Crítica | MJ Lenderman - Manning Fireworks

É engraçado pensar nas relações sociais de hoje e notar como todos tentam parecer mais do que são.

Precisamos saber a passagem de tal livro, ter visto tal filme (sem esquecer de escrever uma crítica com palavras que nem conhecíamos há meia hora atrás no letterboxd). Precisamos ouvir tal álbum e nos vestir como Jacob Elordi. É tanta necessidade de querer mais, estar a frente, começar o assunto, ter algo a dizer.

Mas quem, de verdade, tem algo interessante a dizer?


MJ Lenderman canta com tamanha falta de empolgação que parece que eu sou seu único espectador em um salão inteiramente feito de madeira onde, madrugada a dentro, o último garçom do recinto já adormeceu sobre uma das várias mesas cobertas de poeira. Mas não é porque falta virtude em sua performance que ele não gostaria de estar ali. Na verdade, sinto que ninguém precisaria estar presente para MJ Lenderman estar se apresentando.

Ele é um contador de histórias tão patético e simplista que a autenticidade salta pra fora do janelas. É o tipo de cara que ri das próprias piadas, que romantiza sua ressaca em Rip Thorn e que uiva pra lua em Bark at the Moon. E é através dessa falta de compromisso com a cultura da provação que ele vai conquistando aqueles que não aguentam mais essa dinâmica.

Além disso, é inegavelmente atraente sua semelhança com Neil Young no que tange a energia de coitado que ambos emanam. Veja, por exemplo, a necessidade constante de ser amado, expressada por Young em Old Man (“Old man, take a look at my life, I'm a lot like you; I need someone to love me the whole day through”), e a necessidade de ser requisitado por Lenderman em TV Dinners (“Yeah, you know I love my TV, But all I really wanna see, is see you need me”).

O verbo precisar (need), presente nas duas canções, corrobora ainda mais essa energia passiva do eu lírico em relação a própria vida. Da mesma forma, os arranjos instrumentais são geralmente contidos em intensidade e complexidade (exceto quando as guitarras se agitam em Wristwatch e On My Knees, evocando a consciência de sua própria solitude).

She’s leaving you
(It falls apart, we all got work to do)
She’s leaving you
(It gets dark, we all got work to do)
— She's Leaving You, MJ LENDERMAN

Mas diferente de Young e outras figuras do Folk/Country Norte-americano, esses eventos não parecem machucar Lenderman mais do que, no máximo, 3 minutos, ou até a próxima melodia ecoar pelo salão. Em She’s Leaving You, “ela” o deixa, as coisas desmoronam, e isso deve ser rapidamente superado, pois todos temos que trabalhar no outro dia.


Figurativamente, MJ Lenderman parece ter três melhores amigos (e não estou falando das três figuras idiossincráticas na capa do álbum). São eles: seu relógio (nesse caso um smartwatch), sua guitarra, e seus pensamentos. Todos testemunham e reforçam - de maneiras diferentes - o quão sozinho ele é, mas isso não o abala. Ele é o anti-herói moderno do Folk Coitadista e, por isso, nunca considerei abandonar sua apresentação.

Não quero que suas músicas acabem. mas como penso que gostaria de me juntar a ele para tomar uma cerveja e fumar um cigarro, rir de suas anedotas e prestar atenção no que ele tem a dizer nessa sua constante celebração modesta da solidão cotidiana.


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