Crítica | Zumbilândia
Regra número 32: Aproveite as pequenas coisas
A linha acima é auto-sugestiva. Zumbilândia tem apenas 1 hora e 20 minutos, um ritmo extremamente rápido e não possui nenhuma pretensão, ou parece não possuir, de ser mais do que de fato é, mas o que ele é? Um filme de horror “trash”? Uma comédia com alguns sustos? Um romance? Um filme de sobrevivência? Tudo isso? Sim, tudo isso no mais alto nível, mesmo que pareça não fazer questão de ser nada.
Particularmente a ideia de mortos-vivos povoarem a terra não é algo tão aterrorizante assim, ou pelo menos não se paramenta como algumas histórias tentam convencer seu público. Talvez um pouco dessa minha indiferença ao sub-gênero seja por não ter visto o principal clássico zumbi, “A noite dos Mortos Vivos” em uma era onde o tema era novidade, mas pensar em um mundo pós apocalíptico cheio desses monstros soa muito mais como uma aventura animadora do que algo completamente aterrorizante (não que não seja), e é exatamente isso que o filme transpõe.
O medo fomentado por esse mundo zumbi é em razão principalmente da perspectiva de solidão absoluta do que propriamente das criaturas famintas por você. Aliás, quem nunca se perguntou como seria o seu desempenho nessa situação? Esse é o ponto, zumbis são criaturas feitas para serem mortas e a questão sobre sobrevivência é um tanto quanto intrigante. Eles não planejam nada, muito menos pensam, apenas correm - sem parar -, e por isso, caso aconteça, esteja com o cardio em dia (regra Nº 1).
Partindo desse conceito, “Zumbilândia” se tornou um dos meus filmes favoritos e com certeza um dos melhores de 2009, não só por concretizar a idealização da atmosfera que imagino dentro desse contexto, mas também por possuir uma versatilidade completamente inesperada que já fica clara na sequência e nos créditos iniciais, além do já exposto na introdução desse texto. A sucessão de tragédias narradas por “Colombus”, sua auto-avaliação e principalmente suas regras criam imediatamente uma conexão entre ele e o público. A obviedade dessas leis de sobrevivência criadas por um NerdSedentárioIntrospectivo - Jesse Eisenberg em sua zona de conforto - flertam com o caricato e são muito engraçadas quando apresentadas com suas representações visuais, estabelecendo uma quebra indireta da 4ª parede pouco convencional, mas extremamente funcional.
A propósito, todo o roteiro do filme flutua em um espaço entre o preguiçoso e o genial. Os diálogos rápidos, as motivações incomuns - imagine como seu principal incentivo num mundo pós apocalíptico encontrar uma Trakinas de morango - e por muitas vezes descartáveis, se tornam memoráveis por seus personagens serem tão cativantes.
Não faz muito tempo que li um livro sobre a estrutura certa de um roteiro e suas possíveis variações, mas há uma regra em que nas primeiras 10 páginas, que equivalem a 10 minutos de filme, deve-se tentar apresentar com clareza a premissa, o personagem principal e a situação dramática. Aqui ultrapassando um pouco desses 10 minutos inciais, mas sem demais enrolações, “Zumbilândia” nos presenteia com 2 personagens os quais podemos nos relacionar em um nível pessoal muito rapidamente, afinal, o próprio filme reconhece que não tem essencialmente uma grande e especial história. Seu principal objetivo então se torna nos proporcionar pessoas especiais para tornar esse road movie (lembram da versatilidade) único da maneira mais despretensiosa possível.
Após “Zumbilândia”, Emma Stone viria a se tornar uma das maiores atrizes da nossa geração - ainda em ascensão - e Eisenberg comandaria um dos melhores filmes do século (“A Rede Social”). Ainda temos uma participação de Bill Murray que se torna a cereja do bolo pras coisas surpreendentes que o filme nos proporciona e um dos momentos mais engraçados da carreira do ator.