no momento em que pisa na cidade. Não só pela arrogância de pensar que seus atos inconsequentes ficariam impunes, mas além de trair a confiança de seu amigo se envolvendo romanticamente com sua esposa, ele trai a designação pela qual foi enviado, trazendo somente prejuízos para a máfia. Se tornando desleixado com seu ofício, deixando rastros incriminadores por onde passa.

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A busca pelo poder, a imprudência e ausência de responder por danos. É um ciclo vicioso e extremamente perigoso. Dos três personagens principais, aquele que sobrevive é o que reconhece a importância de avaliar os riscos das apostas que fazemos em nossas vidas. Principalmente sabendo do universo ao qual pertence, em que contar com o acaso é sinônimo de morte.

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