Crítica | Exterminador do Futuro: Destino Sombrio
Quando foi anunciada uma sexta sequência para o clássico de 1984 “O Exterminador do Futuro”, muitos fãs da franquia certamente não ficaram empolgados. Os últimos três filmes sobre a revolução das máquinas lideradas pela inteligência artificial da empresa Skynet certamente deixaram a desejar e afastaram os fãs da primeira dupla, dirigida por James Cameron, da história de John Connor. Durante a produção algumas informações começaram a aquecer os corações congelados da legião de fãs que Cameron deixou: o envolvimento do antigo diretor na produção, as voltas de Arnold Schwarzenegger e Linda Hamilton como o T-800 e Sarah Connor e, especialmente, esse seria sequencial só aos “Exterminador do Futuro 1” e “2”, ignorando seus subsequentes fracassos. E ainda apagando toda a linha do tempo em que eles se passaram para começar uma nova.
“O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio” cria um ambiente seguro para os fãs de filmes de ação enquanto retoma um diálogo com os filmes de Cameron. Não apenas pela volta dos atores e personagens originais, mas com uma história semelhante apresentada com sequências de ação bem executadas pelo diretor Tim Miller (Deadpool). O filme é ambientado em 2019 em uma linha do tempo em que Sarah e John preveniram a destruição do mundo pela Skynet, mas a empresa em um último golpe conseguiu matar John Connor deixando sua mãe à deriva pelo mundo em que salvou. O problema surge porque anos depois um outro empreendimento militar cria tecnologia de I.A semelhante a da Skynet e, mais uma vez, em outro futuro, os humanos se veem em guerra contra máquinas. Em 2019, as máquinas mandam de volta no tempo um novo modelo de Exterminador para matar Dani Ramos (Natalia Reyes) enquanto a resistência manda a guerreira Grace (Mackenzie Daves), uma humana que foi transformada em ciborgue, para defender Dani.
A escolha por Tim Miller na direção se mostra acertada, é um novato na função de diretor de ação que fez competente trabalho em Deadpool e na sua série Amor, Morte & Robôs. Sua carreira anterior é em efeitos visuais, justamente um dos pontos mais fortes do filme. “Destino Sombrio” atualiza alguns dos destaques dos filmes originais de Cameron, um deles: o uso dos efeitos visuais para contar a história, especialmente nas cenas de ação e para facilitar o espectador entender como os Exterminadores funcionam e lutam. As cenas de ação são dirigidas bem o suficiente para não serem tediosas e o uso de efeitos de velocidade de câmera (como a câmera lenta) são bem empregados nessas sequências em momentos chave usados para controlar a tensão do público. Um mérito de qualquer filme de ação é em uma sequência de luta com múltiplos personagens, armas, carros e explosões nunca deixar o público confuso sobre quem e o que estão ocupando qual espaço e a direção de Tim Miller certamente é competente para tal. Apesar desses méritos o filme é desinteressante em termos de trama, sendo injustificáveis suas mais de duas horas de duração.
A introdução dos personagens é curta, a ponto de ser difícil sentir simpatia por nossa suposta protagonista, Dani, uma vez que nos primeiros dez minutos já temos o primeiro encontro dela com os agentes do futuro assim como a perda de seu irmão e pai. Momentos que perdem a potência pela falta de empatia que sentimos pela personagem. Além disso, há algumas conveniências que incomodam: a ideia de que todos caminhos apontavam para a casa do T-800 (Schwarzenegger) mesmo que esses caminhos não tivessem sido devidamente apresentados até aquele momento do filme, por exemplo. E especialmente, uma confusão do roteiro sobre qual personagem deveríamos estar acompanhando a história, apesar de fazer crer que deveria ser Dani. Esses problemas são provenientes da falta de riscos que o filme corre. Joga seguro para tentar reconquistar fãs antigos, mas por isso acaba incorrendo em uma repetição pobre da história de John Connor. E, em “Destino Sombrio”, nem ao menos sabemos o que está em jogo, visto que por razões narrativas questionáveis durante os dois primeiros terços do filme não sabemos porque exatamente Dani é a personagem que está sendo perseguida (e todos personagens nos lembram disso a todo momento).
Isso até poderia ser um risco, mas o sentimento durante o desenvolvimento do filme é que falta tempo de tela para que possamos acompanhar o crescimento de Dani para que no final ela possa cumprir seus objetivos. Esse tempo é usado para cativar os fãs, criando relações com os personagens antigos (ao invés de nos apresentar os novos). Claro que é legal ver uma Sarah Connor bad ass que caça androides e é procurada pela polícia sendo interpretada por Linda Hamilton e definitivamente o T-800 é o papel da vida de Schwarzenegger (que anos depois ainda tem as dificuldades de pronúncia que tornam ele perfeito para o personagem). Mas quando as tentativas de criar um ambiente seguro que faça os fãs se sentirem “em casa” enquanto assistem o filme atrapalham as ideias que deveriam ser desenvolvidas na tela, isso se torna um problema. Não tem maneira pior de tratar um fã do que dizendo que meia dúzia de bordões e atores velhos são a mesma experiência que assistir uma história cultuada a mais de 30 anos. Dito isso o filme desperdiça uma oportunidade perfeita para o bordão “Venha comigo se quiser viver”, imperdoável.
O que o filme de fato apresenta, mesmo que mais como sintoma do que como proposta é uma nova ideia de futuro. Pode parecer contraditório que um filme desenvolvido a partir da ideia de problemas inevitáveis, ou: mesmo que Sarah e John tenham impedido a Skynet eles não destruíram as condição sob as quais a Inteligência Artificial foi capaz de destruir os humanos logo inevitavelmente, como somos servos do futuro, acontecerá o mesmo problema. A nova perspectiva vista aqui é a possibilidade de agência no tempo que, no fim das contas, é a temática do filme. Se em Exterminador do Futuro 1 e 2 John Connor precisa ser protegido para manter a linha do tempo “intocada” e assim garantir que ele possa liderar a resistência humana no futuro. Em “Destino Sombrio”, a tese apresentada é que para evitar uma catástrofe não basta esperar que ela chegue: precisamos agir no presente para que o futuro nos pertença. Essa virada temática vem em um momento que o futuro parece estar cada vez mais distante de nós e, em última análise, estamos começando a entender que só chegaremos lá se mudarmos as condições atuais, senão nós mesmos nos destruiremos esperando alguma coisa chegar.