Crítica | First Two Pages of Frankenstein - The National

A assinatura de um produtor musical, Taylor Swift e o novo álbum do The National.

Aaron Dessner, um dos criadores e guitarrista do clássico grupo de rock alternativo The National, e agora, um dos grandes nomes da produção musical mundial. Alavancado pelo lançamento surpresa de um dos álbuns mais bem sucedidos e curiosos dos últimos tempos, “Folklore” (2020), de Taylor Swift, (que foi uma grata surpresa, e uma metamorfose inesperada que pegou fãs e crítica desprevenidos) foi no caminho conquistando apreço, novos fãs, e é claro, o maior prêmio da música popular, o Grammy.

O casamento entre a sonoridade de Dessner e Taylor à primeira vista não fazia sentido algum, seus últimos trabalhos fora do The National foram crus, viscerais, com ênfase em camadas e dinâmica. O pulo do gato está justamente na evolução do The National como grupo, migrando das guitarras saturadas para refrões intimistas, flertando com pianos delicados e pontes explosivas. Não que essa mudança tenha sido exclusiva dos últimos 7 ou 8 anos. "Boxer” (2007) conta com todos esses elementos ao mesmo tempo. Mas "Sleep Well Beast” (2017), para mim, marca uma virada de página importante pra banda; quase como foi “Folklore” para a carreira da cantora estadunidense.

Quero tirar isso do caminho antes de continuar o ponto, “Folklore” é um — ótimo — álbum, a sutileza nas camadas de piano e cordas, a percussão intimista, o storytelling conveniente. Tudo se afinava excepcionalmente com a dualidade pandêmica do desejo de viver situações em que não podíamos, meticulosamente pensado e estudado. A união foi um sucesso. Meses depois, antes do infinito ano de 2020 acabar, “Evermore” foi anunciado e lançado. A mesma fórmula, o mesmo resultado, mais um triunfo para o triângulo criativo Dessner, Antonoff e Swift.

A sonoridade nostálgica e pandêmica nos presenteou com uma série de lançamentos em 2020 e 2021. No novo álbum do The National, “First Two Pages of Frankenstein”, Dessner está claramente inspirado nos últimos lançamentos de Swift, Antonoff e Phoebe Bridgers, onde a fórmula era simples, o material humano excepcional, e o público consumia como se não houvesse amanhã.

O primeiro vislumbre de um mercado de lançamentos musicais pós pandêmico viu esses 4 atores valorizados, cultuados, e de certa forma, saturados. Swift fez aparição em duas canções do álbum "How Long You Think It's Gonna Last” (2021), usando e abusando da fórmula Dessner. Antonoff equilibrou todos os projetos da cena pop americana na cabeça e Phoebe Bridgers esteve presente como participação em mais singles do que eu consigo lembrar de cabeça.

Dessner produziu mais alguns álbuns nesse meio tempo, como o álbum "Hysteria" da americana Indigo Sparke. Onde novamente, transformou canções cruas em cintilantes e mínimas produções. O trabalho não é ruim, mas a assinatura musical é forte demais, especialmente quando essa se assemelha tanto com “Folklore”, um trabalho de alcance gigantesco, onde a produção de Dessner é o pilar principal da sonoridade de uma artista tão grande e com uma fan-base tão dedicada quanto.

Foi ali quando eu me toquei que, Aaron Dessner estava sendo refém do seu próprio trabalho. Longe de mim julgar a liberdade criativa de um produtor tão renomado, mas me parece que a demanda por uma sonoridade “Folklore” é tão grande e tão rentável que a liberdade criativa que o ocasionou, que deu luz ao assombro que foi a sonoridade em primeiro lugar, já não é mais prioridade.

O que me leva a escrever esse texto, depois de longos meses, quiçá anos, sem escrever sobre música para um público, é o novo álbum do The National, que eu ainda nem terminei de ouvir, mas que soa, mais do que nunca, um grupo de homens em seus 40 e tantos anos, emulando a assinatura sonora que se tornou popular através de um público radicalmente diferente.

Essa mesma sonoridade, infelizmente ou felizmente, foi envisionada pelo guitarrista, Aaron Dessner, tentando cortar a fatia que ele acha justo do bolo que ele mesmo assou.

Nem a participação de Taylor Swift em uma das faixas ou a de Phoebe Bridgers em duas vai fazer isso acontecer. A assinatura sonora já mudou de dono, de cara. E honestamente, funciona de uma maneira bem mais expressiva e autêntica para quem já provou o sucesso dessa fórmula.

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