Crítica | CRSHD
Filme assistido durante a cobertura do Brasilia International Film Festival (BIFF) de 2020, disponibilizado online pela organização devido a pandemia do Covid-19.
Há realmente uma variedade enorme de temas que podem ser abordados quando tratamos dos ditos “coming of ages”.
Mas também é verdade que o impulso sexual de grande parte dos jovens em destaque como personagens principais de uma história como essa é um dos fundamentais vetores que regem os demais momentos de descobertas de seu próprio ser.
CRSHD (proferido como “crushed”) conta a história de Izzy e suas duas amigas, Anuka e Fiona. Tres estudantes no primeiro ano de faculdade aparentemente movidas por sua líbido (e algumas outras coisas). Isso de maneira nenhuma se faz equivocadamente, pois há sim um momento durante nossas vida que tudo, de fato, se torna secundário a sexo. Acontece que, diferente dos últimos bem sucedidos filmes sobre amadurecimento pessoal adolescente, como “Lady Bird”, “Quase 18” e “Com Amor Simon”, que completam a jornada de nossas “heroínas” de forma recompensadora e inspiradora - uns mais que outros -, Emily Cohn (diretora e escritora) se abstém a contar uma história sem nenhuma grande obstinação emocional para com seus personagens ou com seu público, senão rir de provavelmente algo que a mesma viveu há poucos anos atrás. A coisa mais “Geração Z” possível. Rir de si mesma.
Vale lembrar que a principal - e essencial - virtude de filmes assim está diretamente ligada a como essas experiências refletem moralmente em seu protagonista.
De maneira nenhuma deve ser feito uma comparação direta entre os filmes mencionados - os quais são frutos de um investimento monetário enorme em suas produções - mas sim usá-los como modelo. Ao admitir diretamente o tipo de história que se quer contar, por mais despretensiosa e leve que a queira fazer, imagina-se um nível mínimo de tenacidade em tentar criar algo único. No que tange a premissa do filme, isso não acontece. É a mesma história que já vimos algumas vezes nos últimos anos, executada de maneira extremamente superficial.
Contudo, embora o roteiro reproduza um modelo narrativo já conhecido dentro do gênero, há pelo menos o esforço em tentar criar algo visualmente inovativo. Através da mostragem das pessoas pela qual a história percorre em cenas que buscam expor conversações por aplicativos de uma maneira mais aprofundada, cômica e viva - que funciona muito bem - a diretora sucede ao tentar humanizar algo cada vez mais empedrado, como é a comunicação social moderna. Ao buscar certo tom irônico para satirizar o uso dessas redes, de forma despojadamente encantadora, é onde o filme alcança o seu ponto mais alto. Infelizmente, isso não quer dizer muito.
A edificação de uma pessoa, ou pelo menos a melhora desenvolvida em filmes do gênero é principalmente feita através de diálogos, da exposição de seus personagens e explorando suas maiores vulnerabilidades. Claramente as principais atrizes do filme estão em seu primeiro trabalho, episódio que poderia ser facilmente compensado pelo carisma das três garotas - e é até certo ponto - se a edição não fosse tão tirânica e abusiva com elas e sua estória. Há pouquíssimos planos mais abertos - nenhum sem cortes abruptos a todo instante - que deixem uma conversa adolescente fluir através de toda sua futilidade e sinceridade.