Crítica | The National - I Am Easy To Find
Poucas bandas de rock conseguiram se manter tão relevantes e apresentar uma consistência tão impressionante quanto o The National. Precursores do Daddy Rock, o quinteto de Ohio apresenta trabalhos sólidos e de inovação gradual desde o inicio do século 21; a transformação da sonoridade de indie rock, altamente influenciada pelos seus contemporâneos até um dos mais notáveis nomes do post-punk foi sútil e muito bem produzida.
“I Am Easy To Find” parece, à primeira vista, uma espécie de continuação de “Trouble Will Find Me” de 2013, como o nome e a capa sugerem. Mas na verdade, nada tem a ver. “I Am Easy to Find” é um projeto diferente dos trabalhos usuais da banda. Feito em conjunto com o diretor Mike Mills, um curta baseado nas musicas do disco foi lançado paralelamente, poucos dias antes do lançamento do disco em si.
Pra ser sincero, eu não sei muito sobre, e também não tenho interesse pelo curta; mas desde o anúncio, tive minhas dúvidas, esse tipo de projeto certamente não combina com a diretriz e ambição da banda. Matt Berninger, vocalista, falou de forma bem-humorada que não tinham muita certeza do que estavam fazendo durante as gravações, não sabiam como seria a recepção, e tinham dúvidas se o projeto não acabaria sendo um pouco piegas demais.
Apesar dos pesares, eu estava ansioso, afinal, desde quando comecei a acompanhar e tomei gosto pela banda ela nunca me decepcionou, sempre entregando projetos consistentes e bem feitos. Mas esse não é um álbum comum, é ambicioso, grande, massivo... maçante. Com 16 músicas e mais de uma hora de música, música que não só parece como grande parte é, sobra do último álbum de estúdio da banda, “Sleep Well Beast”, de 2017.
E bem, aquelas músicas ficaram de fora por alguma razão, majoritariamente não tem a inspiração costumeira das composições de Matt e Aaron. Alguns versos conhecidos aqui e ali, a pulsante “You Had Your Soul With You” dá um cartão de visitas justo e animador; uma ótima canção que também foi o primeiro single de divulgação. Algumas inovações aqui, como de praxe, colagens de guitarra abrem a música com entusiasmo, e conta também com participações de vocais femininos acompanhando a voz grave de Matt.
O backing vocal feminino é recorrente até demais, é interessante no começo, mas depois de um tempo: exagerado e antiquado. Em alguns cortes, a voz de Matt oferece seu lugar de primeiro plano de bom grado para os vocais femininos tomarem lugar. Tem sucesso em alguns momentos, como na instrumental “Her Father In The Pool”, onde o coro feminino acapela conta com Sharon Van Etten, e é um belíssimo momento de calmaria. E na lindíssima “Oblivions” canção de amor que conta com as duas perspectivas, masculina e feminina.
Mas também funciona muito mal, como... bom, no resto do álbum. Momentos de tédio no segundo lado do disco são mais comuns do que highlights. A já conhecida dos fãs “Rylan” nos traz o alivio de uma ótima canção, perdida entre uma sequencias de tenebrosas tentativas de soar profundo, mas acaba apenas morrendo no enjoado. “So Far So Fast” é um retrato do lado b do projeto, arrastado, lento, sem sal; lado que é salvo pela bem desenvolvida “Rylan” e pela música de encerramento “Light Years” que é um dos raros momentos onde a banda acerta a mão na mistura de delicadeza e inovação.
I Am Easy To Find não é odiável, os instrumentos são bonitos, não há nada de errado com a produção das músicas, os timbres são carismáticos e não diferem dos timbres utilizados no último álbum da banda. O problema capital do projeto é a falta de inspiração nas composições requentadas dos últimos projetos da banda; o excesso de ambição não pagou, e esse é minha grande decepção de 2019 até agora.